sábado, 5 de junho de 2010

UM PSIQUIATRA ENTENDIDO DE ESPIRITISMO

Diálogo-consulta

Maria Clara, como achei interessante o nosso diálogo!

Iniciamos a conversa num jantar social. Confesso que não gosto de gastar o tempo dessa maneira: fala-se de tudo e nada se diz ou constrói, e não aprecio o jantar; prefiro uma “serena ceia”... Mas, as coisas da vida são interessantes. Nesta noite comecei a observar os tipos humanos (quem faz psiquiatria não foge a esta contingência...) presentes e tirar ilações. Maria Clara veio ao meu encontro por ouvir dizer que sou um psiquiatra, não materialista e “entendido” em Espiritismo. Foi assim que soube de seu nome, tão “claro” quanto seus olhos interrogativos. Disse-lhe que somos sempre aprendizes de alguma coisa, e sobre o Espiritismo tenho especial interesse pela sua lógica estrutura o que muito tem contribuído para ampliação do conhecimento humano.

Nosso diálogo instalou-se. Eu, no interesse psicológico de analisar a posição de sua compreensão da vida. E ela, creio, desejando uma resposta aos seus porquês... A sua aflição não era pequena... pois, logo tomou conta da conversa e como que, em depoimento, ficou dona da palavra. Era evidente a necessidade de fazer desfilar os seus sintomas ansiosos com respostas em alguns departamentos orgânicos.

- Caro doutor, como tenho sofrido com essa inquietação, esse sintomas indefiníveis por não saber, exatamente, traduzi-los. É um mal-estar generalizado com sensação de desconforto psicológico. O senhor sabe como são estas coisas... Não estou bem nos lugares... Se estou em casa, desejo sair e se na rua, quero voltar para casa... Falta alguma coisa que procuro e não acho. Além do mais, essa intranqüilidade acompanhada de palpitações no coração, mãos frias e habitualmente úmidas, aperto no estômago, boca seca sem saliva e uma sensação indefinível de medo, sem correlações com quaisquer fatos presentes ou passados. Aquela sensação que me dá um “complexo de culpa”; mas, após exame de consciência repito, certa, certíssima de que nada existe em minha vida a recriminar. Entretanto, a sensação não me deixa e me acompanha... Está grudada em mim... Que acha de tudo isso? Diga-me!

- Minha amiga, você tem aquilo que podemos nomear de distonia neuro-vegetativa.

- É coisa muito ruim?

- Não, são aquelas coisas do simpático-parassimpático. Não mata, não aleija e nem enverga... incomoda bastante...

- Ainda mais, doutor, “entendidos” disseram-me que tenho mediunidade. Que acha desse negócio?

- Todos a temos de uma forma ou de outra...

- Mas. Disseram-me que tenho necessidade de fazer “umas obrigações na praia” para me livrar dos espíritos acompanhantes...

Comecei a observar, na minha recente amiga, quanto a ausência de compreensão dos fatos da Vida Espiritual pode causar dificuldades e desarmonias, quanto é necessário que as Organizações Espíritas se lancem no mecanismo educativo-espiritual, oferecendo segurança e avaliação aos necessitados...; quantos pensamentos tivemos nesse implacável segundo na avaliação das necessidades espirituais humanas...

- Minha amiga, você precisa ouvir algo sobre “aquelas coisas” tão simples e tão desconhecidas:

Em primeiro lugar é imprescindível que participe das razões e princípios da Doutrina Espírita, não como solução de momento ou resposta imediata para tudo, mas para um conhecimento que lhe dará lastro útil e necessário na solução de seus problemas...

- E se nada for resolvido? – fui interrompido pela sua aflição.

- Pelo menos, Maria Clara, você poderá ficar sabendo o porquê de tudo. Mas, continuemos a explicação: com o conhecimento da Doutrina Espírita iniciará, com naturalidade, um modo de vida cristã, sem pieguismos, atendendo às suas reais necessidades, abandonando o supérfluo e dando importância àquilo que tem valor para o Espírito. A Doutrina Espírita é tão interessante e de tal profundidade sócio-filosófica, que alcança qualquer indivíduo na faixa evolutiva que se encontra, dando-lhe ampliação de conceitos e conduta no alcance da própria realização.

