Não estava interessado em escrever texto algum sobre os movimentos populares que acontecem em nosso país. Acho, particularmente, que é uma questão de posicionamento pessoal, que depende da formação e convicção de cada cidadão. E não sou romântico ao ponto de crer em uma mudança brusca e milagrosa da sociedade em que vivemos. Os espíritos, ao menos os sérios e responsáveis pelas palavras que proferem, nos pedem uma mudança de comportamento, como foi a mensagem de Jesus e outros líderes de movimentos de transformações morais. Somos nós que preferimos externalizar tudo, exigindo que os outros mudem. Sabemos, através da história que essas transformações são cíclicas, na medida em que um modelo satura surge um movimento que propõe uma mudança, que não vai muito longe também, o poder muda de mãos, mas trasnformações reais são muito tímidas, pois nós somos limitados como seres humanos. Não vamos ver as pessoas doando o supérfluo para aqueles que nada tem, se fosse assim não existiriam mais órfãos e irmãos nossos morando embaixo de viadutos. Querem que o Estado o faça, mas o Estado nada mais é do que o reflexo de nós mesmos, de nossas convicções enquanto sociedade.
Porém, como afirmamos antes, não temos o interesse de discutir essa situação tão humana, os livros de história o fazem melhor que nós. Então, o que nos levou a escrever? Apesar, de preferir o silêncio sobre o tema, existem momentos que em somos constrangidos a estimular a reflexão. Principalmente, quando pessoas usam os espíritos e a “mediunidade” para avalizar suas próprias convicções pessoais. Isso acontece e muito entre médiuns, em qualquer lugar ou época, sempre foi assim. Nem pensamos em má fé quando tratamos desse assunto, mas em ingenuidade e falta de senso crítico. Por isso, ao invés de reescrevermos um texto sobre o oportunismo mediunico, optamos por republicar um antigo texto de fevereiro de 2010, pois a reflexão segue nesse mesmo sentido.
E tenham certeza que toda mudança começa dentro de nós, não existem meios fáceis de avançar, é preciso esforço e perseverança. Rivalidade e ânimos exaltados ainda são a tônica de nossa sociedade, o que demonstra que ainda estamos distantes daquela sociedade melhor, que timidamente nos permitimos sonhar, mas que sequer temos coragem de implantar dentro de nós. Sem paciência e tolerância nada de duradouro se constrói.
Uma boa reflexão a todos!
NAS TRAGÉDIAS, UMA PRECE!
A cada nova tragédia vinculada pela mídia, seja uma tragédia de proporções mundiais ou dramas particulares, basta que se torne notória nos meios de comunicação para que comecem as enxurradas de comunicações mediúnicas sobre o caso. Já se deram conta disso?
Vamos trabalhar com alguns exemplos e suposições para ver se conseguimos nos entender. Vocês devem estar lembrados dos casos recentes. Tsunami na Ásia, menino arrastado preso ao cinto de segurança do carro furtado, terremoto no Haiti. Só para se restringir a somente alguns casos.
Vamos imaginar agora que também sofremos com o terremoto recente na ilha do Haiti. Somos parte daquela população sofrida, que de uma hora para outra se vê desalojada, sem comida suficiente, sem água potável, sem acesso aos recursos médicos, sem informações precisas, em suma, no completo caos. Agora suponha que em meio a tudo isso você perdeu um ente querido, consegue se imaginar nessa situação? Agora digamos que vai chegar ao seu conhecimento uma mensagem psicografada por algum espírito, que provavelmente não estava trabalhando no atendimento dos muitos necessitados nesse desencarne coletivo, e entre muitas coisas vai afirmar, que foi você mesmo que escolheu passar por todo esse sofrimento. Pois é, foi você que pediu antes de reencarnar, você queria sofrer bastante, passar fome, ter sede, ver sua família morrer, seus amigos e vizinhos desesperados. Sim, a mensagem mediúnica diz que isso faz parte da evolução do planeta. Qual seria sua reação? Espero que você seja educado e não agrida quem lhe deu essa notícia.
