sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
UM RELATO INESPERADO
De início, sem nenhuma ideia pré-concebida fui assaltado por um ambiente diferente que se mostrava persistente, com sons, cores e fortes impressões emocionais. As balas de canhão singravam os ares caindo sobre as rústicas construções de madeira, não sei onde estava, nem que ano era aquele, mas me parece que soldados atacavam uma pequena fortificação em ambiente descampado. Certamente estamos entre os séculos XVI e XVII, pois as armas e roupas eram facilmente identificáveis.
Vamos ao relato:
Quem eram aquelas pessoas que lançavam suas armas sobre nós. Fomos pegos de surpresa, levantei-me ainda atordoado. E foi por pouco, pois bastou ultrapassar o umbral da porta de nosso alojamento e tudo desmoronou com o peso da pesada bala de canhão que caia dos céus. Sem camisa, ainda tentando prender a espada a cintura corri para o pátio procurando compreender o que acontecia. Vi os homens correndo atordoados assim como eu, sem saber o que estava acontecendo. Alguns gritavam:
- Estamos sob ataque, as armas, as armas!!!
Logo as primeiras fumaças surgiam, e nossos alojamentos incendiavam rapidamente. O que acontecia? Quem nós atacava? Não tínhamos a menor ideia. Fora um fim inevitável, não havia como revidar. Pegos de surpresa caímos sem capacidade de responder ao ataque. Os sobreviventes foram facilmente feito prisioneiros. Alguns executados, outros que poderiam ser uteis serviam de guia e permaneciam vivos enquanto mantivessem a utilidade. Os nativos estavam com eles. Raça vil, diziam os homens, pois mudavam de lado, e faziam alianças com muitos ao mesmo tempo, tudo dependia da situação mais vantajosa. A ilusão do conquistador, nós que ali estávamos como invasores não éramos tão vis como esses nativos? Não havíamos os enganado e abusado para receber vantagens igualmente?
Isso não importava mais, estava tudo acabado, ao menos para mim. Meus anos de serviço militar a coroa havia felizmente terminado. Estava cansado de viver entre selvagens e mosquitos, sem o menor conforto. Isso não era a vida de aventuras e triunfos que nos haviam prometido. Ah... juventude e suas ilusões, como somos facilmente convencidos a assumir posições que mais tarde se mostram desfavoráveis.
Minha situação depois daquele ataque? Não sei muito bem o que se passou, estive de volta a Europa, revi minha cidade, mas completamente transformada, irreconhecível na verdade. Não foi fácil. Acreditei ter enlouquecido, talvez houvesse contraído alguma doença naquele mundo primitivo. Não fora homem letrado, mal sabia ler e escrever, o que por pouco que fosse me permitiu tomar posição de oficial de pequena patente no exercito de sua majestade.
Estive vagando, em outras terras, com outras formas, fui soldado, fui mendigo, tudo se confunde em minhas lembranças. Não sei exatamente porque me trazem até aqui, qual a intenção de me fazer falar dessa maneira. Recordações que me pareciam perdidas para sempre ressurgem e me atormentam, processo desagradável e inoportuno. Não quero lembrar, não quero saber sobre meu passado. Deixe-me esquecer! Deixe-me esquecer! Que tormenta se abate sobre o homem que não o permite esconder de si mesmo os resquícios negros que guarda e carrega em sua própria alma.
Minha cabeça dói, não a dor física de um pequeno mal, nem tão pouco a dor passageira de uma pancada fatal, dói pelo tormento do passado que ressurge afrontando minha tranquilidade, me perturbando sem paz. Eu que imaginava que todos os meus atos reprováveis haviam sido esquecidos juntamente com minha memória confusa.
Vejo que não, vejo que tudo ressurge, e lamento profundamente o dia que aqui pus meus pés. Neste solo ignoto, terra de minha perdição, que somente mal fez eclodir de minha alma. Que importa os infortúnios de selvagens? Que importa as mortes e abusos? Diziam que estes seres primitivos não tinham almas, haviam sido concebidos por Deus para servir o homem civilizado. Haviam nos garantido isso, era a opinião da Igreja! Não podem me inculpar se errei sob a tutela dos padres.
Esses vermes de batina. Classe de covardes hipócritas. Valiam-se de sua influência moral para enredar os ignorantes em suas armadilhas. Não eram melhores do que os soldados, mais mal do que nós faziam eles com suas tramas ardis.
O que mais querem que eu fale? Deixem-me em paz com minha insignificância! Já não pago o suficiente com minha indigência pelas ruas? Querem também minha alma, pois de mim já retiraram o orgulho e a mínima condição de subsistir. Quem são vocês monstros mascarados? Justiceiros dos infernos que vieram atormentar minha alma? Deixem-me em paz, deixem-me em paz!!!!
O espírito caiu em lágrimas. Não estava arrependido de nada. Enrodilhado em uma complexa trama de vários séculos, precisava trazer a tona alguns episódios do passado para dar prosseguimento ao seu processo de amadurecimento íntimo. Estamos ante um quadro comum na história do Brasil colonial, onde as monarquias europeias aqui disputavam as riquezas, explorando com amplo apoio da Igreja a vida nativa, usufruindo da vida do índio e, posteriormente, de negros africanos. Entretanto, não se faz aqui o julgamento de caso, pois não há inocentes nem culpados, se esses vários espíritos continuam vinculados a essa fantástica trama é porque encontraram motivações particulares para assim fazer. É o quadro típico da vingança que se arrasta por gerações, onde a vítima de um dia vira algoz no dia seguinte. O que fazer com esses irmãos? Rezar e esperar que o tempo cumpra sua missão. Haverá um dia em que recobrarão os sentidos e poderão ver a vida sem as amarras do egoísmo, e somente então estarão prontos para recordar o passado e amadurecer com o esforço para construir o próprio amadurecimento moral.
25/12/2013
domingo, 15 de dezembro de 2013
ENTRE MÉDIUNS: NOVAS FRONTEIRAS DA PESQUISA MEDIÚNICA
ENTRE MÉDIUNS: NOVAS FRONTEIRAS DA PESQUISA MEDIÚNICA
Julie Beischel, PhD
Acabei de ler o livro "Among Mediuns: a Scientist's Quest for Anwers" (Entre Médiuns: Uma Busca Científica por Respostas", escrito pela Doutora Julie Beischel, doutora em Farmacologia e Toxicologia na Universidade do Arizona - EUA. O livro foi publicado apenas como e-book, em língua inglesa, e pode ser facilmente adquirido no site da Amazon, e custou apenas R$ 10,15 (dez reais e quinze centavos!)
É um relato, quase uma conversa que ela faz com o leitor, apresentando sua trajetória e as principais linhas de pesquisa com médiuns realizadas no Windbridge Institute, organização que ela fundou com outros pesquisadores para dedicar-se ao entendimento da mediunidade.
Minha leitura carrega sempre alguns olhares: a do professor-pesquisador, a do espírita, a do médium, a do humanista. Posso não concordar com tudo o que ela pensa e diz, mas saí muito favoravelmente impressionado com o trabalho dela.
Beischel dividiu as pesquisas em três grandes programas: o programa de pesquisas de informação (que informações trazem as mensagens mediúnicas?), o programa de pesquisas de operação (o que sentem e vivenciam, como modificam os organismos e qual é a psicologia dos médiuns durante o transe?) e o programa de pesquisas de aplicação (uso da mediunidade no tratamento do luto/melancolia, no apoio às investigações policiais, entre outros).
Do ponto de vista metodológico, chama a atenção a inteligência do design experimental usado nas pesquisas. Ao criar instâncias entre o médium e o consulente, além de nunca permitir o contato direto destes, ela conseguiu fazer avançar um tema que se encontrava "travado" desde a pesquisa de Rhine e as oposições dos céticos, e inovou ao desenvolver métodos para verificar a qualidade das informações fornecidas pelos médiuns, praticamente anulando hipóteses como cold readings e outras usadas para justificar os acertos realizados por eles.
Um dos capítulos que me emocionou foi o das aplicações, especialmente quando ela fala do luto/melancolia. Julie cita alguns casos de pessoas que reescreveram seu script de vida após receberem uma comunicação mediúnica de afetos que já se foram. Ela diz que se a indústria farmacêutica tivesse um remédio de efeito tão imediato sobre o luto, seu inventor já teria ficado rico e notório.
O capítulo das pesquisas fenomenológicas, fisiológicas e psicológicas da mediunidade também é um primor. Ela se refere aos estudos de personalidade dos médiuns (na amostra dela, das médiuns), usando o MTBI (Inventário de Tipos Psicológicos Myers-Briggs), por exemplo, que classifica as pessoas segundo a proposta de tipos psicológicos de Jung. 83% dos médiuns foram classificados com a díade de tipos intuição-sentimento.
Este é um livro cuja tradução faria sucesso e causaria alguma polêmica em nosso meio. Quem sabe não conseguimos autorização da fundadora do Windbridge Institute para traduzi-lo para o português?
Fonte: Jader Sampaio, em http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Porque os livros espíritas andam tão ruins?
A literatura espírita tem feito despontar alguns questionamentos muito oportunos entre os companheiros espíritas mais lúcidos, que realmente aprofundam as reflexões sem a intenção de apenas criticar (destruir) algo. Um dos questionamentos mais frequentes é com relação a qualidade da escrita dos espíritos, e aqui começa a confusão.
Precisamos em primeiro lugar compreender que nem todo espírito é espírita, diriamos mais, apesar de desencarnados a minoria desses espíritos professa os conceitos e enunciados defendidos pela doutrina de Allan Kardec. Um número um pouco maior se alinha com os conceitos espiritualistas, que são mais amplos, mas a imensa maioria dos espíritos não é espírita, continuam seguindo as inclinações que possuiam enquanto encarnados. Desfeito esse primeiro equívoco, que visa estimular o leitor a reconhecer, ou procurar meios de fazê-lo, o livro espírito através de seu conteúdo, podemos dar continuidade a nossa reflexão.
Uma segunda questão, de análise um pouco mais complexa, é a questão da autoria espiritual. Como é possível que famosos escritores do passado tenham desaprendido a escrever? Porque a qualidade das narrativas, por vezes, tende a níveis pífios quanto a construção dos personagens, descrições de ambientes, estados psicológicos, etc? Será que esses autores espirituais desaprenderam a escrever? Essas indagações nos fazem refletir sobre outras questões, não menos complexas. Essa é a grande questão do Espiritismo, não afirmar verdade, mas provocar a reflexão, análisar o contexto dos fatos.
Um espírito, que quando encarnado fosse tido por um erudito no campo das letras é fácilmente reconhecido por seus fãs através da análise de suas características de escrita. Esse é um primeiro ponto que deve ser levado em conta. Temos evidências nesse sentido analisando a obra? O espírito desencarnado ele não iria desapreender a escrever, pode haver uma mudança de estilo, como acontece tantas vezes entre escritores e pintores, que passam por novas fases de inspiração e temas. Isso é perfeitamente aceitável, o seria em vida, porque não em morte, já que a vida prossegue seu curso do lado de lá? Porém, como explicar que espíritos conhecidos no meio espírita, escrevam com diferentes intermediários e não consigamos encontrar essas tais características literárias? E pior ainda, as vezes, os médiuns sabedores disso ainda justificam essa falta de talento pelo progresso que o espírito haveria alcançado no mundo espiritual. Aí um pouco de exagero e ingenuidade das partes, quando não houver completa cegueira dos envolvidos ao afirmar algo assim. Pois, nenhuma criatura que soube escrever com maestria, que dava vida aos seus personagens nos fazendo suspirar a cada página será fadado a completa falta de talento que vemos por aí desfilando nas páginas “psicografadas”. Outros questionamentos se impõem nessa situação.
