segunda-feira, 25 de junho de 2012

O DESTINO

O Destino é normalmente concebido como uma sucessão de acontecimentos inevitáveis que seguem uma ordem cósmica. Essa crença manifestava-se na mitologia grega, por exemplo, com as MOIRAS e o tear. O fatalismo defendido por diferentes filósofos através dos tempos afirma que existe uma história a ser cumprida e esses fatos são irrevogáveis, independentemente de nossa vontade.

Essa visão reforça um péssimo comportamento humano, o hábito enraizado que temos de nos acomodar. Crer que o futuro está escrito de forma inalterável é um estímulo a falta de vontade em quer mudá-lo. Desde os tempos mais remotos, apegada a superstição e ao comodismo, a humanidade tem se válido de pessoas com dons da adivinhação para buscar sondar aquilo que está oculto. Allan Kardec, tanto em O Livro dos Espíritos, quanto em O Livro dos Médiuns, foi taxativo ao desencorajar os Espíritas as questões alimentadas pela curiosidade vulgar. Entretanto, os espíritas curiosos por saber seu futuro ou passado são a maioria. Podemos compravar pelas inúmeras manifestações nesse sentido que surgem diuturnamente no movimento espírita. Falta de compreensão? Eu diria ser difícil deixar de lado nossa antiga paixão pela crença supersticiosa. Estamos aprendendo, muito devagar, mas estamos.

Afinal, é exatamente a mesma coisa que fizemos com Buda e com Jesus. Ambos inquietavam-se com o sofrimento humano e propunham uma profunda de mudança de comportamento. Se essas duas personalidades ouvissem as histórias que contamos sobre eles sequer se reconheceriam. Por exemplo, Jesus nunca foi Cristo, era apenas Jesus de Nazaré, assim como nasceu nessa cidade e não em Belém. As alterações são oriundas de influência supersticiosa da época e ocorreram após a morte do mesmo. Sempre a superstição e outros interesses mundanos. Buda afirmava convictamente que somos influênciados pelo passado, mas a vontade permanece livre. Continuamos repetindo erros, como o aluno que não consegue aprender.

Se seguissemos a orientação de Allan Kardec de avançar ao lado da ciência deixariamos de usar livros de 200 anos para afirmar questões fora de sintonia com os as comprovações de nossa época. Mais uma vez o comodismo e o velho hábito de idolatrar ícones que pediram para não ser idolatrados. Atualmente uma das teorias da física, proposta por Richard Feyman, afirma que no universo existem todas as histórias. Ou seja, é como o livro em que podemos escolher o destino do personagem principal segundo as escolhas que realizarmos. Não existiria uma opção, mas todas elas.

Até porque no fatalismo, uma vez revelado algo de nosso futuro que não poderiamos alterar sofreriamos a agonia da inexorabilidade. Uma espécie de masoquismo, saber que vamos sofrer, e ter os dias contados para que esse sofrimento nos alcance sem que nada pudessemos fazer. Pareceria uma lei divina de um Ser pautado pelo Amor?

Portanto, na ciência atual a previsão do futuro não é exata, mas estatística, trabalha com probabilidades. As descobertas científicas avançam, a própria ciência bem compreendida é uma forma de religião. Muitas vezes tem maior capacidade de nos aproximar de Deus do que as próprias religiões instituídas obsoletas em suas intransigências e preconceitos.

Vamos a um exemplo de como deveriamos entender uma revelação do futuro sob esse ponto de vista. Imaginemos que um “vidente” afirma que alguém sofrerá um grave acidente de trânsito. E isso realmente aconteceu posteriormente. Como isso é possível?

A pessoa com sensibilidade soube dessa informação por duas vias possiveis, a primeira é de um modo intuitivo, totalmente incosciente de seu verdadeiro funcionamento, a segunda foi através da orinetação espiritual. Imaginemos que um espírito familiar da pessoa que sofreu o acidente estivesse preocupado com a situação que observava, algo perfeitamente natural quando gostamos de alguém e nos preocupamos com o bem-estar dessa pessoa. O espírito desencarnado, se detentor de algum conhecimento, poderia estar ciente do passado dessa pessoa, assim como teria condições de avaliar os estado íntimo do mesmo, seus pensamentos e sentimentos. Vendo na conduta dessa pessoa o hábito de beber e dirigir, acumulado a sensação de invunerabilidade típica da juventude imatura e uma crescente agressividade, percebeu que a propabilidade de ocorrer um acidente de trânsito era eminente. E devido ao agravamento da mistura de alcool e o estado íntimo da pessoa a tendência é que a alta velocidade provocaria algo sério.