Agora imaginemos que você é um espírito muito inteligente, com um coração afeito a caridade e ao serviço ao próximo. Faz alguns anos que você está desencarnado, já está capacitado para auxiliar aos outros. Você vê aquela imensa tragédia, quase 250 mil desencarnados subitamente, além disso todo o caos social provocado com a tragédia, pessoas desaparecidas, sofrendo. E você não tem tempo a perder. Arregaça as mangas e mergulha no trabalho. Você teria tempo de atender um médium, que até pode ter boas intenções, mas que não vê a tragédia com a mesma extensão que você vê? Não há tempo a perder. Você seria aquele espírito que diria que todo o sofrimento foi desejado por essas centenas de milhares de pessoas?
Algumas vezes as pessoas são bem intencionadas, noutras querem somente chamar a atenção e se aproveitam de tragédias para obter um pouco de notoriedade. Na realidade, a Doutrina dos Espíritos não se presta a irresponsabilidades, não devemos tomar as mensagens mediúnicas como sendo sempre verdades absolutas. Nomes conhecidos, não importa se do médium ou do Espírito que assina mensagem, não são sinônimos de veracidade. É preciso sempre se armar de senso crítico. Senso crítico não é intransigência, nem um extremo nem outro. Porém, existem pessoas que aceitam verdadeiros absurdos do ponto de vista intelectual pelo simples fato de que foi uma comunicação assinada por um espírito. O Espiritismo prega a reflexão, a lógica, precisamos pensar para podermos nos considerar espíritas e não simplesmente aceitar as coisas porque alguém disse, porque um espírito disse.
Essa ideia de escolher sofrer me parece um tanto obtusa. Quem quer sofrer levante a mão? Se alguém se manifestou é sério candidato a tratamento psicológico e deve imediatamente procurar algum profissional da área de saúde mental. Evidente que nossa sociedade, como nós mesmos, temos sérios problemas a resolver. Somos muito egoístas, excêntricos, vaidosos, entre outras tantas imperfeições. Porém, se para Deus não existe a falta, também não existe a necessidade da punição, caso contrário, esse Deus que tudo sabe seria um tirano e não a suprema bondade do universo. A questão não é uma punição imposta, mas o fato de que nossas atitudes, do passado ou do presente, tem suas consequências e é inevitável, um dia teremos que arcar com elas, mas daí dizer que escolher todos morrer ao mesmo tempos, sobrecarregando o mundo de trabalho já vai um grande exagero. Pensem comigo, se escolhêssemos todos morrer ao mesmo tempo como ocorre nessas grandes tragédias não estaríamos errando novamente por sermos egoístas? Sim, pois imaginem a carga elevada de trabalho que exigimos da sociedade, da família, dos amigos que sobrevivem, e mesmo da própria espiritualidade? Se fosse verdade que escolhemos, não haveria o incentivo de campanhas para preservação ambiental, nem as organizações sociais que fazem um lindo trabalho de amparo aos mais necessitados. Se o fato é irremediável porque estimular a compreensão? Não faria sentido. A questão é que existe sim alternativas, mas não vamos escapar das consequências de nossos atos, seja como individuo, seja como sociedade.
Não desejo com essas palavras me colocar como uma autoridade, um espírito detentor da única verdade. Não, longe disso, sei bem das minhas limitações para me manter com os pés no chão. Somos livres para crer naquilo que quisermos, mas estimulando a reflexão desejo que os amigos possam lembrar em que pilares está assentado o Espiritismo e ao invés de acolher idéias que mais fazem sofrer seus irmãos que olhem para esses companheiros no auge do sofrimento e que lhes dirijam uma prece, lhes estendam a mão e deixem de lado essa curiosidade ociosa de querer imaginar onde estão os erros do passado. A vida é mais complexa que isso, e nenhuma pessoa tem o direito de invadir a intimidade dos outros, o espírito que fizer isso está sendo no mínimo deselegante. Ao invés de sal nas feridas que nos preocupemos com o balsamo que alivia.
FREI FELIPE
São Leopoldo, 24 de fevereiro de 2010.
Você teria coragem de olhar nos olhos dessas crianças e dizer que elas escolheram passar por isso? Faz algum sentido essa idéia?
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