Ao invés de expor-se dessa forma, seria prudente ao médium que se protegesse por detrás de um nome desconhecido. Qual a necessidade de se autoafirmar com uma assinatura conhecida no meio espírita? Antes de se enaltecer atrai para si críticas e desconfiança. O médium deve estar muito seguro do que faz nesse aspecto. Se a falta de talento não advém do escritor desencarnados que desaprendeu a escrever de onde provêm? Não devemos condenar o médium, pois sabemos que o processo de escrita mediunica é complexo e exige muito dos envolvidos e nem todos os participantes conseguem alcançar o nível que as mentes mais críticas considerariam adequado em uma avaliação literária. Cabe ao intermediário dos espíritos se preparar melhor, estudar, ler, aprender a escrever, pois psicografar não é apenas escolher uma dia e hora e sentar com um lápis na mão. É um estado constante de dedicação e aprimoramento. E em tempos onde impera a mediunidade intuitiva e inspirada, com a participação maior dos médiuns em fenômenos conscientes, cresce a responsabilidade no processo da escrita.
Podemos ainda levantar a questão econômica, pois o livro rotulado espírita é um interessante produto para o mercado editorial. A sanha por novas publicações faz crescer os equívocos. Livros não espíritas são vendidos com esse rótulo, autores que passam distante dos conceitos mais básicos da Doutrina dos Espíritos enchem de livros as bibliotecas dos centros espíritas. E onde está o responsável? É a editora, o médium, ou o espírito? É o leitor que não está capacitado para fazer uma analise mais profunda do material que tem em mãos, são os agrupamentos espíritas que não capacitam seus adeptos a uma visão reflexiva daquilo que escutam, é por último uma falência geral do Espiritismo em sua capacidade de esclarecer sendo mal explorada. As pessoas temem o questinamento, a dúvida. Ainda vivemos presos aos hábitos de aceitar toda opinião como verdade, sem reflexão, sem nos dar ao direito de pensar diferente. E o Espiritismo bem compreendido é exatamente isso, nunca se falou em Espiritismo que todos deveriamos pensar exatamente da mesma forma. Isso é um absurdo! Um retrocesso! Esses são alguns dos fatores responsáveis que podemos facilmente citar.
E porque existem obras fantásticas melhor construídas do que livros espíritas que deveriam refletir fatos reais do passado?
Tudo é uma questão de gosto, um autor não muda simplesmente por ter desencarnado. Já devem ter lido J. W. Rochester com a medium russa Wera K., pois bem, ao mesmo tempo em que obras ganharam prêmio pela excelência em retratar o contexto de sociedade antigas, inclusive obras condecoradas em academias de ciências, ele dedicou várias obras ao ocultismo e história fantásticas. Se tratava do mesmo médium e o do mesmo espírito, é possível perceber caracteristicas de sua literatura nas obras de ambos estilos. Qual a resposta para isso? Ele simplesmente gostava de escrever sobre esse tipo de tema. É um retrocesso? Não, longe disso. Rochester, através de Wera Krijanoviskaia é uma das melhores representações do fenômenos mediúnico que já tivemos, seus romances são muito bem construídos na questão do envolvimento do leitor com a história. São todas as suas obras espíritas? Não, mas não significa que sejam de má qualidade. Ou estamos aqui fazendo proselitismo e afirmando que apenas o Espiritismo salva o espírito humano?
A mesma coisa deve ocorrer com o autor de histórias fantásticas, eles são bons no que fazem, e a prática leva a perfeição em qualquer campo de atividades humanas, desencarnados certamente vão buscar seus afins para seguir inspirando outros a fazer o que gostam. Eles reencarnam, seguem na literatura, mudam um pouco de estilo, convivem em outras sociedade com novos valores, demoram a encontrar aquilo onde realmente se sentem confortáveis, onde tem talento, mas tendem a manter a essência de seus gostos. As mudanças na personalidade humana são muito mais lentas do que supomos, e salvo raros choques emocionais, tendemos a ter nossas experiências não muito distantes de nossa identificação mais íntima.
Deixemos as histórias fantasticas de lado, citemos, por exemplo, o marquês de Sade, e suas histórias eróticas, a riqueza de detalhes desse genero de autores, por vezes, pode ser classifica como fantástica, a descrição da sanha sexual de seus personagens nos descrevem seres que parecem se materializar diante de nós através da força do pensamento do leitor. Como se os personagens ganhassem vida antes nossos olhos. Não deixam de ter talento pelo fato de se dedicarem a uma literatura menos nobre. Agora imagine que esses autores, vão desencarnar e reencarnar inumeras vezes, vão amadurecer aos poucos, bem lentamente mesmo, inspirando uns aos outros durante todo esse processo. Chegará um dia em que fatigados mudarão de tema, terão saturado suas próprias forças e necessitarão, sentirão um anseio incontrolável por uma mudança de ares. Talvez fiquem algumas existências encarnando entre analfabetos, impondo uma limitação a si mesmos, com medo de recair em velhos erros. Até que mais seguros de suas próprias vontades, poderão, quem sabe, se dedicar ao uma forma mais elevada de literatura, talvez a literatura fantástica, ou seja o que for. Podemos inspirar o bem de muitas formas, mesmo através dos contos de fada, e na situação que abordamos seria um enorme progresso para o espírito em questão. Esses espíritos trarão consigo todo o talento lapidado ao longo do tempo, mais maduro e equilibrado, pois ao ser humano só resta progredir.
Aos médiuns das más obras de hoje em dia só resta melhorar, pois é isso que o futuro nos lega, nesse aspecto não temos alternativas. De tanto praticar o escritor medíocre de hoje será o mestre de amanhã, com suas prórias características e estilos. Ainda lembro quando comecei a escrever a obra “ Do século das Luzes” em que ouvia ao meu lado um paciente professor que me pedia para desenvolver melhor os personagens e tentar viver o ambiente que descrevia para dar vida a narrativa. Estamos todos aprendendo.
Leiam, sem dúvida uma de nossas melhores alternativas.
domingo, 13 de outubro de 2013
EMANCIPAÇÃO DA ALMA
Muito em breve um novo romance entitulado “O Testemunho dos Sábios” estará publicado e disponível para os leitores. Enquanto isso, buscamos mais um dos nossos antigos textos originais que mantemos em arquivo. Boa leitura e excelente reflexão!
EMANCIPAÇÃO DA ALMA
O MATERIALISTA, QUE NÃO VÊ SENÃO O CORPO E NÃO CONSIDERA A ALMA, NÃO PODE COMPREENDER ESSAS COISAS; MAS O ESPÍRITA, QUE SABE O QUE SE PASSA ALÉM DO TÚMULO, CONHECE O VALOR DO ÚLTIMO PENSAMENTO. ABRANDAI OS ÚLTIMOS SOFRIMENTOS QUANTO ESTEJA EM VÓS; MAS GUARDAI-VOS DE ABREVIAR A VIDA, NÃO FOSSE SENÃO DE UM MINUTO, PORQUE ESSE MINUTO PODE POUPAR MUITAS LÁGRIMAS NO FUTURO.
(SÃO LUIS. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap V, item 28).
Como chegamos à condição de Espíritos?
Que caminhos nós percorremos para chegar ao momento que hoje vivenciamos?
Responder estas questões é o grande dilema das tradições religiosas, apegadas em demasia ao sentido literal dos textos sagrados carregados de simbolismo.
Para a Doutrina Espírita, como preconizada por seu organizador Allan Kardec, que deveria acompanhar o desenvolvimento científico estimulando por sua fez o crescimento moral de seus adeptos e de uma maneira geral de toda a sociedade, tais questionamentos não conseguem embaraçar as convicções espíritas, principalmente naqueles que dedicam algo de seu tempo ao estudo sério e aplicado.
Em consonância com a teoria evolucionista de Darwin e igualmente de Alfred Russel Wallace, a Doutrina Espírita assume a condição evolucionária da individualidade. A idéia de que somos seres em processo continuado de evolução que antes de adquirirmos condições de animar um envoltório humano estagiamos em outros reinos da natureza. A espiritualidade nos fala de um Deus justo e bom, e que sendo assim não condenaria nenhum ser a estagnação eterna, permitindo que todos pudessem se desenvolver. Criar uma criatura condenada à eterna condição de imutabilidade é demonstrar parcialidade e favorecimento, imperfeições que Deus sendo a expressão máxima da perfeição não poderia possuir. Desta forma nos torna impossível não aceitar a condição evolutiva e desenvolvimentista do Ser.
Definindo esta condição, encontramos então um ser humano que não é seu corpo biológico e sim o Espírito que a ele dá forma e vivifica. Até onde nos foi possível conhecer, o Espírito passou pelo processo de desenvolvimento ensaiando o comando infinitesimal, modelando e vivificando outros seres da natureza. A conceituação trazida pelos espíritos da codificação kardequiana nos esclarece que existe uma grande diferença entre os espíritos que estagiam nos reinos inferiores da natureza e os espíritos que animam o ser humano. Em função desta diferença deve-se adotar o termo “princípio inteligente” para aqueles seres que não possuindo capacidade reflexiva encontram-se em desenvolvimento nos reinos vegetal e animal.
Devido a esta falta de capacidade reflexiva sabe-se que os princípios espirituais (inteligentes) que animam os animais mantêm-se vinculados ao corpo quando do momento do descanso físico. O princípio inteligente permanece como que em estado hibernatório durante o sono no corpo orgânico. Porque permanecer na espiritualidade se não haveria capacidade de entendimento da situação? E sem essa capacidade também não haveria responsabilidade que culminasse em necessidades de ressarcimento, anulando assim o complexo de culpa e as crises de consicência.
Através do processo evolutivo o antropóide primitivo foi passando por transformações, desenvolvendo equipagem de maior capacidade para as atividades inteligentes. Na mesma proporção em que seu cérebro desenvolvia-se se aprimorava sua capacidade reflexiva, seu entendimento. Iniciando gradual e lento processo de desvinculação espiritual durante o sono físico. A capacidade subjetiva igualmente foi crescendo e com ela surgiram às primeiras manifestações ritualísticas, que davam conta de representar a capacidade de entendimento dos princípios inteligentes tinham de interpretar o que viam e sonhavam.
Elevando-se a condição hominal, há mais ou menos 30 mil anos, adquiriu o estágio evolutivo em que nos debatemos no presente momento. Em alguns mais rapidamente em outros mais lentamente, foi o princípio inteligente se gabaritando ao status de ser reconhecido como Espírito. Espírito é o ser em sua integralidade dotado da capacidade de refletir sobre sua situação, o contexto em que se encontra inserido, e a capacidade de adaptar-se as mudanças necessárias ao seu progresso. Desta forma o Homem dava o passo definitivo na conquista de sua independência espiritual, muito ainda haveria de trilhar, mas de agora em diante assumia a condição de responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento.
Em condições de compreender diferentes contextos empreende o ser humano maiores vôos na esfera espiritual, regressando com a mente animada por diferentes idéias, despertando a sensibilidade e a idéia de uma vida que transcende a morte do corpo e encontra-se sob a direção de inteligências superiores, muitas vezes representada pela figura de raios, do sol ou da lua.
Ao nos depararmos atualmente com o processo complexo dos sonhos encontramos diferentes explicações que inutilmente tentam dar cabo de esclarecer aquilo que a inteligência humana restringida pelo estrangulamento que a matéria ainda nos impõe não consegue perceber em sua integralidade. Disfunções orgânicas, má alimentação; reflexos emocionais de nossas experiências diárias, ansiedades, preocupações; lembranças de vidas pretéritas; experiências e contatos com o plano espiritual; todas essas opções são possíveis e podem fornecer alguma explicação quanto ao teor de nossas manifestações oníricas. O mais correto seria afirmar que em se tratando de conteúdo dos sonhos ainda estamos muito pouco esclarecidos a respeito, todas as tentativas de explicações levantadas parecem interligarem-se e manifestarem-se em conjunto quando nos recordamos daquilo que vivemos ao dormir. Não nos parece aconselhável estimular apego demasiado sobre aquilo que sonhamos.