É uma previsão do futuro como estamos acostumados a supor? Estamos diante de uma realidade mais justa, onde somos influenciados pelo passado, por nosso comportamento atual e estado íntimo, mas temos condições de atenuar as consequências através de nosso esforço e vontade. Não foi uma previsão, mas uma análise séria e bem fundamentada da realidade que alguém mais maduro e consciente fez da situação em que o encarnado vivia. É como o exemplo de Allan Kardec, onde os mais experientes já estavam mais próximos do topo da montanha e olhando para trás conseguiam perceber os perigos que aguardavam aqueles que começavam a escalada, pois já haviam superado tais obstáculos.

O mesmo procedimento se daria com a previsão de doenças, que poderiam estar manifestas no períspirito, serem fruto de comportamentos de vidas anteriores ou de um comportamento atual, mas que foram geradas por nós e não por um determinismo cego que tornaria Deus uma criatura tirânica. A previsão de guerras é fruto da análise geopolítica de espíritos mais experientes que conseguem relacionar o passado e o estado psicológico coletivo das comunidades envolvidas. Ou ainda da previsão de catastrofes naturais com os “metereologistas das espiritualidade”. Deixemos de lado a superstição e o interesse pela revelação. Nos preocupemos com a mensagem esquecida das grandes personalidades históricas, que sempre pregaram uma grande transformação de comportamento para o alívio do sofrimento gerado por nós mesmos.

 

François e Frei Felipe

25/06/2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O ESPIRITISMO SEGUNDO OS ESPÍRITAS

o número de 31 de dezembro de 1865 da Revista Espírita contém o artigo seguinte:

"Espíritas e Espiritismo são duas palavras agora muito conhecidas e frequentemente empregadas, embora fossem desconhecidas há somente alguns meses. No entanto, a maioria das pessoas que se servem dessas palavras delas se perguntam o que significam exatamente, e se bem que cada um se pergunte isso, ninguém a dirige porque todos querem passar por conhecer a palavra e a charada.

"Algumas vezes no entanto, a curiosidade intriga até levar a interrogação aos lábios, e, ao vosso desejo, todos vos informam.

"Uns pretendem que o Espiritismo seja o truque do guarda-roupa dos irmãos

Davenport; outros afirmam que não é outra coisa senão a magia e a bruxaria de outrora que se quer reabilitar graças a um novo nome. Segundo as idosas de todos os quarteirões, os Espíritas têm conversas misteriosas com o diabo, com o qual preliminarmente assumiram um compromisso. Enfim, se leram os jornais, ali se aprende que os Espíritas são todos loucos, ou pelo menos as vítimas de certos charlatães chamados médiuns. Esses charlatães a eles vêm, com ou sem guarda-roupa, dar representações a quem quiser pagá-los, e, para melhor acreditar seu malabarismo, dizem operar sob a influência oculta dos Espíritos de além-túmulo.

"Eis o que aprendi nestes últimos tempos; vi o desacordo dessas respostas, resolvi, para me esclarecer, ir ver o diabo, devesse ele me levar, ou fazer-me vítima por um médium, devesse deixar-lhe minha razão. Lembrei-me, então, muito a propósito, de um amigo que supunha do espiritismo, e fui encontrá-lo, a fim de que me proporcionasse os meios de satisfazer minha curiosidade.

"Comuniquei-lhe as opiniões diferentes que tinha recolhido e lhe expus o objeto de minha visita. Mas meu amigo riu muito daquilo que chamava minha ingenuidade e deu-me mais ou menos a explicação que segue:

"O Espiritismo não é, como se crê vulgarmente, uma receita para fazer as mesas dançarem ou para executar torneios de escamoteação, e é erradamente que cada um quer nele encontrar o maravilhoso.

"O Espiritismo é uma ciência ou, dizendo melhor, uma filosofia espiritualista que ensina a moral. "Ela não é uma religião, naquilo que não tem nem dogmas, nem culto, nem sacerdotes, nem artigos de fé; é mais do que uma filosofia, porque sua doutrina é estabelecida sobre a prova certa da imortalidade da alma: é para fornecer essa prova que os Espíritas evocam os Espíritos de além-túmulo.

"Os médiuns são dotados de uma faculdade natural que os torna próprios para

servirem de intermediários aos Espíritos e produzirem com eles os fenômenos que passam por milagres ou por da prestidigitação aos olhos de quem lhes ignora a explicação. Mas a faculdade medianímica não é o privilégio exclusivo de certos indivíduos; ela é inerente à espécie humana, embora cada uma a possua em graus diferentes, ou sob diferentes formas.

"Assim, para quem conhece o Espiritismo, todas as maravilhas das quais acusam essa doutrina não são muito simplesmente senão fenômenos de ordem física, quer dizer, efeitos cuja causa reside nas leis da Natureza.

