domingo, 23 de março de 2014

DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS

 

Texto de 2005 original e ainda não publicado, dando continuidade as nossas publicações de antigos ensaios psicografados.

DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS

AMAI, POIS, VOSSA ALMA, MAS CUIDAI TAMBÉM DO CORPO, INSTRUMENTO DA ALMA; DESCONHECER AS NECESSIDADES QUE SÃO INDICADAS PELA PRÓPRIA NATUREZA, É DESCONHECER A LEI DE DEUS.

(GEORGES. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap XVII, item 11).

Se regressarmos algum tempo no passado iremos aprender que constatávamos o óbito de uma pessoa colocando uma bacia com água sobre seu abdômen observando se a água se movimentava, sinal de que havia respiração. Noutras vezes dispúnhamos de pequenos espelhos ou pequenas peças de vidro em frente às narinas do provável falecido para observar se ocorria embaçar pelo acúmulo de gotículas de água pelo processo respiratório. Esses métodos dependiam de uma avaliação bastante imprecisa que perdurava até surgirem os primeiros sinais de putrefação do corpo, ou até o limite da paciência de quem esperava o resultado da confirmação da morte. Eram comuns os casos em que se apressavam os laudos em função de interesses outros, como em caso de heranças, por exemplo. Acontece que estes diagnósticos não davam conta de todas as possibilidades que uma pessoa pode apresentar na diminuição de suas funções vitais, como os casos da catalepsia e letargia, além de outras situações.

No ano de 1850 um médico francês apresentou um protocolo para constatação do óbito que incluía parada respiratória, parada cardíaca, cessação da circulação e ausência de pulso para constatação da morte de alguém. Até então considerávamos o coração como sendo o órgão primeiro na hierarquia funcional do organismo. Já no século XX iniciam-se estudos apontando não mais o coração, mas o encéfalo (composto pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico) como órgão principal no comando orgânico de nosso corpo.

Havia se constatado que uma pessoa guilhotinada mesmo tendo sua cabeça decepada mantinha seus batimentos cardíacos por mais algum tempo, variando esse tempo de indivíduo para indivíduo. Compreendia-se que uma pessoa não poderia voltar à vida sem sua cabeça, mas se o coração ainda batia poderíamos ou não considerar o óbito? Descortinou-se assim a função primordial do encéfalo comandando o funcionamento orgânico.

Em 1968, em uma conferência realizada na Austrália, questionou-se o que deveria então ser adotado como o conceito de morte que padronizaria os laudos médicos por todo o mundo. A resolução acordada tratava a morte como sendo a cessação irreversível das funções encefálicas. Originava-se o conceito de morte encefálica.

Conforme a lei brasileira homologada em 1997 todos somos doadores de órgãos a menos que nos manifestemos contrariamente. Ao ser diagnosticada a paralisação do funcionamento do encéfalo existe a possibilidade da extração dos órgãos aproveitáveis para possíveis transplantes. A morte apresenta-se como um processo gradual, o que permite a utilização de órgãos que ainda apresentam vida útil no caso de um transplante. Sendo o encéfalo o primeiro mecanismos do corpo a parar de funcionar torna-se possível à captação dos demais órgãos que continuam a funcionar automaticamente por mais certo período de tempo a variar de órgão para órgão. Ao todo, nos dias atuais, apresentamos 62 partes transplantáveis em nosso corpo, o que permite uma ampla possibilidade de doação no intuito de melhorar a qualidade de vida de indivíduos enfermos.

Ao contrário do temor que muitos apresentam, a possibilidade de existir uma aceleração do processo obituário é bastante remota. Existe todo um protocolo médico que dificulta qualquer intervenção interesseira no sentido de favorecer este ou aquele indivíduo acelerando a morte para extração dos órgãos. Durante o desenrolar do diagnóstico existe também a possibilidade de um médico de confiança da família participar das avaliações.