Concluímos que somos, pelo desenvolvimento da capacidade intelectiva, capazes de estagiarmos fora do corpo durante o sono físico. Se existe tal possibilidade para onde vamos? Não conseguimos em nosso estágio atual recordar integralmente daquilo que sonhamos, do que podemos ou não ter participado na espiritualidade durante o período de sono, mas nem por isso somos incapazes de deduzir a qualidade de nossas companhias espirituais, basta que prestemos atenção nas sensações que nos preenchem a intimidade ao acordar.
Nosso maquinário físico ainda pouco afeito a possibilidade de intercâmbio espiritual não nos fornece condições de nos apropriarmos das recordações daquilo que experienciamos quando nosso espírito estagia fora do vaso físico. Por tratar-se de uma dimensão diferente, composta igualmente de matéria de constituição diferenciadas existe a impossibilidade da perfeita transmissão de dados entre os mundos. Aquelas pessoas que credenciadas biologicamente a obterem uma maior capacidade de recordações de suas vivências espirituais durante o sono podem ser enquadradas nos fenômenos de desdobramento, por alguns também chamada de viagem astral ou apometria. Aqueles que buscam desenvolver esta faculdade anímica perante os postulados do Espiritismo são médiuns de desdobramento, muitas vezes sendo utilizados por espíritos desencarnados em atividades mediúnicas.
Em O Livro dos Espíritos aprendemos com os espíritos superiores que é graças ao desprendimento espiritual que ocorre durante o descanso físico que espíritos mais desenvolvidos que a média terrestre dispõem-se a encarnar em nosso meio. É no momento do sono que estes companheiros mais elevados buscam respirar na atmosfera mais sutil experiências motivadoras, onde buscam forças para o cumprimento de suas missões, estes momentos constituem-se em “recreio” após longo dia de árduo trabalho.
Uma vez que todos, mesmo que não possamos recordar, por estarmos desfrutando da condição hominal possuímos condições de desfrutar de uma maior liberdade durante o sono físico seria coerente nos admitirmos aprisionados ao corpo?
São inúmeros os casos de pessoas dadas clinicamente como mortas que retornam inexplicavelmente relatando com precisão tudo que se passou durante a cirurgia, o que ouviram e viram. Muitas dessas pessoas ao retornarem de uma experiência de quase morte (EQM) relatavam ter havido passado por um túnel, encontrando pessoas amigas já desencarnadas. Nosso cérebro quando não tendo condições de interpretar aquilo que percebe adapta estas informações por um processo de adoção de características similares em uma comparação. Como representar melhor o deslocamento da consciência para outra dimensão, a dimensão espiritual, do que se aproveitando da imagem de um túnel de luz?
O túnel era a forma subjetiva de interpretar o que viam e ninguém os haviam preparados para compreender. O tempo é inexistente para os espíritos, somos herdeiros da eternidade. Conseguimos captar aquilo que possuímos condições e interpretamos tudo asilados em nossas crenças e culturas.
De uma maneira geral as pessoas que têm uma EQM ou despertam de um processo de coma relatam eventos semelhantes, comprovando a inexistência de um local especial para os crentes de diferentes religiões. Encontramo-nos do outro lado da vida com a realidade que criamos intimamente para nós. Ao retornarmos desta experiência interdimensória recordamos prioritariamente o conteúdo emocional, manifestando-o em conformidade com nosso entendimento.
As diferentes constatações científicas como as dos médicos cientistas, Raymond Moddy Jr., Ken Ring, Elizabeth Kubler Ross[1], que realizaram estudos com pacientes que relatavam EQM despertam na comunidade científica a possibilidade da existência de uma consciência que independe do corpo físico e, portanto sobreviveria a morte do corpo. Tais assertivas assustam enormemente a comunidade materialista que apoiada em suas convicções ortodoxas não vê com bons olhos a possibilidade de perder o status pelos conceitos já formulados, o dogmatismo que levou a ciência a desvincular-se da religião no passado hoje impregna os grandes centros acadêmicos que temem rever suas concepções obsoletas.
A física quântica, com quase cem anos, é pouco difundida devido às resistências dogmáticas e interesses variados. Física e neurologia, aliadas, têm ambas buscado explicar a existência de uma consciência extracorpórea que presidiria as funções inteligentes do Homem. Essa consciência extracorpórea atende sob o nome de Espírito.
EQM e o processo comatoso potencializam o fenômeno de desdobramento do espírito, havendo então a possibilidade do espírito em seu veículo perispiritual observar limitadamente o mundo imaterial que o cerca diuturnamente.
O que mais assusta os céticos materialistas é que os estudos de EQM não nasceram das observações de crentes desta ou daquela religião, surgiram sob a investigação criteriosa de renomados pesquisadores despreocupados com as inclinações religiosas dos pacientes. A existência de diferentes e continuadas pesquisas nas mais diferentes instituições, nos mais diversos países, prenunciam uma mudança de paradigma que inevitavelmente ocorrerá. Esse movimento transformador culminará por constatar a existência de um ser espiritual que se sobrepõe à matéria, que sendo inteligente interage com o mundo físico, e que tem a possibilidade de retornar ao mundo orgânico através da lei biológica da reencarnação, forçando grandes mudanças nas concepções científicas vigentes.
Compreendendo tais alusões, entendendo ter o espírito ascendência sobre seu corpo material, trataremos com maior respeito nossos companheiros em processos comatosos, pois poderão eles estar ao nosso lado, participando ativamente de nossas vidas, encontrando-nos durante os sonhos, dependendo diretamente da relação de carinho que possamos lhes demonstrar para que se sintam motivados a lutar pelo restabelecimento.
Jamais poderemos esquecer que tudo obedece a um prévio planejamento, que muitas vezes participamos destes planejamentos e que cabe a nós, por exercício de nosso livre arbítrio seguirmos com aquilo que acordamos na espiritualidade. Sabemos que os últimos suspiros são as últimas amarras, que partidas, libertam o espírito para a vida na espiritualidade. Que estas amarras não podem ser cortadas pela ação do Homem sob o pressuposto de aliviar a morte, pois os laços devem ser desamarrados e jamais cortados. Qualquer corte brusco que signifique o não esgotamento natural das energias que prendem o espírito ao corpo podem significar um período de maior dor e vinculação ao corpo inerte. Deixemos que os últimos suspiros acendam na mente pela proximidade do desencarne as reflexões apuradas, que nos fazem rever atitudes, perdoar desafetos e valorizar a vida como benção de Deus. Deixemos o espírito refletir quanto ao: podia, devia, porque não fiz, queria que tivesse outra oportunidade. Chegando naturalmente a espiritualidade perceberá que pela graça divina a possibilidade de correção existe e consciente entregar-se-á em executá-la. Deixemos, por fim, que a morte nos transforme porque na maioria das vezes estamos inoperantes para as transformações que a vida nos deseja promover.
François.
25 de junho de 2005.
[1] Apontada pela revista Time como umas das cem maiores cientistas do século XX.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
VAZIO EXISTENCIAL E EXPOSIÇÃO ÍNTIMA
Ao longo do progresso da individualidade o espírito transita por diferentes situações existenciais. Considerando que o desenvolvimento de nossa civilização ainda carece de aprimoramento moral seria natural compreender nossa incapacidade de amar e compreender nossos companheiros de jornada. Essa carência afetiva, que se manifesta de modo generalizado na espécie humana não sofre influência apenas da falta de afeto durante a infância, ela tem origens mais profundas e complexas do que as ciências do comportamento supõem.
Vivemos um período de massificação dos meios de comunicação, nunca antes a exposição da vida pessoal esteve tão em voga. Todos temos facilidades de encontrar um meio de registrar nossa tristeza e aspirações frustradas. Estes episódios têm pululado as redes sociais, e se tornaram tão comuns que é fácil encontrar pessoas relatando abertamente suas desilusões amorosas, escancarando todos os seus complexos e suscetibilidades. Essa exposição de nossa intimidade, que surge como um ato de desequilíbrio, uma fraqueza momentânea escancara toda nossa carência.
Essa mesma carência é um sinal de imaturidade emocional, mas não podemos ser condenados por essa fraqueza por diversas razões. Quando uma individualidade, quer apresente um traço de personalidade nesse sentido ou apenas sofra momentaneamente desse mal, tende a buscar a aprovação alheia, quase como um pedido de socorro, rasga o próprio peito declamando aos quatro cantos o quanto se sente infeliz e frustrado(a). Na mediunidade essa fraqueza tem implicações perigosas, pois faz do médium um alvo de espíritos para fácil manipulação e vamos certamente encontrar interpretes dos espíritos dispostos a tudo fazer para agradar os ouvintes. Seguidamente usa-se uma falsa habilidade mediúnica para explorar e preencher esse vazio com a admiração e aprovação alheia.
Entretanto, nosso objeto de reflexão não é exatamente sobre esse tema. Pretendemos focar na questão dos relacionamentos afetivos. Porque tamanha desilusão? Porque o lamento de inúmeras criaturas que se dizem infelizes no relacionamento afetivo, seja essa relação heterossexual ou homossexual? Onde está o ponto nevrálgico dessa infelicidade?
Passa pela carência? Sim, ela também contribui. Porém, tem relação muito mais intrincada com egoísmo. Que num conjunto de comportamentos equivocados nos fragiliza e não permite avaliar o panorama geral em que nos encontramos e nos faz julgar as coisas com precipitação e imaturidade emocional. Estamos vivendo um período onde a liberdade do indivíduo e as facilidades promovidas pela modernidade vem sendo confundidas com o gozo e adoção de um estilo de vida excessivamente individualista.
Esse individualismo, essa forma mutada de egoísmo, faz com que as pessoas estejam pouco dispostas a alterar seus planos pessoais para incluir neles e, invariavelmente, adaptar-se aos planos de outra pessoa, o que tende a ser à base de um relacionamento afetivo normal. Todo indivíduo quer ter os prazeres de uma relação afetiva sem os deveres e momentos de compreensão que essa mesma situação exige. No mundo real não temos príncipes encantados, nem esposas perfeitas capazes de tudo fazer para agradar. Machismo e feminismo se digladiam medindo forças incapazes de encontrar um ponto de acordo. É preciso compreensão e paciência, pois somos atualmente incapazes de compreender o progresso incutido na relação íntima de um casal para se ter alguma harmonia. Esse exercício promotor do altruísmo e da nossa capacidade de ceder, demonstrando maturidade psicológica, vendo sendo colocado de lado.
Nossa sociedade de jovens incapazes de se relacionar, querendo ver seus desejos atendidos sem para isso nada cederem em contrapartida nos vem inquietando. Estaremos criando uma sociedade excessivamente egoísta formada por indivíduos incapazes do ato de compreensão? Essas questões são muito regionalizadas, mas o modo de vida do mundo moderno muito nos preocupa nesse sentido. Ante esse panorama fica fácil compreender o motivo de tantas criaturas escancararem seu profundo vazio de forma pública. Sequer compreendem que eles mesmos quando se lamentam demonstram que não estão dispostos a se relacionar com outra pessoa, querem ver diante de si o reflexo de suas expectativas, não a realidade. Quase sempre movidos pela imaturidade emocional.
E não é uma questão de solução fácil, pois está entranhada no progresso da individualidade. Que deve amadurecer por esforço próprio e não o fará sem o concurso do tempo. Entretanto, valores como a família e a maternidade precisam ser resgatados com urgência. Já que ninguém avança sem doação de amor. E amar não significa satisfação e prazer, mas entrega, compreensão e doação integral.
Pelo espírito A.
21.08.2013
sábado, 10 de agosto de 2013
O QUE A FÍSICA QUÂNTICA TEM A VER COM O ESPIRITISMO?
Estamos compartilhando o link da entrevista que o físico Alexandre Fontes da Fonseca concedeu ao Correio Fraterno. Respeitando a autoria evitamos copiá-la em nosso blog e remetemos os leitores ao site onde consta a entrevista na íntegra. Boa leitura!
quarta-feira, 31 de julho de 2013
REFLEXÕES SOBRE O SUICÍDIO
Estou revisando antigos textos que temos guardado e que podem ser aproveitados para publicação no Blog. Esse material é original, apesar de ser composto por mais de uma manifestação mediúnica em momentos distintos.
