sexta-feira, 26 de junho de 2009

AS EMOÇÕES E A MEDIUNIDADE

Após breve prece, antecedida de três quartos de hora de leitura preparatória, sento-me e fico mentalmente disponível ao contato com os espíritos. Não faço exigência alguma, em completa liberdade, sem mesmo pensar no que escrever. Procuro estar em posição neutra para que meus pensamentos, sentimentos e emoções ordinárias não interfiram no processo.
Ora, mas estamos falando de mediunidade, um processo que carece de um ser humano para se estabelecer. Por isso, neutralidade não existe. Há toda uma ampla carga de sentimentos e emoções caracterizando o espírito. E isso independe de estarmos encarnados ou desencarnados. Somos essencialmente fruto do que sentimos, e nem tanto do pensamento, como facilmente supomos. O pensamento é elaboração posterior, desenvolvido mais tarde em nossa trajetória evolutiva. Por exemplo: os sentimentos são a elaboração cognitiva de nossas emoções. Apesar do ser humano ser essencialmente emocional, devemos nos esforçar por encontrar, ou buscar pelo menos nesse sentido, um ponto de equilíbrio, de maior neutralidade, para que a comunicação mediúnica se dê da forma mais fiel possível.
Todo estudioso do Espiritismo já compreende que não haverá intercâmbio mediúnico destituído da filtragem de seu intérprete. Impossível o médium não dotar de suas características a manifestação que através dele se produz. Esse fato inaugurou a perseguição àqueles que se ocupavam do Espiritismo no passado, acusados de charlatanismo, quando, na realidade, somente havia falta de compreensão sobre o desenrolar do fenômeno espírita.
Atualmente, continua-se exigência por médiuns isentos de emoções, homens-máquinas, que possam transmitir a comunicação dos espíritos sem intervenção pessoal alguma. Essa busca extrema por eficácia nos faz questionar sobre a utilidades desses médiuns, uma vez que mesmo os espíritos fora da matéria como a conhecemos tem emoções. Como alcançaríamos sintonia para estabelecer vínculos a fim de efetivar o intercâmbio mediúnico sem essa identificação íntima entre as partes? E o verdadeiro espírita ou cristão, pois são ambos a mesma coisa, não é aquele que dá demonstrações de seu esforço para melhorar?
Alguns companheiros de ideal podem pensar que estamos aqui derrubando a mediunidade, entretanto, estamos justamente enaltecendo-a. Que constatação maravilhosa saber que as palavras mais suaves, enternecedoras e capazes de dar esperança à mais infeliz das criaturas levaram as cores daquele médium que foi seu intermediário. Sinal de que se encontrou um coração sensível e disposto a viver em si mesmo o Evangelho.
Se não assustarem esse intérprete dos espíritos, afirmando que ele é alvo de animismo ou de uma mistificação inconsciente, seguirá amparando os mais necessitados, aprendendo e tornando-se médium do amor, o que é muito mais importante do que ser médium dos espíritos. Ele não irá preocupar-se com a comunicação mediúnica em si, mas, dotado de sensibilidade, aprenderá a discernir a melhor forma de confortar e reerguer uma alma em aflição. Em assim agindo, estará mais do que nunca acessível a influência dos espíritos bem intencionados.
Lembrem-se que mesmo as manifestação espirituais de ordem física, como as materializações, sofriam com ideoplastias dos médiuns e assistentes das sessões. Porém, isso não as tornava menos belas. Continuavam com imensa capacidade de encher seus expectadores da certeza da continuidade da vida.
Não compreendem a que me refiro? Vejam, então, como comecei a me exprimir no texto que agora lêem, servindo-me das condições íntimas do médium. Descreve ele como se preparou para me emprestar o organismo físico em parte para que pudesse intuí-lo. O texto perde em qualidade com tal fato? Creio que não. Aponta o intenso entrosamento que deve existir entre todos os envolvidos para que uma comunicação mediúnica seja proveitosa e ofereça alguma utilidade. Além do mais, basta nos determos na mensagem de fundo. Ao final de uma comunicação espírita, avaliemos nós a impressão que ela nos causou, e teremos uma direção para avaliar a qualidade não somente do conteúdo, mas principalmente das intenções explicitas e implícitas, que nos deixa entrever o caráter dos responsáveis por ela. E isso basta.
Onde há o desejo sincero de fazer o bem, o amor encontra-se solidamente instalado, fortalecendo-se gradualmente. Paulo referiu-se: “Ainda que eu falasse a língua dos anjos, que tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios, ainda que possuísse uma fé inabalável ao ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor nada seria”.
Frei Felipe
(Rafael de Figueiredo / Frei Felipe (espírito). Texto publicado na Revista Delfos - Ano IX / edição 2 / n°34)

domingo, 14 de junho de 2009

A CIÊNCIA ESPÍRITA APORTA EM PORTO ALEGRE

O salão de atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul abriu suas portas para acolher o Congresso Nacional da Associação Médico-Espírita (MEDINESP) que ocorreu entre os dias 11 e 13 de junho de 2009 na capital do estado do Rio Grande do Sul. No evento foram abordados temas de fundamental importância, como as questões de bioética que despontam atualmente com o surgimento de novas tecnologias. Iniciativas como essa demonstram a possibilidade de se fazer ciência embassados pela doutrina espírita.

Congregando profissionais da área de saúde de todo o Brasil o auditório da universidade esteve lotado durante os três dias de congresso. Saudamos a iniciativa da UFRGS que abriu suas portas ao encontro, compreendendo a seriedade do evento e dando importante passo no sentido de congregar ao âmbito universitário a ciência e o sentimento. Pois, como já dizia o próprio François Rabelais no século XVI: "Ciência sem consciência não passa de ruína da alma".

sábado, 6 de junho de 2009

A RAPOSA E O PRINCÍPE

Antoine de Saint-Exupèry, com palavras singelas, mas de uma profundidade impressionante, sabia tocar no recôndito da alma humana, devassando anseios e dramas existenciais... sua obra "O Pequeno Princípe" é uma demonstração de seu talento. Destaco um pequeno trecho dessa obra infantil, que apesar de dedicada as crianças, tem muito a ensinar aos adultos.



E foi então que apareceu a raposa:

__Bom dia, disse a raposa.

__Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

__Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

__Quem és tu? perguntou o principezinho.Tu és bem bonita...

__Sou uma raposa, disse a raposa.

__Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

__Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

__Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

__Que quer dizer "cativar"?

__Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

__Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

__Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?

__Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

__É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços...".

__Criar laços?

__Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

__Começo a compreender, disse o principezinho...Existe uma flor...eu creio que ela me cativou...

__É possível,disse a raposa.Vê-se tanta coisa na Terra...

__Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.A raposa pareceu intrigada:

__Num outro planeta?

__Sim.

__Há caçadores nesse planeta?

__Não.

__Que bom. E galinhas?

__Também não.

__Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua idéia:

__Minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

__Por favor...cativa-me! disse ela.

__Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

__A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

__Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.

__É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei para o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...No dia seguinte o principezinho voltou.

__Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!