sábado, 9 de julho de 2011

OS MODISMOS NO ESPIRITISMO

Uma das características que nos diferencia como seres humanos é a nossa capacidade de refletir, de pensar e tomar as próprias decisões segundo a capacidade e experiência adquirida. Allan Kardec em seu trabalho de difusão da Doutrina dos Espíritos preocupava-se muito com os rumos do Espiritismo no porvir, temia que o modismo desvirtuasse conceitos e que outros interesses viessem a prejudicar a excelência de sua obra.

Kardec costumava afirmar que aquelas pessoas céticas e arazoadas eram mais importantes para o fortalecimento do Espiritismo que seus adeptos cegos e prontos a repetir conceitos sem refletir se os mesmos faziam sentido. Por conta disso, ele confiou no bom senso e pregou que a Doutrina Espírita deveria caminhar ao lado da ciência, tranformando-se segundo a lógica de argumentos sólidos e na maior parte comprovados de modo empírico.

A questão continua sendo a mesma em nossos dias atuais. De um modo geral somos bastante preguiçosos quando exigidos a pensar, preferimos repetir os conceitos de outros autores, de médiuns famosos, ou de livros com os quais simpatizamos.

Se Deus fala conosco através de nossa consciência precisamos desenvolver em nós mesmos os fundamentos daquilo que acreditamos e não consiguiremos fazer isso imitando ou repetindo o que os outros fazem ou dizem. O Espiritismo nós convida constantemente a reflexão, motiva-nos a descoberta de nosso próprio caminho na vida.

Infelizmente estamos acostumados a preferir as coisas prontas, é mais fácil copiar as idéias ou simplesmente imitá-las do que buscar a nossa própria verdade. Esse hábito de não utilizar nossa capacidade intelectual nem nossos sentimentos com sinceridade para encontrar o caminho a seguir nos faz ser classificados entre os espíritas crentes que sem querer fazem mais mal do que bem ao Espiritismo. É verdade que as raízes desse comportamento passam por hábitos do passado, mas não podemos viver justificando nossos erros em função do passado, é preciso um esforço maior de transformação.

Quero me explicar. A literatura espírita, por exemplo, tornou-se muito atrativa do ponto de vista financeiro as editoras. A cada ano o número de editoras se multiplica, os livros publicados seguem no mesmo ritmo, porém não se pode dizer o mesmo da qualidade do material publicado, que parece seguir o caminho inverso. A qualidade do livros espíritas tem caído muito. É bem verdade que as editoras precisam sobreviver, algumas delas o fazem com pujança, basta ver suas instalações, mas tem funcionários a pagar e fazem um trabalho útil de porpagação da idéias espíritas. Acontece, porém, que essa busca por material a publicar faz com que as coisas tendam a perder o controle de qualidade. Antes de procurar os conceitos espíritas bem fundamentados acaba-se preferindo uma obra que não ficará pegando pó nas prateleiras, e terá forte apelo comercial.

Tal fato dá origem a distorções grotescas, quando vemos conteúdo místico e oriundo de fontes pouco idôneas lançando idéias obtusas no meio espírita. As vezes basta alguém conhecido tocar no assunto, e com a melhor das boas intenções, mas que não se aprofundou no estudo da idéia, para que a mesma seja aceita entre os espíritas como uma verdade incontestável. Esse comportamento é de responsabilidade nossa, de nossa falta de coerência e aprofundamento da idéia.

Kardec preocupava-se com os modismos e dizia que para essas questões o tempo era o melhor conselheiro, pois aquilo que estivesse distante da realidade desapareceria por si só. Esse modismo está muito empreganado em nossa sociedade contemporânea, é fácil constatar isso em nossos hábitos diários. No meio espírita podemos citar o exemplo de palestras, conferências e  livros que se valem do apelo comercial, muitas vezes deixando de lado a lógica e a ciência, essenciais ao Espiritismo, que despontam e se multiplicam sem que questionemos a validade ou a objetividade de tratar desses assuntos. Será que são realmente importante? Não temos questões de maior importância para nos preocupar? Continuamos enraízados na política do menor esforço, preferimos que as coisas mudem num passe de mágica e não com o esforço constante a o concurso do tempo.

Podemos dizer, sem medo de estarmos equívocados, que o aspecto principal do Espiritismo é a nossa transformação moral. O impulso que deveria dar na mudança de comportamento da sociedade através dos nossos exemplos. Entretanto, continuamos nos deixando atrair pelo bezerro de ouro e pelas histórias que falam de mistérios e profecias. O Espiritismo veio trazer luzes onde antes haviam as trevas da ignorância. Veio com essa luz mostrar o caminho a nossa frente que precisamos trilhar com nosso esforço e trabalho. O passado nos atrela ao misticismo e superstições, mas é preciso um esforço no sentindo de compreender o Espiritismo em sua razão de existir: a transformação moral de nós mesmos. Essa questão é fundamental para que possamos nos dizer espíritas.

pelo espírito Frei FELIPE