Tendo feito esta rápida explanação sobre aspectos clínicos do diagnóstico que permite a equipe médica possibilidade de extração de órgãos para transplante adentramos nos aspectos pouco explorados que se relacionam à espiritualidade. Dizem-nos os espíritos na codificação, “Quanto maior a identificação do espírito com a matéria, maior o sofrimento para a separação. A atividade moral e intelectual e a elevação dos pensamentos acionam o início da libertação, mesmo durante a vida do corpo.” (LE, Q.155).

A falta de preparo para o desencarne é fator principal nas complicações no momento extremo de transição entre as dimensões. Imaginemos a situação de um paciente terminal, internado em uma UTI hospitalar, sob efeito de forte anestésico. Durante este período acaba por desencarnar e desperta gradualmente na espiritualidade, ainda sob efeito dos tranqüilizantes por tratar-se de um espírito em condições normais e de pouca elevação moral, como a imensa maioria de nós. Nessa confusão desperta ele sem perceber a presença de familiares e funcionários encarnados conhecidos que o atendiam. Talvez ainda instalado em ambiente muito semelhante ao hospital para evitar o brusco choque com a mudança de esfera. Somemos a tudo isso a desconfiança natural de não conseguir compreender as diferentes sensações que apresenta, como em alguns casos, uma rápida melhora dos sintomas que o levaram ao óbito no plano físico. Com toda essa desconfiança, ainda escuta alguém afirmar que ele está morto.

Esta imensa confusão mental colhe praticamente a todos nós, mesmo os que imaginam possuir conhecimentos do mundo espiritual. A possibilidade de se ver transferido à outra dimensão, que mesmo sendo diferente da esfera física, apresenta para aqueles que lá vivem as mesmas impressões de materialidade, é de lenta adaptação.

Por tudo isso é difícil explicar a nova situação para alguém que imaginava que a morte lhe transformaria por completo. Vêem-se ainda de posse de um corpo, mais ou menos denso de acordo com a sua ligação com a materialidade. Agora acrescentemos a toda essa confusão mental a possibilidade desses espíritos recém desencarnados presenciarem a extração de seus órgãos para doação. O atordoamento é tamanho que muitos nem mesmos percebem que continuam a gritar e protestar mesmo se falte um órgão que seria imprescindível à vida caso ainda habitassem no corpo físico.

Fica claro que existe uma boa possibilidade de ocorrer à extração dos órgãos em um corpo onde ainda haja um espírito ligado. Essa relação depende da capacidade de entendimento do desencarnante e igualmente de seus méritos para que possa ser auxiliado com presteza. Existem casos de captação de órgãos em pessoas que nem mesmos conheciam a possibilidade deste tipo de interferência cirúrgica. A falta de informação é um fator de extrema importância em casos assim.

Importante se faz que compreendamos que somos seres que sobrepujamos o corpo físico. Somos espíritos que senhoreamos nosso mundo celular na organização visando o perfeito funcionamento corporal. Este modelo organizacional é dado pelo espírito por intermédio do seu envoltório, o perispírito. O corpo orgânico libera uma substância que pode ser fotografada pela câmara de Kirlian, a qual denominamos de ectoplasma e que participa da formação do duplo etérico, que por sua vez faz a conexão entre o corpo do espírito e o corpo material. Cessando a produção deste ectoplasma o espírito perde a possibilidade de manter a ligação com o corpo físico ocorrendo a paralisação orgânica do corpo físico o que caracteriza o início do desencarne.

Toda a doença de graves proporções emerge de dentro para fora. È criação do espírito que por um processo de adaptação íntima mal resolvido macula sua função organizacional celular repercutindo diretamente sobre o perispírito e por conseqüência na produção do ectoplasma que acaba por repercutir no veículo corporal onde instala-se uma enfermidade. Por exemplo, caso cortássemos um dedo com uma faca dificilmente nos apresentaríamos com este corte na espiritualidade porque a origem do problema foi externa e nesse caso não teria afetado a estrutura perispiritual. No caso deste mesmo corte ter por algum motivo nos marcado emocionalmente de maneira muito forte, existiria, então, uma grande possibilidade de transferirmos mentalmente esta marca para nosso perispírito, por que teria influenciado substancialmente o responsável pela gênese das doenças, o próprio espírito.