RELEXÕES SOBRE O SUICÍDIO
A INCREDULIDADE, A SIMPLES DÚVIDA SOBRE O FUTURO, AS IDÉIAS MATERIALISTAS, NUMA PALAVRA, SÃO OS MAIORES EXCITANTES AO SUICÍDIO: ELAS DÃO A COVARDIA MORAL.
(ALLAN KARDEC).
“Ao deixarmos este corpo de carne seremos todos relegados ao nada. Com a morte do corpo termina a vida e somos nós condenados à inexistência”.
Esta forma de compreender nossa existência é o fator de motivação de grande parte dos suicídios. Para qualquer pessoa condenada ao sofrimento por suas próprias ações, perpetradas nesta ou em outra existência, parece perfeitamente lógico que se não vislumbre uma esperança de alívio a sua dor abrevie sua estada no mundo material. Porque continuar sofrendo se acabaremos todos do mesmo modo, perguntam-se.
Essa visão tem bastante lógica se encarada sob o ponto de vista materialista. Fortalecidos por assertivas de personalidades conceituadas na sociedade humana, filósofos, cientistas, escritores, aderem facilmente a essa crença que os impele ao suicídio perante as grandes aflições.
Visto por este ângulo poderíamos então concordar com o ato de extinguirmos a própria vida? Poderíamos justificá-lo pela crença no materialismo?
Ainda assim não haveria argumentos plausíveis para o cometimento de tal atitude. A fé sincera das pessoas nesta ou naquela outra forma de interpretar as diversas faces que a vida nos apresenta podem minimizar nossa responsabilidade com relação ao suicídio, mas jamais nos eximirão dessa responsabilidade.
Somos os seres de maior capacidade intelectual habitando no planeta Terra, nos consideramos o topo da escala evolutiva em nosso habitat. Por este mesmo motivo somos dotados da capacidade de reflexão, que nos possibilita apreciar todas as alternativas antes da adoção de qualquer conduta. Precisamos nos aperceber que os demais seres da criação que dividem conosco a morada terrena não possuem a mesma capacidade reflexiva e mesmo assim lutam vigorosamente pela conservação de suas vidas, pois somos dotados ainda do instinto de conservação, de autopreservação. O instinto é a lei de evolução que se encontra registrada em nosso íntimo, e que com a aquisição da faculdade reflexiva pode passar a ser compreendida e estudada dando lugar a racionalização e aos sentimentos. Se até mesmo as plantas, constatado em microvolts, reagem a um ato contra sua existência o que dizer de nós, seres humanos, com relação ao pensamento do suicídio?
Mas não basta afirmarmos que o suicídio não é recomendável ao espírito encarnado, precisamos demonstrar o porquê. É neste aspecto que a Doutrina dos Espíritos se avoluma, pois revela-nos pelos argumentos da razão lúcida os motivos pelos quais as leis divinas têm seu funcionamento ajustado.
Devemos aprender a aceitar somente aquilo que pudermos compreender, adotarmos algo que nos parece inconcebível é professar a inverdade, ao menos uma inverdade íntima. O que enfraqueceria a convicção de qualquer pessoa.
Ao falarmos da individualidade humana é fundamental esclarecermos que cada situação tem suas próprias particularidades, não haverá casos idênticos, mas oportunide de aprendizado, que podem ser comparados e pensados por suas semelhanças levando-nos a valiosas reflexões.
Assim como conhecemos a possibilidade de armazenarmos uma certa quantidade de energia em pequenas peças metálicas que conhecemos como pilhas ou baterias, igualmente possuímos uma forma de energia em nosso corpo. Nossas células são encarregadas de produzir uma forma de energia que enquanto existente mantém um elo de ligação entre o Espírito e o corpo físico. Desde o advento da kirliangrafia, a foto do que os místicos denominam Aura, podemos ter materialmente a comprovação da energia que os Espíritos nos davam conhecimento teórico. Na Doutrina dos Espíritos convencionou-se adotar esta energia pelo nome de ectoplasma (na verdade um termo cunhado pelo metapsiquísta Charles Richet), e sua exteriorização daria formação ao duplo etérico ou corpo elétrico, envoltório, este que faria o papel de uma espécie de “cola” entre o corpo do Espírito e o corpo material.
Ao retirarmos as condições de permanência do Espírito no corpo por ele habitado em função de um dano irreversível dos componentes orgânicos criamos a impossibilidade de manifestação através do veículo corporal. A produção celular de ectoplasma possui uma vida útil programada antes da reencarnação, o fato de impossibilitarmos o uso do corpo pelo suicídio não impede que esta quantidade de energia ectoplásmica continue atuando, enquanto ali estiver, mantendo-nos vinculados ao corpo em putrefação por um tempo mais ou menos longo. Por estarmos envolvidos neste agente energético que nos faculta a manifestação física através do corpo somático continuamos, por reflexo, a sentir as mesmas sensações como se ainda estivéssemos encarnados, e por este motivo acaba-se distanciando de qualquer auxílio por parte de amigos desencarnados, já que continuamos cegos ao mundo espiritual, hipnotizados pelas sensações da matéria.
Vamos a um exemplo para ilustrar melhor o que queremos abordar. A mensagem abaixo foi recebida mediunicamente, ditada por um espírito que se identificou como José:
Na noite de minha alma, sentado na viela escura do desespero contemplava atônitamente e de olhar vazio as parcas estrelas que cintilavam no céu. Mergulhado em angustiantes reflexões divisava os quadros de minha atual existência desfilarem para minha observação.
Vi o dia primeiro em que infantilmente me permiti motivar por alguns amigos a fazer minha estréia nos alcoólicos. Oh, perdição de minha vida! Querendo parecer integrado ao meu grupo de companheiros, temendo sua reprovação, esquecia-me da educação familiar recebida e abusava da bebida. Encontrava no copo minha satisfação.
Em pouco tempo passei também a fumar escondido, no começo para demonstrar o quanto era independente em minha decisões, pelo menos era assim que acreditava. Poucos meses depois estava fumando todos os dias. Por vezes abusava da maconha, mas do que gostava mesmo era de uma rodada em um bar.
Quando completei meus dezoito anos assumi perante minha família o hábito de fumar que até então escondia. Meus pais acreditavam que concedendo a mim o direito por minhas próprias decisões e, com isso tendo eu que arcar com as conseqüências das mesmas, aprenderia a ter responsabilidade por meus próprios atos. Como lamento que assim tenha sido, é certo que me revoltaria se tentassem me regular, mas como uma repreensão, um abrir de olhos, me teria dado o que refletir.
Considerando-me adulto, consciente de minha conduta, abusava das festas e bebedeiras. Minha vida era regada a álcool e sem maturidade me regozijava muito disso. Em uma dessas noites, completamente alcoolizado, tive minha iniciação sexual por estimulo de acompanhantes mais experientes nas noitadas. Com vergonha hoje admito que nem ao menos me recordo do rosto da mulher com quem tive relações, o que dizer de seu nome.
Desperto para a sexualidade, refém dos alcoólicos, fiz de minha vida um antro de perdição. Envolvia-me com tantas mulheres quantas pudesse, mulheres como eu, reféns da sensualidade e dependentes dos mais diversos químicos.
Concluíra a muito custo a escola, precisava trabalhar, até porque queria dinheiro para gastar com liberdade. Meus pais reprovavam minha conduta apesar de preferirem não a perceber. A cada dia mais necessitado do álcool me tornava. Reuniões sociais, festas, somente saciava minha ânsia com bebidas que contivessem álcool. Acostumara-me antes a beber do que a comer. O álcool era me imprescindível.
Passei por rápidos empregos onde não conseguia me firmar mas o dinheiro ganho escoava como água. Atrasava-me, faltava e perturbava sempre os ambientes onde pude encontrar trabalho. Meus pais me toleraram até o instante em que passei a agredi-los, primeiro verbalmente e em seguida extrapolando em agressões físicas. Não havia mais ambiente para mim em família, fui despejado pois me tornara insuportável e perigoso.
Recorri a amigos superficialmente disposto a diminuir meus maus hábitos. Encontrei outro emprego e dividia o aluguel de pequeno apartamento com mais dois jovens.
Um certo dia encontrei uma linda moça pela qual me apaixonei. Seria ela o estimulo para minha transformação, alimentando em mim o desejo de mudança. Após alguns meses de romance nos encontrávamos envolvidos afetivamente como jamais imaginara ser possível. Meu desejo de beber era forte mas sua presença ao meu lado me estimulava a resistir. Encontrei grande alivio nos grupos de apoio a alcoólatras que passei a freqüentar.
Aproximadamente seis meses de namoro haviam me feito um novo homem; envergonhado e sem notícias não havia encontrado coragem para rever minha família, apoiava-me exclusivamente nessa que se fizera minha companheira dedicada.
Fortes complicações orgânicas de um momento para outro passaram a atormentar a saúde daquela em que me apoiava. Definhava rapidamente para meu total desespero. A vida parecia me cobrar pelos desvios do passado, recolhia minha própria inconseqüência. Havia transmitido doença incurável a quem mais amava. Haveria de falecer rapidamente carregando em seu ventre nosso filho com quatro meses de desenvolvimento.
Minha vida havia acabado...
O retorno aos vícios foi imediato, afoguei minhas mágoas com mulheres desconhecidas e sempre alcoolizado. Passei a viver na rua, bebendo toda a espécie de produtos que contivessem em sua composição alcoólicos.
Nada mais me importava...
Saindo de minhas reflexões, totalmente envolvido por interpretações errôneas das circunstâncias que a vida me apresentara, encaminhei-me decididamente ao fim de minha existência. Nesta mesma noite joguei-me ao chão em um viaduto de estrada movimentada. Desejava por fim a minhas aflições com o fim de minha vida.
Atordoado, despertei contemplando a escuridão. Não pude de imediato compreender o que me ocorria. Em profunda prostração, envolto em negra escuridão sentia-me sufocar em pequenino recinto. Angustiava-me a impossibilidade de movimentos, não divisava claridade alguma, não conseguia produzir qualquer ruído. Torturantes alfinetadas pareciam espetar todo meu corpo, produzindo a sensação de pequeninas mordidas.
Na abafada alcova onde permaneci por longo tempo a rememorar e refletir sobre meu tresloucado ato pude divisar os caminhos tortuosos que abracei elegendo como verdadeiros.
Hoje sei que por misericórdia divina, pela intercessão de devotados amigos fui isentado de maiores aflições quando do momento de transição ao mundo dos espíritos. Por crer no nada após a morte do corpo permaneci inconsciente da verdade que me envolvia até o momento em que despertei vinculado ao meu corpo desintegrado no sepulcro da indigência.
Morrera sem nome, desconhecido para o mundo terrestre. Recolhido na rua fui encaminhado a quadrante triste de um pobre cemitério, sem flores, sem lágrimas e sem amigos, na despedida pude fechar meus olhos durante minha inumação para só então acordar meses depois em completa desilusão.
Minhas dores não haviam desaparecido, minha angustia sequer havia me dado trégua. Dei cabo de minha vida por crer no nada, para esconder-me das dores que me assolavam, principalmente de minha própria consciência esmagada sob o peso do remorso. Se assim não fosse, se não houvesse o nada, quando tirei minha vida asilava minúscula esperança de reencontrar no além aquela em que aprendera a me apoiar.
Mas devido a avalanche de enganos que fizeram parte do script de minha existência última acabei por deserdar das conseqüências merecidas dos atos que cultivei com minha conduta ainda encarnado. Quando solicitado pela vida a arcar com o que havia cultivado me neguei ao ressarcimento e fugindo encontrei o peso de minhas responsabilidades na continuidade da vida.
Muito chorei, muito sofri, pois em meu revoltado coração não compreendi tamanha desdita em tão curta existência. Acostumado a creditar ao próximo as aflições vividas custei muito a compreender porque me achava ainda preso ao corpo pútrido que me servira de morada.
Da confusão mental passei a revolta praguejando contra Deus, fiz crescer minha aflição. Somente Deus sabe o que passei, por quanto tempo permaneci neste estado de inanição espiritual.