"No entanto, os Espíritos não se comunicam aos vivos como único objetivo de provar a sua existência: são eles que ditaram e desenvolvem todos os dias a filosofia espiritualista.

"Como toda filosofia, esta tem seu sistema, que consiste na revelação das leis que regem o Universo e na solução de um grande número de problemas filosóficos diante dos quais, até aqui, a Humanidade impossibilitada foi constrangida a se inclinar.

"É assim que o Espiritismo demonstra, entre outras coisas, a natureza da alma, sua desatinação, a causa de nossa existência neste mundo; ele revela o mistério da morte; dá a razão dos vícios e das virtudes do homem; diz o que é o homem, o que é o mundo, o que é o Universo; faz, enfim, o quadro da harmonia universal, etc.

"O sistema repousa em provas lógicas e irrefutáveis que têm, elas mesmas, por

árbitro de sua verdade os fatos palpáveis e a razão mais pura. Assim, em todas as teorias que expõe, age como a ciência e não avança um ponto desde que o precedente não esteja completamente certificado. Igualmente, o Espiritismo não impõe a confiança, porque não tem necessidade, para ser aceito, senão da autoridade do bom senso.

"Este sistema estabelece, nele é deduzido, como conseqüência imediata, um ensino moral.

"Esta moral não é outra que a moral cristã, a moral que está escrita no coração de todo ser humano, e ela é de todas as religiões e de todas as filosofias, por isto mesmo pertence a todos os homens. Mas, livre de todo fanatismo, de toda superstição, de todo espírito de seita ou de escola, ela resplandece em toda a sua pureza.

"É a esta pureza que ela pede toda a sua grandeza e toda a sua beleza, de sorte que é a primeira vez que a moral nos aparece revestida de um brilho tão majestoso e tão esplêndido.

"O objeto de toda moral é de ser praticada; mas esta sobretudo tem esta condição como absoluta, porque ela chama Espíritas, não aqueles que aceitam os seus preceitos, mas somente aqueles que colocam os seus preceitos em ação.

"Direi quais são as suas doutrinas? Não pretendo ensinar aqui, e o enunciado das máximas me conduziria necessariamente a desenvolvê-las.

"Direi somente que a moral espírita nos ensina a suportar a infelicidade sem

desprezá-la, a gozar da felicidade sem a ela nos prender; nos abaixa sem nos humilhar, nos eleva sem nos orgulhar; ela nos coloca acima dos interesses materiais, sem por isto marcá-los de aviltamento, porque nos ensina, ao contrário, que todas as vantagens das quais somos favorecidos são tantas f orcas que nos são confiadas e por cujo emprego somos responsáveis para com os outros e para conosco mesmos.

"Vem, então, a necessidade de especificar essa responsabilidade, as penas que são dadas à infração ao dever, e as recompensas das quais gozam aqueles que a obedeceram. Mas aí ainda, as assertivas não são tiradas senão dos fatos e podem se verificar até a perfeita convicção. "Tal é esta filosofia, onde tudo é grande, porque tudo nela é simples; onde nada é obscuro, porque nela tudo está provado; onde tudo é simpático, porque cada questão nela

interessa intimamente a cada um de nós.

"Tal é esta ciência que, projetando uma viva luz sobre as trevas da razão, desvenda, de repente, os mistérios que acreditávamos impenetráveis, e recua ao infinito o horizonte da inteligência.

'Tal é esta Doutrina que pretende tornar felizes, melhorando-os, todos aqueles que consentem em segui-la, e que abre, enfim, à Humanidade, um caminho seguro ao progresso moral.

"Tal é, enfim, a loucura da qual os Espíritas estão atacados, e a feitiçaria que

praticam."

"Assim, sorrindo, termina meu amigo, quem, a meu pedido, me deu encontro para visitarmos juntos algumas reuniões espíritas, onde as experiências se juntam ao ensinamento.

"De volta à minha casa, lembrei-me o que tinha dito, de acordo com todo o mundo, contra o Espiritismo, antes de conhecer apenas o significado desta palavra, e essa lembrança encheu-me de uma amarga confusão.

"Pensei, então, que, apesar dos desmentidos severos infligidos ao orgulho humano pelas descobertas da ciência moderna, não pensamos quase nada, nos tempos de progresso em que vivemos, em aproveitar os ensinamentos da experiência; e que estas palavras escritas por Pascal, há duzentos anos, terão ainda durante séculos uma rigorosa exatidão: "É uma doença natural ao homem crer que possui a verdade diretamente; e daí vem que está sempre disposto a negar o que lhe é incompreensível."

"A. BRIQUEL"

Allan Kardec publicou a reportagem do La Discussion, jornal hebdomanário, político e financeiro, impresso em Bruxelas, na revista espírita de fevereiro de 1866.