Constatando que a origem da imensa maioria das enfermidades dá-se no espírito fica fácil afirmar que a sua cura, ou ainda, o efeito paliativo depende em grande parte do entendimento e da capacidade, que por conseqüência, apresentamos, de buscar a harmonização íntima.

Devido a todas essas dificuldades não seria nenhum exagero afirmar que encontraríamos uma grande quantidade de espíritos correndo atrás de seus órgãos após a captação dos mesmos visando transplante. Em muitos casos de auxílio espiritual esses companheiros desinformados passam por verdadeiras encenações hipnóticas com o objetivo de lhes alterar o padrão mental na intenção de que se vejam novamente portadores de seus órgãos perispirituais. Cirurgias na espiritualidade fornecem esse apaziguamento aos desencarnados que se entendem defeituosos pela ausência de algum órgão que viram ser extraído do corpo material. Seria o caso dos hipocondríacos espirituais que mentalmente produzem os efeitos que lhes repercutem na forma de enfermidades.

Poderíamos dizer que todo o problema está na mente, no espírito, e que para a sua solução necessitamos da conscientização da real causa de seu problema e do esclarecimento devido para encontrar o ponto de equilíbrio possível.

Sabemos ao abordar a questão dos transplantes que existem diversos fatores que precisam ser observados para a perfeita efetivação da operação. O fator sangüíneo e a utilização de imunodepressores que diminuem a possibilidade de rejeição são aspectos importantes do ponto de vista clínico, mas muitos são igualmente os aspectos espirituais que envolvem os méritos de um transplante.

Mesmo não possuindo este conhecimento os médicos operam estreitamente ligados a equipes médicas na espiritualidade. Como abordamos anteriormente a imensa maioria das doenças tem origem na alma e, portanto, é nela que precisa haver a intervenção para objetivar-se a cura. Tratar somente do corpo deixando a matriz enferma no perispírito permite o recrudescimento da mesma doença em momento posterior. A cura ou a solução parcial do problema do encarnado passa por diferentes fatores que tentaremos resumidamente abordar.

A condição moral dos envolvidos – Como enfatizamos é o espírito que organiza a funcionalidade celular de seu envoltório. Sabemos que somos cada um de nós um mundo complexo e distinto e que, portanto, funcionamos singularmente. Estes diferentes padrões de funcionamento estão transcritos igualmente no corpo físico, inclusive no órgão que será transplantado. A medicina terrena ignorando esta diferença que pode tornar-se causa de rejeição fica sujeita aos méritos do paciente e da qualidade moral do doador para receber o devido aporte da espiritualidade na conjunção destes diferentes padrões vibratórios visando o perfeito funcionamento do órgão em um novo corpo.

A vitalidade do órgão – Cada indivíduo está sob uma programação reencarnatória exclusiva, o tempo que deveria habitar encarnado e a vitalidade que seus órgãos deveriam apresentar no cumprimento desta programação é outro fator que necessita da participação espiritual para a revitalização no caso dos órgãos a serem reutilizados por outras pessoas em outros corpos com programações distintas.

Prontuário do receptor – A referência a esta mesma programação reencarnatória, se é permitido a cura do paciente na enfermidade em questão. O próprio espírito pode inconsciente concorrer para a falência do órgão devido a uma necessidade expiatória que um processo de culpa lhe exige perante a consciência, o ressarcimento moral inconscientemente concorre para efetivar.

A rejeição mental do paciente – Os casos que infelizmente existem de rejeição espontânea por parte do espírito receptor que não aceita um órgão que provenha de pessoa de raça, cultura ou mesmo religião diferente da que aceita. Sofre devido ao seu próprio preconceito.

