sábado, 20 de abril de 2013

OS ANIMAIS NA ESPIRITUALIDADE

ESTEJEIS DOTADO DE SENSO CRÍTICO, NÃO AQUELE QUE SE COSTUMA LANÇAR CONTRA OS OUTROS, MAS DAQUELE QUE SALUTARMENTE NOS DESVIA DOS PERCALÇOS E NOS DEMONSTRA OS EQUÍVOCOS ABRAÇADOS.

(FREI FELIPE).

Se ainda encarnados nos dedicamos ao estudo da questão dos animais na espiritualidade nos deparamos com informações confusas e contraditórias e, existem em abundância, reforçando alguns equívocos. Muito grande é o número de médiuns, estudiosos espíritas e de outras correntes espiritualistas, que expõe sua opinião, ou seja, seu modo de compreender, nessa questão sobre o destino dos animais. Infelizmente tais estudos particulares pecam pela falta de profundidade nos questionamentos, o que é natural tendo em vista que nos concentramos muito mais nas questões que nos dizem respeito, que nos pareçam mais interessantes e respondam a nossas indagações e anseios íntimos. Excetuando as obras da codificação, que trata de forma sucinta, mas objetivamente a questão, as demais obras têm caído em um equívoco comum. O equívoco compreensível de se deixar levar pelo apego afetivo aos animais domésticos, que acaba por nos fazer enxergar as coisas como desejamos que fossem e não como realmente são.

Não é o objetivo deste singelo ensaio colocar um ponto definitivo sobre a questão, mas objetivamos com ele demonstrar que a grande maioria das interpretações tem fugido aos ensinos dos espíritos descritos nas obras basilares da Doutrina Espírita. Primeiramente devemos traçar uma diretriz fundamental a nossa reflexão, nos são enfáticos os espíritos responsáveis pela codificação espírita que tanto o espírito, que anima os seres humanos, quanto o princípio inteligente, que anima os animais, tem uma origem comum no que denominam Fluído Universal, ou ainda, Fluído Cósmico Universal.

Afirmam-nos ainda, estes mesmos amigos de mais além, que evoluímos do átomo ao arcanjo, demonstrando que a evolução procede igualmente em todas as esferas. Essa questão é indubitável, haja vista o projeto genoma, que mapeando nossa identificação genética deixou margem para a constatação de nossa gradual e lenta evolução. O que une em uma mesma ramificação todos os seres vivos que conhecemos. Isso quebra qualquer crença em superioridade racial, e mesmo, qualquer ideia de que o ser humano tenha sido uma obra especial da Criação, e isto é fato incontestável.

Na questão 597 do Livro dos Espíritos encontramos: “Há nos animais um princípio independente da matéria, e que sobrevive ao corpo”. Tendo em vista esta afirmação podemos considerar que os animais desencarnados permanecem junto à prole. Os espíritos André Luiz, em sua obra Evolução em dois mundos, e também Emmanuel, em A caminho da luz, destacam que o ser humano primitivo ao desencarnar permanecia jungido à comunidade familiar em que havia tido sua reencarnação, sequer constatavam que seus corpos haviam perecido, seguiam vivendo desejosos da alimentação, do sono, do instinto de sobrevivência, que inclui a perpetuação da espécie. Fica fácil deduzir, por um questão lógica, que não haveria para eles a necessidade de permanecerem desencarnados, já que isso não lhes era proveitoso, viviam quase que maquinalmente, atendendo a instintos, básicos e primitivos.

Nossa capacidade de pensar e sentir foi aos poucos sendo estimulada pelo contato com a matéria, a utilização do circuito cerebral é um impulso neste sentido. Poderíamos dizer, simbolicamente para facilitar a compreensão, que nos emprestam um corpo mais denso até que estejamos em condições de manejar um corpo mais sutil e de maiores possibilidades. E nesse sentido o contato com a matéria é a chave do progresso, por isso sua necessidade é inerente ao processo de amadurecimento psíquico.

Vivendo esta intensa relação com a matéria densa os animais não estão sujeitos a expiações, pois não se destaca neles, como em nós, o livre-arbítrio, progredindo por ação da lei natural de evolução. Os espíritos confirmam isto no que ditaram a Allan Kardec: “A liberdade de ação, de que desfrutam, é limitada pelas suas necessidades.” (Questão 595 de O livro dos Espíritos). Estamos falando de agir instintivamente, o que no ser humano vem ao longo dos milênios sendo elaborado pelas emoções e transformando-se em sentimentos, mais ou menos, refinados, conforme nosso progresso individual.

Na questão 598 afirmam: “Após a morte, a alma dos animais conserva sua individualidade, mas não a consciência de seu eu. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.” Não poderia ser diferente, se nos seres humanos primitivos esta elaboração ainda estava inconclusa não conseguiríamos encontrá-la de modo mais sofisticado nos animais. Como afirmamos anteriormente, a necessidade do contato com a matéria é imprescindível ao desenvolvimento evolutivo.