Quando finalmente, cansado e humilhado ante minhas próprias atitudes vim a compreender que colhera até aquele dia em perfeita consonância com o que havia eu mesmo produzido. Provara até ali as conseqüências de minhas atitudes e pensamentos. Não havia a quem creditar culpa que não fosse a mim mesmo. Foi somente ao assumir total responsabilidade por minha conduta, envolto pelo desespero e cansaço extremos que pude divisar mãos caridosas a me desvencilharem do funesto baú de minha agonia.
Novamente pouco vi, e o que vi não possuía capacidade para compreender. Após longos anos de sofrimento que a mim mesmo infligi me permitem relatar minha experiência para que seja proveitosa no esclarecimento para que outros não necessitem passar pelo que passei.
Para minha maior tristeza ainda não sou digno de rever a portadora do amor pelo qual erradamente tirei minha vida. Mas hoje sei que o único responsável sou eu, e que igualmente cabe a mim o trabalho de construir no mundo sobre os escombros que fiz surgir em meu próprio coração.
Não posso me despedir sem proferir o apelo aos jovens amantes dos gozos fáceis. Jamais deixem de pensar nas conseqüências de seus próprios atos, o retorno das mesmas pode tardar mas nunca deixa de surgir. Acautelem-se antes para não se arrependerem amargamente como eu depois.
Ao corrermos nossos olhos pela emotiva narrativa do companheiro desencarnado poderemos, com a sua permissão, elaborar alguns pareceres reflexivos com relação à situação vivida pelo Espírito do relato acima.
Pela oportunidade da reflexão dispôs de tempo suficiente para analisar as possibilidades que tal ato lhe facultaria, mesmo assim seguiu com seu desiderato, colhendo as conseqüências do mesmo. A reflexão torna-se um agravante, pois nos carrega de remorso quando da constatação do erro levado a cometimento por livre vontade. Precisamos aprender que Deus sendo todo amor e bondade não pune a ninguém, somos nós mesmos que sofremos as conseqüências de nossa própria conduta.
As drogas lícitas, mesmo as consideradas legais perante a lei são agravantes no processo do suicídio não intencional ou inconsciente. Sabemos que o uso de determinada substância nos causa danos ao organismo, mas mesmo assim continuamos a utilizá-los, não queremos acabar com a própria vida, mas acabamos pelos nossos procedimentos diminuindo as condições de durabilidade do equipamento orgânico, o que nos torna suicidas sem a intenção do ato. Igualmente, por abreviarmos as condições físicas do corpo, passaremos para o outro lado com excesso de fluidos ectoplásmicos que nos reterão no corpo até sua remoção por abnegados amigos ou até sua total extinção pela ação do tempo. Isso explica a permanência de um espírito junto ao seu corpo após a morte do mesmo.
Este envolvimento nos fluidos materiais que o ectoplasma nos permite apreciar mesmo após a falência do corpo físico faz com que, devido à impregnação, não tenhamos condições de divisar precisamente o que ocorre conosco na passagem de uma vida a outra, causando-nos atordoamento e confusão mental.
Pelo ato do suicídio, que nós mesmos praticamos, passamos a herdeiros de suas conseqüências. Por haver lesado voluntariamente nosso organismo, que repercute pela ação de nosso pensamento na estrutura molecular do perispírito, necessitamos por intermédio da reencarnação rearranjarmos a estrutura íntima de nosso envoltório de manifestação. No útero materno somos, pela ação da mãe e dos espíritos geneticistas, auxiliados nessa reconstrução, necessitando por vezes de várias tentativas para a formação de um corpo perfeito. Em boa parte das ocasiões quando vemos nascer bebês com má formação, anencéfalos, e portadores de deficiências variadas, estamos apreciando a bondade divina que permite que os suicidas do passado restituam sua capacidade de interação por intermédio da gravidez, através da formação de um novo corpo biológico. Os pais comprometidos de alguma forma com a situação daquele Espírito participam igualmente desta regeneração através da doação da oportunidade em bases de esperança e amor.
Vamos a um outro relato elucidativo:
Lembro quando aqui cheguei, sofrido, arrasado, destruído moralmente. Havia perdido a esperança na vida. Vivia por misericórdia divina, acabei com meu próprio corpo e clamava todos os dias para que Deus acabasse com minha aflição pondo um fim a minha alma.
Lembro emocionado, do dia em que um grupo de pessoas sorrindo aproximaram-se de mim, envoltos em alvas túnicas, que me davam a impressão de estar diante de anjos. Conversaram carinhosamente comigo, e mesmo estando incomunicável me compreendiam. Ainda impossibilitado de mover-me, alimentavam em mim uma esperança que desde muito imaginava aniquilada.
Longo tempo passei me recuperando, e não o fiz por completo, havia prejudicado a mim mesmo demasiadamente. Disseram-me que precisaria receber o tratamento em um novo corpo. Apontavam-me, numa tela, aqueles que seriam meus futuros pais.
Apesar da nova roupagem, identifiquei em meus prováveis genitores os mesmos espíritos pelo qual havia me precipitado ao suicídio. Encontrávamo-nos ligados por grandes conflitos.
Tive muito medo. Havíamo-nos infligidos enormes sofrimentos. Almejava paz, sossego, estava cansado de tanto sofrer. Para mim não existia alternativa. Dependíamos uns dos outros.
Com receio alojei-me junto a aquela que deveria me auxiliar na nova oportunidade reencarnatória. Por quase nove meses suportou ela sem lamentar as atrozes complicações que minha condição lamentável impunham a gestação. Nos momentos de desprendimento da alma percebia-os a me estimular e carinhosamente envolver-me em sua ternura.
Haviam renegado o passado inóspito que nos filiava a amargas recordações. Eu, que me considerava morto para a vida, tinha minhas esperanças alimentadas por aqueles a quem um dia odiei.
Conforme o programa estabelecido, da forma que seria possível pela minha condição, renasci doente, e com poucas horas de vida no mundo físico retornei para onde hoje me encontro, sob os cuidados dos mesmos que me resgataram da primeira vez.
Levei alguns meses na recuperação, assumi minha forma anterior ao reencarne, a estadia com vocês me possibilitou a restauração do corpo que havia intencionalmente mutilado (Trecho da mensagem transmitida pelo Espírito Luis Fernando).
Por estas constatações fica evidente a prejudicial ação abortiva, em qualquer situação, praticada contra a oportunidade regenerativa de irmão nosso. Importante meditarmos sobre o fato de que se hoje apresentamos tendências suicidas, provavelmente no passado assim nos conduzimos, até por uma questão de costumes e crenças, e que igualmente recebemos de Deus a oportunidade do restabelecimento através da reencarnação e que por gratidão não podemos obstaculizar a mesma possibilidade ao próximo.
A Eutanásia, a morte assistida, de maneira semelhante ocasiona um entorpecimento das funções intelectuais do Espírito, que atordoado e prejudicado em sua readaptação retorna ao mundo espiritual. O médico instruído e com a capacidade da reflexão dilatada muito sofrerá sob a ação do remorso próprio ao constatar que retirando a vida de um semelhante seu, mesmo que na melhor das intenções, o prejudicou quando quis fazer o papel de Deus, ao imaginar que poderia determinar o momento da partida. Em muitas ocasiões os medicamentos utilizados para acelerar a morte do paciente é extremamente prejudicial ao desligamento do Espírito junto ao corpo físico, acarretando maiores aflições ao paciente do que se o mesmo houvesse permanecido no corpo por mais alguns dias ou horas.
A feição meiga do Nazareno encontra-se também nas leis divinas, Deus que é todo amor não nos condena, mas alivia. O Espiritismo que propõe-se a restaurar o cristianismo dos primeiros séculos alerta e consola e por seu intermédio podemos arrazoar nas implicações que cada um dos nossos atos pode ter. Somos seres racionais e precisamos nos apropriar desta racionalidade para melhor viver.
A constatação de que a vida não se extingue com a morte do corpo nos motiva a continuar com fé, por que por maior que sejam as nuvens sempre voltará o sol a brilhar. Somos eternos, seres constituídos do amor de Deus que ainda não compreendemos, mas que habita em nós. Estamos aprendendo a nós conscientizar de que assim como o sofrimento decorre de nossos atos a felicidade também, e que tudo depende de nosso empenho e vontade. Deus nos oferta sempre novas oportunidades. Vinde a mim todos vos que estais cansados, que tem fome e frio, que eu vos aliviarei. Eu sou o caminho a verdade e a vida. Ninguém encontrará os céus sem passar por mim. A porta da perdição é larga e estreita a que leva ao seio de meu Pai. Erguei também vossa cruz e segui-me. Fica o convite.
Frei Felipe
17 de abril de 2005.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
OPORTUNISMO MEDIÚNICO
Não estava interessado em escrever texto algum sobre os movimentos populares que acontecem em nosso país. Acho, particularmente, que é uma questão de posicionamento pessoal, que depende da formação e convicção de cada cidadão. E não sou romântico ao ponto de crer em uma mudança brusca e milagrosa da sociedade em que vivemos. Os espíritos, ao menos os sérios e responsáveis pelas palavras que proferem, nos pedem uma mudança de comportamento, como foi a mensagem de Jesus e outros líderes de movimentos de transformações morais. Somos nós que preferimos externalizar tudo, exigindo que os outros mudem. Sabemos, através da história que essas transformações são cíclicas, na medida em que um modelo satura surge um movimento que propõe uma mudança, que não vai muito longe também, o poder muda de mãos, mas trasnformações reais são muito tímidas, pois nós somos limitados como seres humanos. Não vamos ver as pessoas doando o supérfluo para aqueles que nada tem, se fosse assim não existiriam mais órfãos e irmãos nossos morando embaixo de viadutos. Querem que o Estado o faça, mas o Estado nada mais é do que o reflexo de nós mesmos, de nossas convicções enquanto sociedade.
Porém, como afirmamos antes, não temos o interesse de discutir essa situação tão humana, os livros de história o fazem melhor que nós. Então, o que nos levou a escrever? Apesar, de preferir o silêncio sobre o tema, existem momentos que em somos constrangidos a estimular a reflexão. Principalmente, quando pessoas usam os espíritos e a “mediunidade” para avalizar suas próprias convicções pessoais. Isso acontece e muito entre médiuns, em qualquer lugar ou época, sempre foi assim. Nem pensamos em má fé quando tratamos desse assunto, mas em ingenuidade e falta de senso crítico. Por isso, ao invés de reescrevermos um texto sobre o oportunismo mediunico, optamos por republicar um antigo texto de fevereiro de 2010, pois a reflexão segue nesse mesmo sentido.
E tenham certeza que toda mudança começa dentro de nós, não existem meios fáceis de avançar, é preciso esforço e perseverança. Rivalidade e ânimos exaltados ainda são a tônica de nossa sociedade, o que demonstra que ainda estamos distantes daquela sociedade melhor, que timidamente nos permitimos sonhar, mas que sequer temos coragem de implantar dentro de nós. Sem paciência e tolerância nada de duradouro se constrói.
Uma boa reflexão a todos!
NAS TRAGÉDIAS, UMA PRECE!
A cada nova tragédia vinculada pela mídia, seja uma tragédia de proporções mundiais ou dramas particulares, basta que se torne notória nos meios de comunicação para que comecem as enxurradas de comunicações mediúnicas sobre o caso. Já se deram conta disso?
Vamos trabalhar com alguns exemplos e suposições para ver se conseguimos nos entender. Vocês devem estar lembrados dos casos recentes. Tsunami na Ásia, menino arrastado preso ao cinto de segurança do carro furtado, terremoto no Haiti. Só para se restringir a somente alguns casos.