As emanações espirituais / magnéticas da equipe médica – É facilmente perceptível o odor característico que fica impregnado na pele e no organismo das pessoas que fumam. Da mesma forma toxinas espirituais podem existir por efeito da má conduta daqueles que participam do procedimento cirúrgico. Abuso do álcool, do fumo, os desregramentos de conduta, aqueles que trabalham no interior de uma pessoa deve levar em consideração que a assepsia material não tem efeito nas questões espirituais. Para aqueles que duvidam da existência de bactérias espirituais lembremos que as bactérias que observamos fisicamente eram tidas como imaginação antes de inventarmos o microscópio. Se existe uma bactéria física existe igualmente um principio espiritual que a organiza.

A conscientização do doador – Fator diretamente relacionado às obsessões. Essas obsessões que podem ocorrer nos casos de transplante na maioria das vezes não estão relacionadas a vinganças e sim a desinformação. Ao se verem surrupiados de seus órgãos, por falta de conhecimento da realidade espiritual, crêem-se dependentes dos mesmos órgãos para continuarem vivos, na maioria dos casos não tendo consciência que desencarnaram. Por conseqüência natural exigem e fazem todo o possível para reaver suas partes extraídas, seguidamente partindo junto com os órgãos transplantados.

Todos somos espíritos comandando corpos, momentaneamente atrelados aos mesmos, portanto somos igualmente passíveis de influenciação espiritual. Devido a presença espiritual do acompanhante do órgão (seu ex-proprietário) existe uma troca fluídica que repercute por intermédio do ectoplasma do duplo etérico no corpo físico, as sensações de ausência do órgão que a mente do desencarnado produz tendem a fazer efeito sobre o paciente recém transplantado. Mesmo com a ocorrência tranqüila do processo cirúrgico o organismo do paciente pode apresentar rejeição por influência direta da obsessão “não-intencional”. Neste aspecto de troca mediúnica por intermédio dos fluidos podemos enquadrar os relatos de apresentação parcial das memórias do doador que nos acompanha e interage conosco. São comuns os casos de rejeição onde não existem as constatações de falha médica e que surge de complicações espirituais.

De todo este nosso relato, das possibilidades de complicação, deduz-se que o Espiritismo é contra o transplante de órgãos?

De forma alguma, jamais poderemos ser contra os meios empregados na intenção de aliviar a dor ou buscar prolongar saudavelmente uma vida. Estimulamos sim é a aquisição de conhecimento de causa para atuarmos com maiores recursos se realmente desejamos auxiliar ao próximo.

Sabemos que nada acontece por acaso, que em tudo existe a sabedoria de Deus trabalhando de forma que por vezes não percebemos, mas que visa sempre nosso bem estar. Somos sabedores que as enfermidades têm, em sua maioria, origem em nós mesmos e que somos igualmente os maiores responsáveis pela busca do equilíbrio se o almejamos.

Para sabermos se é válido ou não a doação de órgãos basta que invertamos os papéis. Como nós nos sentiríamos se estivéssemos na necessidade de fazer uma hemodiálise de 2 horas diárias 3 vezes por semana para sobrevivermos e aguardando longamente na fila de espera por um transplante sem saber se o receptor surgirá a tempo? E se nós dependêssemos desse transplante?

De que nos servirá um corpo que a terra há de engolir? Do pó ao pó. O corpo precisa ser respeitado e prova maior desse respeito é possibilitar que partes do mesmo sejam úteis a outros que podem precisar depois que estivermos libertos do mesmo. Porque não doarmos o que para nós perdeu a utilidade?

É necessária a nossa conscientização com relação ao processo de doação para mais tarde não sermos também colhidos pelas complicações originadas na falta de informação. Estejamos em constante preparo para o desencarne, a troca de morada. Ao possuirmos a vontade sincera de doar muitas das complicações já estarão superadas, a outra parte depende do receptor do órgão. A doação, que imprescinde do esclarecimento, constitui-se em elevado desprendimento material e um belo gesto de caridade quando praticada espontaneamente.

François

4 de junho de 2005