Essa resposta nos remete a outra reflexão, variadas correntes espiritualistas acreditam que um espírito que animou anteriormente um ser humano poderá voltar em uma próxima reencarnação habitando o corpo de um animal. Tal assertiva está em estrondoso equívoco, fugindo completamente a lógica. Aceitar esta proposição é como querer que todo o Oceano possa ser represado por um copo d’água, ou seja, impossível. O Espírito tem uma elaboração psíquica muito superior a do princípio inteligente. Como nos reportam os espíritos superiores, há entre o ser humano e os animais a mesma distância evolutiva que existe entre os seres humanos e a classe de espíritos puros. Sendo assim, a metempsicose fica completamente descartada.

Voltando ao nosso raciocínio, sem a consciência de si mesmos, a permanência dos animais na espiritualidade se torna infrutífera, posto que não aprendem nada. “O animal após a morte é classificado pelos espíritos a quem incumbe essa tarefa e quase imediatamente utilizado. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas. (LE nº600).” Em O Livro dos Médiuns os espíritos responderam a Kardec quando este perguntou se se poderia evocar o espírito de um animal: “Depois da morte do animal, o princípio inteligente, que estava nele, fica em estado latente; logo é utilizado por certos Espíritos, encarregados desse cuidado, para animar novos seres nos quais continua a obra da sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há Espíritos de animais errantes, mas somente Espíritos humanos. Isso responde à vossa pergunta”.

Estas respostas não devem impressionar os indivíduos dotados de senso crítico, que não aceitam afirmações sem o crivo da razão. Procuramos demonstrar pela lógica que não há dúvidas quanto a esta questão. A dúvida nascente advém da falta de um estudo minucioso e comprometido sobre os temas que nos embalam. Perdemos demasiado tempo em discussões que não nos levam a nada, ao invés, de nos focarmos objetivamente em conhecer nossa própria intimidade visando nortear nossa caminhada evolutiva.

Certamente perguntarão, mas e os relatos romanceados de animais e as descrições mediúnicas a esse respeito? Tudo equívoco? Em sua imensa maioria afirmamos taxativamente que sim. Os espíritos codificadores vão igualmente nesta questão mais adiante quando respondem à pergunta de Kardec, também constando em o Livro dos Médiuns: “Como se dá, então, que certas pessoas tenham evocado animais e obtiveram respostas?”. Ao que respondem: “Evocai um rochedo e ele vos responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos para tomarem a palavra para tudo”.

Podemos supor daí que nunca um princípio inteligente que tenha habitado um animal possa se manifestar? Raramente, seria a resposta mais correta, e não serão por mera curiosidade ou apegos saudosistas que estas manifestações ocorrerão. Renomados cientistas como, William Crookes, Charles Richet, Gustave Geley e outros, se dedicaram ao estudo dos fenômenos psíquicos. Objetivando encontrar bases científicas para tais fenômenos foram auxiliados em seus estudos por Espíritos superiores, mas estes mesmos cientistas não temeram afirmar que muitas das manifestações de ectoplasmia tinham origem nas criações mentais dos médiuns.

Nossa incompreensão com relação aos fenômenos que nos envolvem na condição de observador ativo nos faz cair neste tipo de equívoco. A vinculação afetiva existente entre os seres humanos e seus animais de estimação faz com que impressões psíquicas impregnem o ambiente. André Luiz fala em “plasma divino”, ao que a ciência tradicional vem chamando de “campos mórficos”, que seria a capacidade dos ambientes de registrar as impressões emocionais que nos embalam. O acesso a essas informações se processa pela faculdade mediúnica que a Doutrina Espírita classifica com o nome de Psicometria. Concorrendo com essa alternativa podemos ajuntar os fenômenos ideoplásticos, que são a propriedade do pensamento de movimentar a matéria para fins diversos. Ainda no fenômeno de ideoplastia situamos as criações doentias, como a zooantropia e licantropia.

E os relatos das colônias espirituais, os animais que lá vivem? Mais do que ninguém a direção de tais instituições tem conhecimento da impossibilidade da permanência dos animais para embelezamento de jardins e praças. Haveria completa futilidade se assim procedessem. Como afirmamos ainda a pouco, é o fenômeno ideoplástico que se encarrega destas questões.

Mesmo médiuns sérios e comprometidos com ideais elevados podem cometer esses equívocos de interpretação. Precisamos nos atentar para o fato de que até mesmo para os espíritos desencarnados estas averiguações podem se fazer muito complexas. Se não estivermos imbuídos de um senso crítico racional para nos defrontarmos com os fenômenos mediúnicos é certo que nos equivocaremos muitas vezes, mas isso é natural em um processo de aprendizado. O que importa é estarmos conscientes de nossa falibilidade e possuirmos a humildade de mudar de opinião em constatando o erro. Tudo é racional na obra de Deus, o que nos foge ao raciocínio é consequência de nossas limitações.