Vamos imaginar agora que também sofremos com o terremoto recente na ilha do Haiti. Somos parte daquela população sofrida, que de uma hora para outra se vê desalojada, sem comida suficiente, sem água potável, sem acesso aos recursos médicos, sem informações precisas, em suma, no completo caos. Agora suponha que em meio a tudo isso você perdeu um ente querido, consegue se imaginar nessa situação? Agora digamos que vai chegar ao seu conhecimento uma mensagem psicografada por algum espírito, que provavelmente não estava trabalhando no atendimento dos muitos necessitados nesse desencarne coletivo, e entre muitas coisas vai afirmar, que foi você mesmo que escolheu passar por todo esse sofrimento. Pois é, foi você que pediu antes de reencarnar, você queria sofrer bastante, passar fome, ter sede, ver sua família morrer, seus amigos e vizinhos desesperados. Sim, a mensagem mediúnica diz que isso faz parte da evolução do planeta. Qual seria sua reação? Espero que você seja educado e não agrida quem lhe deu essa notícia.
Agora imaginemos que você é um espírito muito inteligente, com um coração afeito a caridade e ao serviço ao próximo. Faz alguns anos que você está desencarnado, já está capacitado para auxiliar aos outros. Você vê aquela imensa tragédia, quase 250 mil desencarnados subitamente, além disso todo o caos social provocado com a tragédia, pessoas desaparecidas, sofrendo. E você não tem tempo a perder. Arregaça as mangas e mergulha no trabalho. Você teria tempo de atender um médium, que até pode ter boas intenções, mas que não vê a tragédia com a mesma extensão que você vê? Não há tempo a perder. Você seria aquele espírito que diria que todo o sofrimento foi desejado por essas centenas de milhares de pessoas?
Algumas vezes as pessoas são bem intencionadas, noutras querem somente chamar a atenção e se aproveitam de tragédias para obter um pouco de notoriedade. Na realidade, a Doutrina dos Espíritos não se presta a irresponsabilidades, não devemos tomar as mensagens mediúnicas como sendo sempre verdades absolutas. Nomes conhecidos, não importa se do médium ou do Espírito que assina mensagem, não são sinônimos de veracidade. É preciso sempre se armar de senso crítico. Senso crítico não é intransigência, nem um extremo nem outro. Porém, existem pessoas que aceitam verdadeiros absurdos do ponto de vista intelectual pelo simples fato de que foi uma comunicação assinada por um espírito. O Espiritismo prega a reflexão, a lógica, precisamos pensar para podermos nos considerar espíritas e não simplesmente aceitar as coisas porque alguém disse, porque um espírito disse.
Essa ideia de escolher sofrer me parece um tanto obtusa. Quem quer sofrer levante a mão? Se alguém se manifestou é sério candidato a tratamento psicológico e deve imediatamente procurar algum profissional da área de saúde mental. Evidente que nossa sociedade, como nós mesmos, temos sérios problemas a resolver. Somos muito egoístas, excêntricos, vaidosos, entre outras tantas imperfeições. Porém, se para Deus não existe a falta, também não existe a necessidade da punição, caso contrário, esse Deus que tudo sabe seria um tirano e não a suprema bondade do universo. A questão não é uma punição imposta, mas o fato de que nossas atitudes, do passado ou do presente, tem suas consequências e é inevitável, um dia teremos que arcar com elas, mas daí dizer que escolher todos morrer ao mesmo tempos, sobrecarregando o mundo de trabalho já vai um grande exagero. Pensem comigo, se escolhêssemos todos morrer ao mesmo tempo como ocorre nessas grandes tragédias não estaríamos errando novamente por sermos egoístas? Sim, pois imaginem a carga elevada de trabalho que exigimos da sociedade, da família, dos amigos que sobrevivem, e mesmo da própria espiritualidade? Se fosse verdade que escolhemos, não haveria o incentivo de campanhas para preservação ambiental, nem as organizações sociais que fazem um lindo trabalho de amparo aos mais necessitados. Se o fato é irremediável porque estimular a compreensão? Não faria sentido. A questão é que existe sim alternativas, mas não vamos escapar das consequências de nossos atos, seja como individuo, seja como sociedade.
Não desejo com essas palavras me colocar como uma autoridade, um espírito detentor da única verdade. Não, longe disso, sei bem das minhas limitações para me manter com os pés no chão. Somos livres para crer naquilo que quisermos, mas estimulando a reflexão desejo que os amigos possam lembrar em que pilares está assentado o Espiritismo e ao invés de acolher idéias que mais fazem sofrer seus irmãos que olhem para esses companheiros no auge do sofrimento e que lhes dirijam uma prece, lhes estendam a mão e deixem de lado essa curiosidade ociosa de querer imaginar onde estão os erros do passado. A vida é mais complexa que isso, e nenhuma pessoa tem o direito de invadir a intimidade dos outros, o espírito que fizer isso está sendo no mínimo deselegante. Ao invés de sal nas feridas que nos preocupemos com o balsamo que alivia.
FREI FELIPE
São Leopoldo, 24 de fevereiro de 2010.
Você teria coragem de olhar nos olhos dessas crianças e dizer que elas escolheram passar por isso? Faz algum sentido essa idéia?
terça-feira, 18 de junho de 2013
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
Esse texto de Allan Kardec é bastante atual ao momento pelo qual vive o Brasil, e deixa boa margem para reflexão. Destacamos alguns trechos que julgamos mais oportunos e que merecem maior atenção.
Fonte: Obras Póstumas – Allan Kardec
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
Liberdade, igualdade e fraternidade, três palavras que são por si sós o programa de uma ordem social, que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que representam pudessem receber inteira aplicação. Vejamos os obstáculos que, no estado atual da sociedade, lhes podem ser apresentados e procuraremos os meios de removê-los.
A fraternidade, na rigorosa acepção da palavra, resume todos os deveres do homem para com os semelhantes. Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência; é a caridade evangélica por excelência e a aplicação da máxima "fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam". O oposto constitui a norma do egoísmo. A fraternidade proclama: um por todos e todos por um; o egoísmo perora: cada um para si. Estes dois princípios, sendo a negação um do outro, tanto impedem ao egoísta de ser fraterno como ao avarento de ser generoso e um homem medíocre de chegar às culminâncias de um grande homem. Ora, sendo o egoísmo social, enquanto ele dominar, será impossível a verdadeira fraternidade, querendo a cada um para proveito próprio ou quando muito em proveito de outrem, uma vez que nada perca com isso.
Atenta a sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base; sem ela seriam impossíveis a liberdade e a igualdade reais. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade do conjunto das duas.
Suponhamos uma sociedade de homens assás desinteressados, benévolos e prestativos, para viverem fraternalmente. Entre eles não haverá privilégios e direitos excepcionais, o que destruiria a fraternidade.
Tratar alguém de irmão é tratar de igual para igual, é querer para ele o mesmo que para si. Em um povo de irmãos, a igualdade será a conseqüência dos seus sentimentos, da sua maneira de proceder, e se estabelecerá pela força das coisas.
Qual é, porém, o inimigo da igualdade? O orgulho, que trabalha por ser o primeiro e por dominar; que vive de privilégios e de exceções e que aproveitará a primeira ocasião para destruir a igualdade social, nunca por ele bafejada. Ora, sendo o orgulho uma das chagas sociais, é evidente que nenhuma sociedade terá a igualdade sem arrasar primeiro esta barreira.
A liberdade, já o dissemos, é filha da igualdade e da fraternidade. Falamos da liberdade legal, e não da natural, que é um direito imprescritível de toda a criatura humana, até do selvagem.
Os homens, vivendo como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de recíproca benevolência, praticarão entre si a justiça, não causarão danos e, portanto, nada recearão uns dos outros. A liberdade será inofensiva, porque ninguém abusará, em prejuízo do seu semelhante. Como conseguir que o egoísmo, tudo desejando para si, e o orgulho, que quer tudo dominar, dêem as mãos à liberdade, que os destrona? Nunca o farão, porque a liberdade não tem mais encarniçados inimigos, assim como a igualdade e a fraternidade.
A liberdade pressupõe confiança mútua, mas este sentimento é impossível entre homens, que só têm em vista a sua personalidade e não podendo satisfazer à sua ambição à custa de outrem, vivem em guarda uns contra os outros, sempre receosos de perder o que chamam o seu direito e têm o predomínio como condição da existência; e por isto levantarão barreiras à liberdade e a sufocarão tão depressa encontrem propício ensejo.
Os três princípios são, como já dissemos, solidários entre si e apoiam-se mutuamente. Sem a co-existência deles, o edifício social fica incompleto. A fraternidade, praticada em sua pureza, requer a liberdade e a igualdade, sem as quais não será perfeita. Sem a fraternidade, a liberdade soltará a rédea às más paixões, que correrão sem freio. Com a fraternidade, o homem saberá regular o livre-arbítrio, estará sempre na ordem. Sem ela, usará do livre-arbítrio, sem escrúpulos; serão a licença e a anarquia. É por isso que as mais livres nações são forçadas a por limites à liberdade. A igualdade, sem fraternidade, conduz aos mesmos resultados, porque a igualdade requer liberdade. Sob o pretexto da igualdade, o pequeno abate o grande, para tomar-lhe o lugar, e torna-se tirano por sua vez. Não há senão um deslocamento de despotismo.
Do exposto resulta que deve permanecer na escravidão o povo que não possui ainda o verdadeiro sentimento de fraternidade? Que não têm capacidade para as instituições fundadas sobre os princípios de igualdade e de liberdade? Pensar assim é mais o que cometer um erro, é cometer um absurdo. Nunca se espera que a criança chegue a todo o seu desenvolvimento orgânico para ensiná-la a andar.
Quem é, as mais vezes, o guia ou o tutor dos povos? São homens de idéias grandiosas e generosas dominados pelo amor do progresso, que aproveitam a submissão dos seus inferiores, para neles desenvolver o senso moral e elevá-los pouco a pouco à condição de homens livres? Não; são, quase sempre homens ciosos do seu poder, a cuja ambição outros servem de instrumentos mais inteligentes do que os animais e que por isso, em lugar de emancipá-los, os conservam, quando podem, sob o jugo e na ignorância. Esta ordem de coisas, entretanto, muda por si mesma, sob a irresistível influência do progresso.
A reação é, não raro, violenta e tanto mais terrível quando o sentimento de fraternidade, imprudentemente sufocado, não interpõe o seu poder moderador. A luta é travada entre os que querem arrebatar e os que querem guardar; daí um conflito que se prolonga, às vezes, por séculos. Um equilíbrio fictício por fim se estabelece. As condições melhoram, mas os fundamentos de ordem social não estão firmes, a terra treme debaixo dos pés; porque ainda não é o tempo do reinado da liberdade e da igualdade sob a égide da fraternidade, visto como o orgulho e o egoísmo ainda contrastam com os esforços dos homens de bem.
Vós todos, que sonhais com esta idade de ouro para a humanidade, trabalhai principalmente na construção dos alicerces do edifício; antes de lhes terdes coroado o fastígio, dai-lhe por pedra angular a fraternidade em sua mais pura acepção; mas é preciso saber que, para isto, não basta decretar e inscrever a palavra numa bandeira; é mister que haja o sentimento no fundo dos corações e não seja ele trocado por disposições legislativas. Assim como para fazer frutificar um campo é preciso remover as pedras e arrancar a erva, urge trabalhar sem descanso para remover e arrancar o orgulho e o egoísmo, porque são eles a fonte de todo o mal, o obstáculo real ao reino das coisas boas.
Destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, os mais imperceptíveis vestígios dos tempos da barbaria e dos privilégios, bem como todas as causas, que entretem e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, vícios que são ingeridos, por assim dizer, como o leite, e aspirados por todos os poros na atmosfera social.
