domingo, 27 de julho de 2014

O PROGRESSO, A LEI DE LIBERDADE E AS REVOLUÇÕES

 

O mundo parece convulsionar tomado pelo radicalismo e conflitos armados em diferentes partes. Em países democráticos vemos a insanidade crescer sob influência de espíritos que não aceitam o que é decidido nas urnas, a revolta é estimulada através da mídia e das redes sociais, alimentando um monstro que atende pela hediondez e tem sanha de ceifar vidas humanas. O que se passa? Onde estão os espíritos capazes de erguer a voz e clamar pelo bom senso e a paz? Não seria esse o papel do Espiritismo?

Nos acostumamos a ouvir através de bocas irresponsáveis e ouvidos pouco experientes de que tudo isso é sinal dos tempos, que o mundo convulsiona em prelúdio a uma grande transformação. Entretanto, quando queremos ver nossa casa limpa e renovada, não aguardamos de braços cruzados, deixando que o pó e as teias de aranha se amontoem. É preciso se engajar, esforçar-se atuando diretamente na limpeza e reforma. Porque fazemos diferente quando se trata do planeta inteiro, algo de muito maior relevância? Existe alguma mudança positiva resultante da inercia e da preguiça?

Alguns desavisados conseguem ir mais além, fazendo apaixonadas citações da tomada da bastilha, querendo argumentar que neste dia o povo tomou o poder dos reis do mundo. Só que esquecem de aprofundar essa visão, não comentam que essa desorganizada revolução levou a França a mais de cinquenta anos de caos. Que a população masculina do país foi praticamente dizimada, nas consequentes guerras que surgiram antes e depois de Napoleão. Que a guilhotina injustamente cortou a cabeça de muitos inocentes, que o rio sena havia dias mudava para a cor vermelha em função do sangue derramado. Será que é esse o tipo de mudança que queremos?

Espíritos imaturos acreditam que toda mudança se obtêm através da violência. É natural para consciências que sequer saíram das sombras pensar assim, ainda não viveram a experiência duradoura de se obter progresso através de um senso comum, de diálogos e negociações. Por isso tantas depredações, linchamentos e o uso de fogo em manifestações e protestos. No fim Deus acaba se valendo de nossas imperfeições para que se avance de qualquer forma, mas poderiam progredir de modo mais eficiente e menos custoso.

Repetir velhos erros históricos não é um sinal de maturidade. O cenário mundial atual nos recorda o prenuncio de conflitos bélicos de larga escala. Esse é preço que desejamos pagar para promover a tão aclamada transformação que os espíritas proclamam aos quatro cantos? Quando somos movidos por convicções sinceras o fazemos com o rosto descoberto, de peito aberto e prontos a defender e viver os ideais que abraçamos. Atualmente estamos prontos a condenar todos, principalmente os espíritos encarnados que carregam o fardo da administração pública, e que invariavelmente arcarão com os erros cometidos posteriormente. Os condenamos, marchamos nas ruas pedindo mudanças, muito justo, mas de que vale pregar no exterior o que não consolidamos sequer dentro de nós. Não existe nisso certa hipocrisia? Nossos dirigentes representam a média moral de nossa população, portanto, o mal, a corrupção, os desvarios do crime não estão concentrados apenas nos altos comandos, mas dentro da intimidade de cada um de nós. E é exatamente aí onde devemos começar a mudar, deixando de pensar de modo egoísta e aprendendo a trabalhar por um bem comum, maior e fraterno. Terceirizar responsabilidades atesta nossa imaturidade. O mundo não irá mudar para melhor sem esse esforço pessoal e intransferível.

Não existe progresso sem esforço, sem trabalho. Supor que o mundo esteja fadado ao progresso não nos inclui nessa transformação, pois muito provavelmente somos os elementos refratários que seremos convidados a se retirar se não tratarmos de nos modificar.

Podemos rezar por uma mudança pacífica, mas nossa omissão e silêncio ante a barbárie também é considerado uma falta. Já que tendo consciência do dever não o colocamos em prática. Nosso silêncio, espíritas, não pode contribuir para a propagação do fanatismo e excesso de violência.

Todos queremos um mundo melhor, mas incitar a revolta não nos levará a essa transformação. Precisamos usar nossa influência para inspirar a tolerância e a paciência, defender mecanismos sociais que promovam o bem sem que resvalem na agressividade de nossos irmãos refratários. É preciso respeitar o direito de todos. Nos transformamos em uma sociedade que recorda sempre que possível de seus próprios direitos, mas esquece quase sempre de seus deveres. Se nós já compreendemos isso, mesmo que de modo incipiente, é nosso dever erguer a voz e clamar pelo bom senso, pela paciência e fraternidade, valores distantes dos noticiários nos dias atuais. Esse é o papel das almas esclarecidas, daqueles que tem consciência de que precisam melhorar e que o seu silêncio é uma deserção.

Estimulemos o amor e compaixão, não alimentemos a revolta nesses espíritos imaturos que tomam as ruas com os rostos escondidos. Nada podemos esperar do crime e da violência. Que a frustração política de uma nação se transforme em um pacto social pelo progresso moral e coletivo, através de instrumentos que a democracia disponibilize. Deixemos de lado a calunia de grupos políticos rivais disputando o poder dos homens e nos concentremos e ser a mudança que queremos ver no mundo a nossa volta.

Um filho da responsabilidade que advêm da liberdade.