Para concluir, podemos igualmente ficar tranquilos com relação a fenômenos obsessivos que possam envolver animais. Devemos deixar de nos imaginar tão importantes ao ponto de conseguir interferir nas engrenagens de uma lei natural retardando ou adiantando a evolução destes princípios inteligentes. Pela falta de conscientização dos princípios inteligentes eles sequer conseguem nos obsidiar como algumas pessoas pensam. Ao estudo meus irmãos, e do estudo ao trabalho, não percamos mais tempo!

Frei Felipe.

São Leopoldo, 05 de julho de 2006.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

CRIANÇAS ÍNDIGO?

Algumas pessoas ainda fazem questionamentos sobre essa idéia que apareceu no Movimento Espírita sem apresentar nenhum argumento racional que fosse. Deixo para os leitores um texto escrito por Richard Simonetti, que leu a obra original, e respondeu as principais dúvidas que ainda persistem sobre a questão. Esta entrevista foi publicada na Revista Internacional de Espiritismo em junho de 2007.

Abaixo o artigo:

Crianças índigo

Richard Simonetti


1 – Fala-se muito, na atualidade, das crianças índigo. Quem são?
Segundo a norte-americana Nancy Ann Tappe, que se diz dotada de visão mediúnica, constituem uma geração de Espíritos enviados por Deus para grandiosa missão em favor da renovação da Humanidade. Afirma que essas crianças têm uma aura azul. A partir daí formaram-se grupos de pessoas que, aderindo à idéia, identificam esses “missionários” por um padrão de comportamento.


2 – Constituiriam a nova geração, de que fala Allan Kardec, em A Gênese?
Pode ser uma nova geração, mas longe do idealizado por Kardec. Diria uma geração de Espíritos perturbados, dotados de razoável desenvolvimento intelectual, mas um subdesenvolvimento moral, comprometidos com graves desvios de existências anteriores.

3 – O que o leva a essa conclusão?
Sua índole está longe do que se espera de Espíritos mais evoluídos.
Segundo Lee Carroll e Jan Tober, escritores americanos, autores do livro Crianças Índigo, elas se sentem e agem como nobres, experimentam dificuldade para lidar com a autoridade, têm graves problemas de relacionamento, tendem ao isolamento, detestam a disciplina e assumem posturas que contrariam elementares princípios de civilidade.

4 – Esse padrão de comportamento aproxima-se do sul-coreano que matou 32 pessoas numa escola, nos Estados Unidos. Teria sido uma criança índigo?
Com a palavra a própria Nancy, em entrevista transcrita no livro: todas as crianças que mataram colegas da escola, ou os próprios pais com as quais pude ter contato, eram índigo. E acrescenta: Trata-se de um novo conceito de sobrevivência. Todos nós possuíamos esse mesmo tipo de pensamento macabro, quando crianças, mas tínhamos medo de colocá-lo em prática. Já os índigos não têm esse tipo de medo. Espantoso e assustador que se credite a esses Espíritos a missão de renovar a Humanidade!

5 – E sob o ponto de vista médico, como são encarados os índigos?
As conclusões de psicólogos não são nada favoráveis. Quase todos os índigos sofrem de TDAH, Transtorno de Deficiência de Atenção com Hiperatividade. Sintomas: são desorganizados, comportamento indisciplinado; têm dificuldade para fixar atenção na escola; são extremamente inquietos; não se dão bem no casamento, incapazes de um relacionamento estável.

6 – Há relatos sobre crianças índigo no livro?
Vários. Num deles a experiência de uma senhora que surpreendentemente se diz orgulhosa do filho índigo que, dentre outras façanhas, não ia bem na escola, brigava com professores e colegas, saiu de casa para morar sozinho aos quinze anos, roubou o carro do pai de um amigo e uma imagem numa igreja. Esteve preso por um ano. Depois foi novamente preso por dirigir perigosamente, provocar acidente, não pagar multas.

7 – Há muitos índigos entre nós?
Segundo Nancy, noventa por cento das crianças com menos de 10 anos, na atualidade, são índigo, o que explicaria a conturbação no Mundo, a dificuldade de relacionamento no lar, a indisciplina, os vícios, os crimes, o descalabro da sociedade.

8 – Como justificar o sucesso do livro e a formação de uma corrente de opinião, no meio espírita, situando essas crianças como autênticos missionários?
Tenho a impressão de que esses confrades não se deram ao trabalho de ler o livro, aderindo a uma fantasia, a começar pela maneira como seriam identificados esses “missionários”. A aura azul é própria de Espíritos pacificados e pacificadores, bem longe do comportamento inquieto e conturbador dos desajustados índigos.

FONTE

*Revista Internacional de Espiritismo. Junho 2007

*Texto publicado posteriormente na Folha Espírita – Órgão de divulgação da Associação Médico Espírita.