Só então os homens compreenderão, os deveres e benefícios da fraternidade, só então se firmarão por si mesmos, sem abalos e sem perigos, os princípios complementares da liberdade e da igualdade. E é possível a destruição do orgulho e do egoísmo? Respondemos alta e formalmente: SIM, porque, do contrário, fixar-se-á um marco eterno ao progresso da humanidade. Que o homem avulta sempre em inteligência, é fato incontestável. Terá chegado ao ponto culminante da sua caminhada por esse caminho? Quem ousaria sustentar tão absurda tese? Progride em moralidade? Para responder a esta pergunta, basta comparar as épocas de um mesmo país. Por que razão alcançará o limite de progresso moral antes que o do intelectual? A sua aspiração para uma ordem superior é o indício da possibilidade de ali chegar. Aos homens do progresso pertence ativar esse movimento pelo estudo e aplicação dos meios mais eficazes.
segunda-feira, 3 de junho de 2013
PROPAGAÇÃO DAS IDÉIAS ESPÍRITAS
Ficamos felizes de constatar o entusiasmo de nossos companheiros encarnados quando após perceber o conteúdo da Doutrina Espírita querem dividi-lo com outros irmãos de caminhada terrena. Esse entusiasmo que serve de combustível as grandes obras precisa, apesar da boa intenção, ser bem refletido antes de colocado em prática.
Não são poucas as vezes que querendo fazer o bem acabamos por nos desviar de rota e nossas ações são mal interpretadas. Devemos guardar conosco o respeito pela crença alheia, pois se nós estamos prontos a ouvir falar de Espiritismo muitas pessoas não o estão. E se não soubermos respeitar a liberdade íntima que cada ser humano possui para crer no que lhe aprouver acabaremos convertendo nossas melhores intenções em uma atitude antipática.
O Espiritismo deve estar disponível, mas não pode adentrar a casa alheia sem ter sido convidado a entrar. É preciso muito bom senso e precisamos respeitar o tempo de cada criatura. Não existe apenas uma verdade no mundo em que vivemos. O mais importante de tudo é a implementação da lei da caridade, a lei do amor, pouco importando a denominação com que esteja revestida.
Certa feita os espíritos aventaram a possibilidade de realizar transmissões televisas para demonstrar as pessoas a veracidade da vida após a morte e todas suas consequências, porém, foram impedidos de fazê-lo. Aqueles que dirigiam a implementação da Doutrina Espírita manifestaram sua preocupação pela conversão em massa. Sem a lenta e aprofundada propagação das idéias que constituem a Doutrina Espírita seus enunciados seriam distorcidos e diferentes seitas surgiram em torno de sua proposta.
O Espiritismo deve libertar consciências e isso só se faz gradualmente através da edificação interior e da dedicação ao estudo. É preciso que os tutores estejam bem preparados e em grande quantidade antes que o Espiritismo torne-se uma realidade unânime, caso contrário, colocaríamos tudo a perder estimulando o fanatismo que advém da ignorância.
Que usemos nossa motivação para aprender e nos tornarmos pessoas melhores e quando surgir alguém em nosso caminho sedento pelo conhecimento que já adquirimos dividir com este em doses generosas, eis a prática da caridade.
E.
14/03/2012.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
quarta-feira, 8 de maio de 2013
"CRIANÇAS ÍNDIGO" E A FALTA DE LÓGICA
Nosso primeiro artigo sobre o tema trouxe algumas dúvidas manifestadas pelos leitores, para evitar emitir apenas nossa opinião particular pareceu interessante se valer do vasto argumento emitido por estudiosos do movimento espírita. Nosso segundo e último artigo sobre o tema foi extraído da Revista Internacional de Espiritismo, as devidas referências encontram-se abaixo:
Publicado por Adésio Alves Machado em 18/1/2008
Bons espíritos são identificados pela prática da justiça, da paz e da fraternidade.
O movimento espírita mostra-se, em muitas ocasiões, muito infantil, invigilante mesmo e esquecido do que tanto apregoou Allan Kardec, "o bom senso encarnado". Disse ele:
"Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espírito bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam; a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. Irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundos inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas, equivalentes a mundos daquela ordem, aos quais levarão os conhecimentos que hajam adquirido, tendo por missão fazê-las avançar.
Substituí-los-ão Espíritos melhores que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade.
A Terra, no dizer dos Espiritos não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas”. (1)
Aí estão, meus irmãos e minhas irmãs, breves palavras do Codificador, extraídas do seu livro A Gênese, mostrando a mecânica da transformação moral desta Humanidade. Vejamos o que existe a respeito das Crianças Índigo e vejamos se coincidem com o afirmado pelo Codificador.
Inicialmente, a existência dessas "crianças" partiu de uma seita norte-americana criada por Lee Carrol, que vende sessões de energização para mudar DNA das pessoas. Portanto onde entra o interesse financeiro apanágio de um povo sempre envolvido com dinheiro ligado às questões espiritualistas, exige, tem de merecer de todos nós o máximo de cuidados.
A verdade é que vamos ferir suscetibilidades, magoar o amor próprio de amigos e companheiros, granjear inimigos gratuitos e atiçar revides apaixonados. Contudo, temos de nos definir: estaremos sempre com a verdade ou com a mentira, defendemos a Doutrina abraçada ou nos tornamos tolerantes num grau que só pede prejudicar a divulgação espírita tudo em nome de uma falsa caridade. Vamos permitir, sem fazer nada em contrário, que a mentira doutrinaria trafegue impune pelos nossos caminhos espiritistas?
O 1º livro best-seller "Crianças lndigo" foi publicado nos EUA em 1999, e no Brasil em 2005. Segundo seus autores entre eles uma vidente de nome Nancy Ann Tappe, "elas", as Crianças índigo, apresentam estas alarmantes características: "Nascem, sentem-se e agem com realeza (...). Conseguem inverter as situações, manipulando ao invés de serem manipuladas, especialmente seus pais (...). Não se relacionam bem com pessoa alguma que não seja igual a elas (...). Algumas têm propensão ao vício, especialmente drogas durante a adolescência".
Meu Deus! Será desta forma que a Espiritualidade Superior irá realizar a transformação moral da Humanidade? Ela teria perdido totalmente o juízo? Nem eu faria tal coisa, quanto mais os Espíritos Superiores, representantes que são de Jesus, o Mestre dos mestres!
Uma vidente de nome Nancy Ann Tappe, supostamente a primeira a reconhecer a aura azul dessas crianças, fez um incrível relato sobre "elas":
"Todas as crianças que mataram colegas de escola (nos EUA isso já se constitui num hábito, desgraçadamente) ou os próprios pais, com as quais pude ter contato, eram índigos. Elas tinham uma visão clara de sua missão, mas algo entrou em seu caminho e elas quiseram se livrar do que imaginavam ser o obstáculo. Trata-se de um novo conceito de sobrevivência. Todos nós possuíamos esse tipo de pensamento macabro quando crianças, mas tínhamos medo de colocá-lo em prática. Já os índigos não têm esse tipo de medo". Perguntamos: com tantos Espíritos sábios e bons no mundo espiritual, Jesus, o Governador do planeta, responsável direto diante de Deus (Nenhuma de minhas ovelhas se perderá) pela sobrevivência e progresso moral/intelectual dos habitantes da Terra, não teria nada melhor para nos oferecer em matéria de orientadores?"
Ora, meus irmãos e minhas irmãs, a fraternidade e a caridade hão de ser sempre a pedra angular da nova humanidade que está sendo construída, ou o Espiritismo não passa de uma doutrina quimérica, oferecendo sonhos e fantasias para todos nós que o abraçamos.
A nova geração que se apodera lentamente da Terra sem estardalhaço, mostrará uma inteligência precoce, o uso natural da razão, juntos à prática do bem e do amor aos mais carentes, não pode ter outras características.
Cada criança que nascer, nessa nova era, não demonstrará propensão ao mal, mas ao bem, será conseqüentemente mais adiantada do que as que aqui já estão.
Acontece que as crianças índigo mostradas pelos autores dos livros que falam sobre "elas", são descritas como revoltadas, agressivas e prepotentes, nada tendo, pois, a ver com os anunciados espíritas descritos aqui na primeira página por AlIan Kardec.
Lee Carrol, um dos autores do livro "Crianças Índigo", é formado em Economia pela universidade da Carolina do Norte. Tudo começou quando um sensitivo (médium) afirmou estar vendo uma entidade extraterrestre junto a ele que se identificou como "Kryon".
Acreditando, inexperiente como deve ser sobre a influência dos Espíritos em nossas vidas (mediunidade), ele começou a "canalizar" (essa a denominação encontrada por ele substituindo o verbo psicografar), como partícipe que é de reuniões num grupo esotérico.
Sua ex-mulher, Jan Taber, o ajudou a criar uma seita própria, o Grupo Iluminação "Kryon", em 1991, aí tendo início, como sabemos muito bem através da Doutrina Espírita, um terrível processo obsessivo.
Os lucros do casal renderam, durante 10 anos, a publicação de 12 livros com as edições traduzidas para 23 línguas, com uma vendagem de um milhão de exemplares.
O Lee CarrolI oferece consultas pagas, conseguindo reunir uma assistência de mais de 3.000 pessoas, lotando caríssimos salões e teatros da Europa e Estados Unidos. Nesses encontros são vendidos, além dos livros, bijuterias, filmes, souvenires. As mensagens de "Kryon" pela internet alcança um público de 20 mil pessoas por dia.
O site oficial da seita dá uma versão sobre a identidade de "Kryon", dizendo que "Ele é o mais evoluído ser de luz a que a Terra jamais teve acesso. Proveniente do “Sol Central”, com a função primordialmente técnica ligada ao 'serviço eletromagnético'. Foi enviado por um grupo de 'Mestres Extrafísicos', chamado 'A Irmandade'. Veio dessa vez para reordenar a 'rede magnética planetária', visando uma série de mudanças magnéticas no eixo da Terra, que se encerrará no ano 2012".
Perguntamos, diante de toda esta baboseira: "Como ficaria Jesus se isso fosse uma verdade, Ele que se acha plenamente definido e devidamente apresentado na pergunta 625 de "O Livro dos Espíritos", como o ser mais perfeito que Deus há enviado à Terra para nos servir de Guia e Modelo?
Mas os absurdos não ficam só nisso, não, vão muito mais além. Vejamos. O "Kryon" afirma que Deus não existe, propondo a idéia panteísta negada peremptoriamente pelo Espiritismo, como se encontra no livro básico nas perguntas 14,15 e 16. Destaquemos, diante da pergunta feita por Kardec, segunda a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo, seriam partes da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria Divindade; ou seja, que pensar da doutrina panteísta, os Espíritos responderam: "Não podendo ser Deus, o homem quer pelo menos ser uma parte der Deus". Irmãos e irmãs, não é exatamente o que esse "Kryon" deseja ser? Assim são todos aqueles que aportam na Terra trazendo suas idiossincrasias religiosas, suas ambições estampadas em suas palavras e comportamento.
Notem mais o que disse o tal "Kryon": "Os seres humanos que vivem na Terra eram anjos muito evoluídos que assinaram um contrato (sic) para vivenciar uma experiência humana no planeta Terra, motivo pelo qual seríamos honrados e celebrados em todo Universo" Disse mais: "A Humanidade atingiu a 'Convergência Harmônica' necessária. Essa experiência é a de vivermos com um nível vibracional rebaixado para a terceira dimensão, sem as memórias ou lembranças de nossa origem divina".
Essa 'Convergência Harmônica", segundo o livro de Lee Carroll, é um conjunto de informações pseudocientíficos que se acham por todo texto sem explicação lógica alguma.
Segundo "Kryon", desde 1987 estariam nascendo crianças com o DNA alterado, que seriam essas "crianças índigo". Existe referência também às crianças cristal.
Acontece, simplesmente, que, cientificamente, nenhuma modificação do DNA transformaria moralmente indivíduo algum. A moral não se acha no corpo, mas no Espírito. Se esse "fantasma Kryon" desconhece essa realidade, que credibilidade pode aspirar, ainda mais a nossa?
Segundo "ele", essa suposta mutação das crianças "as tornarão uma nova raça que irá habitar uma galáxia que está sendo criada a 12 bilhões de anos-luz da Terra". Outra afirmação descabida, bizarra, porque a criação tardia de uma galáxia não tem embasamento científico algum. A Natureza e as suas leis não se enganam.
Para terminar, porque pelo exposto estamos diante de espíritos encarnados e desencarnados num miserável processo obsessivo do qual não sairão com facilidade, o "Kryon" indagado para responder a pergunta assim formulada: "Querido Kryon na Califórnia você nos falou que segurar pílulas na mão pode curar eliminando os possíveis efeitos colaterais. Então, é seguro ficar segurando Prozac?, respondeu: "Seu corpo sabe que substância vocês estão segurando (meu Deus !!!). Portanto, é possível impregnar as propriedades da intenção de usar a substância em suas células. Assim não há efeito colateral de uma droga, por exemplo. Apenas pensem...um frasco de aspirina ou antiácidos durará anos". CHEGA. .'.,.. não é leitor(a)?
E Kardec alertou sobre consultas a serem feitas aos Espíritos: "Os Espíritos sérios sempre respondem com prazer às perguntas que têm por objetivo o bem e os meios de progredirdes, não atendem às fúteis". Disse mais, diante da pergunta "Basta que uma pergunta seja séria para obter uma resposta séria?, o seguinte: “Não; isso depende do Espírito que responde". Kardec insiste: Mas, uma pergunta séria não afasta os Espíritos levianos? Obteve como resposta: "Não é a pergunta que afasta os Espíritos levianos, é o caráter daquele que a formula" (2).
Ah, se o "Kryon", Lee Carroll, Jan Tabler e tantos outros estudassem os livros da Codificação, principalmente O Livro dos Médiuns! Quantos benefícios hauririam!
(1)Livro "A Gênese", autor Allan Kardec, cap.XVIII, página 418 "A Geração nova".
2) Livro "O Livro dos Médiuns", autor Allan Kardec, cap. XXVI, item 288.
Nota: Matéria publicada na Tribuna Espírita, João Pessoa, PB, edição de setembro/outubro de 2007.
*o autor é escritor, palestrante espírita e atua também em programas radiofônicos.
Revista Internacional de Espiritismo - Janeiro de 2008
sábado, 20 de abril de 2013
OS ANIMAIS NA ESPIRITUALIDADE
ESTEJEIS DOTADO DE SENSO CRÍTICO, NÃO AQUELE QUE SE COSTUMA LANÇAR CONTRA OS OUTROS, MAS DAQUELE QUE SALUTARMENTE NOS DESVIA DOS PERCALÇOS E NOS DEMONSTRA OS EQUÍVOCOS ABRAÇADOS.
(FREI FELIPE).
Se ainda encarnados nos dedicamos ao estudo da questão dos animais na espiritualidade nos deparamos com informações confusas e contraditórias e, existem em abundância, reforçando alguns equívocos. Muito grande é o número de médiuns, estudiosos espíritas e de outras correntes espiritualistas, que expõe sua opinião, ou seja, seu modo de compreender, nessa questão sobre o destino dos animais. Infelizmente tais estudos particulares pecam pela falta de profundidade nos questionamentos, o que é natural tendo em vista que nos concentramos muito mais nas questões que nos dizem respeito, que nos pareçam mais interessantes e respondam a nossas indagações e anseios íntimos. Excetuando as obras da codificação, que trata de forma sucinta, mas objetivamente a questão, as demais obras têm caído em um equívoco comum. O equívoco compreensível de se deixar levar pelo apego afetivo aos animais domésticos, que acaba por nos fazer enxergar as coisas como desejamos que fossem e não como realmente são.
Não é o objetivo deste singelo ensaio colocar um ponto definitivo sobre a questão, mas objetivamos com ele demonstrar que a grande maioria das interpretações tem fugido aos ensinos dos espíritos descritos nas obras basilares da Doutrina Espírita. Primeiramente devemos traçar uma diretriz fundamental a nossa reflexão, nos são enfáticos os espíritos responsáveis pela codificação espírita que tanto o espírito, que anima os seres humanos, quanto o princípio inteligente, que anima os animais, tem uma origem comum no que denominam Fluído Universal, ou ainda, Fluído Cósmico Universal.
Afirmam-nos ainda, estes mesmos amigos de mais além, que evoluímos do átomo ao arcanjo, demonstrando que a evolução procede igualmente em todas as esferas. Essa questão é indubitável, haja vista o projeto genoma, que mapeando nossa identificação genética deixou margem para a constatação de nossa gradual e lenta evolução. O que une em uma mesma ramificação todos os seres vivos que conhecemos. Isso quebra qualquer crença em superioridade racial, e mesmo, qualquer ideia de que o ser humano tenha sido uma obra especial da Criação, e isto é fato incontestável.
Na questão 597 do Livro dos Espíritos encontramos: “Há nos animais um princípio independente da matéria, e que sobrevive ao corpo”. Tendo em vista esta afirmação podemos considerar que os animais desencarnados permanecem junto à prole. Os espíritos André Luiz, em sua obra Evolução em dois mundos, e também Emmanuel, em A caminho da luz, destacam que o ser humano primitivo ao desencarnar permanecia jungido à comunidade familiar em que havia tido sua reencarnação, sequer constatavam que seus corpos haviam perecido, seguiam vivendo desejosos da alimentação, do sono, do instinto de sobrevivência, que inclui a perpetuação da espécie. Fica fácil deduzir, por um questão lógica, que não haveria para eles a necessidade de permanecerem desencarnados, já que isso não lhes era proveitoso, viviam quase que maquinalmente, atendendo a instintos, básicos e primitivos.
Nossa capacidade de pensar e sentir foi aos poucos sendo estimulada pelo contato com a matéria, a utilização do circuito cerebral é um impulso neste sentido. Poderíamos dizer, simbolicamente para facilitar a compreensão, que nos emprestam um corpo mais denso até que estejamos em condições de manejar um corpo mais sutil e de maiores possibilidades. E nesse sentido o contato com a matéria é a chave do progresso, por isso sua necessidade é inerente ao processo de amadurecimento psíquico.
Vivendo esta intensa relação com a matéria densa os animais não estão sujeitos a expiações, pois não se destaca neles, como em nós, o livre-arbítrio, progredindo por ação da lei natural de evolução. Os espíritos confirmam isto no que ditaram a Allan Kardec: “A liberdade de ação, de que desfrutam, é limitada pelas suas necessidades.” (Questão 595 de O livro dos Espíritos). Estamos falando de agir instintivamente, o que no ser humano vem ao longo dos milênios sendo elaborado pelas emoções e transformando-se em sentimentos, mais ou menos, refinados, conforme nosso progresso individual.
Na questão 598 afirmam: “Após a morte, a alma dos animais conserva sua individualidade, mas não a consciência de seu eu. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.” Não poderia ser diferente, se nos seres humanos primitivos esta elaboração ainda estava inconclusa não conseguiríamos encontrá-la de modo mais sofisticado nos animais. Como afirmamos anteriormente, a necessidade do contato com a matéria é imprescindível ao desenvolvimento evolutivo.
Essa resposta nos remete a outra reflexão, variadas correntes espiritualistas acreditam que um espírito que animou anteriormente um ser humano poderá voltar em uma próxima reencarnação habitando o corpo de um animal. Tal assertiva está em estrondoso equívoco, fugindo completamente a lógica. Aceitar esta proposição é como querer que todo o Oceano possa ser represado por um copo d’água, ou seja, impossível. O Espírito tem uma elaboração psíquica muito superior a do princípio inteligente. Como nos reportam os espíritos superiores, há entre o ser humano e os animais a mesma distância evolutiva que existe entre os seres humanos e a classe de espíritos puros. Sendo assim, a metempsicose fica completamente descartada.
Voltando ao nosso raciocínio, sem a consciência de si mesmos, a permanência dos animais na espiritualidade se torna infrutífera, posto que não aprendem nada. “O animal após a morte é classificado pelos espíritos a quem incumbe essa tarefa e quase imediatamente utilizado. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas. (LE nº600).” Em O Livro dos Médiuns os espíritos responderam a Kardec quando este perguntou se se poderia evocar o espírito de um animal: “Depois da morte do animal, o princípio inteligente, que estava nele, fica em estado latente; logo é utilizado por certos Espíritos, encarregados desse cuidado, para animar novos seres nos quais continua a obra da sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há Espíritos de animais errantes, mas somente Espíritos humanos. Isso responde à vossa pergunta”.
Estas respostas não devem impressionar os indivíduos dotados de senso crítico, que não aceitam afirmações sem o crivo da razão. Procuramos demonstrar pela lógica que não há dúvidas quanto a esta questão. A dúvida nascente advém da falta de um estudo minucioso e comprometido sobre os temas que nos embalam. Perdemos demasiado tempo em discussões que não nos levam a nada, ao invés, de nos focarmos objetivamente em conhecer nossa própria intimidade visando nortear nossa caminhada evolutiva.
Certamente perguntarão, mas e os relatos romanceados de animais e as descrições mediúnicas a esse respeito? Tudo equívoco? Em sua imensa maioria afirmamos taxativamente que sim. Os espíritos codificadores vão igualmente nesta questão mais adiante quando respondem à pergunta de Kardec, também constando em o Livro dos Médiuns: “Como se dá, então, que certas pessoas tenham evocado animais e obtiveram respostas?”. Ao que respondem: “Evocai um rochedo e ele vos responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos para tomarem a palavra para tudo”.
Podemos supor daí que nunca um princípio inteligente que tenha habitado um animal possa se manifestar? Raramente, seria a resposta mais correta, e não serão por mera curiosidade ou apegos saudosistas que estas manifestações ocorrerão. Renomados cientistas como, William Crookes, Charles Richet, Gustave Geley e outros, se dedicaram ao estudo dos fenômenos psíquicos. Objetivando encontrar bases científicas para tais fenômenos foram auxiliados em seus estudos por Espíritos superiores, mas estes mesmos cientistas não temeram afirmar que muitas das manifestações de ectoplasmia tinham origem nas criações mentais dos médiuns.
Nossa incompreensão com relação aos fenômenos que nos envolvem na condição de observador ativo nos faz cair neste tipo de equívoco. A vinculação afetiva existente entre os seres humanos e seus animais de estimação faz com que impressões psíquicas impregnem o ambiente. André Luiz fala em “plasma divino”, ao que a ciência tradicional vem chamando de “campos mórficos”, que seria a capacidade dos ambientes de registrar as impressões emocionais que nos embalam. O acesso a essas informações se processa pela faculdade mediúnica que a Doutrina Espírita classifica com o nome de Psicometria. Concorrendo com essa alternativa podemos ajuntar os fenômenos ideoplásticos, que são a propriedade do pensamento de movimentar a matéria para fins diversos. Ainda no fenômeno de ideoplastia situamos as criações doentias, como a zooantropia e licantropia.
E os relatos das colônias espirituais, os animais que lá vivem? Mais do que ninguém a direção de tais instituições tem conhecimento da impossibilidade da permanência dos animais para embelezamento de jardins e praças. Haveria completa futilidade se assim procedessem. Como afirmamos ainda a pouco, é o fenômeno ideoplástico que se encarrega destas questões.
Mesmo médiuns sérios e comprometidos com ideais elevados podem cometer esses equívocos de interpretação. Precisamos nos atentar para o fato de que até mesmo para os espíritos desencarnados estas averiguações podem se fazer muito complexas. Se não estivermos imbuídos de um senso crítico racional para nos defrontarmos com os fenômenos mediúnicos é certo que nos equivocaremos muitas vezes, mas isso é natural em um processo de aprendizado. O que importa é estarmos conscientes de nossa falibilidade e possuirmos a humildade de mudar de opinião em constatando o erro. Tudo é racional na obra de Deus, o que nos foge ao raciocínio é consequência de nossas limitações.
Para concluir, podemos igualmente ficar tranquilos com relação a fenômenos obsessivos que possam envolver animais. Devemos deixar de nos imaginar tão importantes ao ponto de conseguir interferir nas engrenagens de uma lei natural retardando ou adiantando a evolução destes princípios inteligentes. Pela falta de conscientização dos princípios inteligentes eles sequer conseguem nos obsidiar como algumas pessoas pensam. Ao estudo meus irmãos, e do estudo ao trabalho, não percamos mais tempo!
Frei Felipe.
São Leopoldo, 05 de julho de 2006.