Em segundo lugar, essas “obrigações na praia” são práticas que a sua mentalidade refuta e não encontra apoio ao seu entendimento. Existem pessoas que necessitam de certos atos externos plenos de simbolismo e, como que exigem, através dos mesmos, os milagres para suas necessidades. Mas, você que se encontra intelectualmente mais bem preparada, somente aceitara certas verdades com mais pureza, sem esdrúxulos simbolismos, em comunhão direta com a essência.

Em terceiro lugar, acho mesmo que você tem mediunidade, apesar de termos bastante cuidado quando defrontamos casos parecidos ou semelhantes. A mediunidade está estuante, dando clarinadas através desses sintomas denominados como distonia neuro-vegetativa. Está havendo uma necessidade de drenagem de energias que a mediunidade bem orientada poderá propiciar. Porém, existem casos de distonias e sintomas afins que nada têm a ver com mediunidade; daí, o cuidado que todos devemos ter (principalmente os espíritas) na avaliação dessas inusitadas sensações. Por isso, quero dizer que nem sempre distonia neuro-vegetativa e alguns componentes ansiosos sejam expressamente fenomenologia mediúnica...

Novamente, a amiga interrompe a informação, já não tão aflita.

- Pelo visto, muita gente anda com seus achaques mesmo que não tenha mediunidade...

- Raciocinemos: quem na Terra, encarnado, está em situação evolutiva de não participar de qualquer distonia? Todos nos encontramos em processo evolutivo de constantes reajustes. Afinal de contas, somos todos necessitados, numa incessante procura por iluminação que é conhecimento-sabedoria. Voltemos à nossa arenga: realmente a área do sistema neuro-vegetativo, como zona altamente sensível, é região de eleição das descargas do psiquismo de profundidade ou zona Espiritual, conclamando-os através da dor-inquietação à intransferível construção.

- Então doutor, devo ser médium?

- Maria Clara, esclareça-se, procure entender o que é mediunidade, procure um Centro Espírita onde as pessoas e seus dirigentes sejam realmente aqueles que tenham condições de lhe oferece “substância” doutrinária. Observe a conduta dos orientadores, sem pressas de salvação, vá-se alimentando de potenciais positivos com trabalho produtivo, fazendo de sua vida e de seus atos um canto harmônico de equilíbrio; enfim, passe a servir sem esperar remuneração... Ame, distribua ternura (que está a faltar tanto na chamada vida moderna) e o conhecimento que for adquirindo com as expressões vivas do exemplo...

- Que mais devo fazer?

- Aí, então, você descobrirá que, com a ampliação de sua vida interior, haverá desaparecimento dos seus sintomas e que serão proporcionais à oferta que fizer a Vida... Também descobrirá a serenidade que se adquire com o dever cumprido. Perceberá, que, quanto mais nos oferecemos a Vida, esquecemos, até certo ponto, de nos mesmos e os achaques vão desaparecendo. Verificará que não são os remédios, neste setor, que tudo resolvem; eles auxiliam, mas a grande ajuda depende de nós mesmos. Quanto mais doarmos amor, serenidade, tranqüilidade, paciência e entendimento, mais ficaremos seguros e inatingíveis pelos negativismos e coisas supérfluas da vida...

- Doutor como conversamos! Estão chamando para o jantar.

- Maria Clara, hoje gostei de ter vindo jantar...

- Mudou de posição, doutor?

- Não; apenas o nosso tempo foi bem aproveitado. Eu, porque estou procurando ajudar alguém com os recursos ao meu alcance e você, porque de boa vontade parou para escutar com a alma... Isto já é condição e maturação de seu Espírito sedento de “aventuras” de um novo padrão, que elevam e tonificam os seres... Maria Clara, quanto lucramos!... Os jantares nem sempre são tão tediosos e inexpressivos...

Jorge Andréa

(Psicologia Espírita – Volume I )

3 comentários:

  1. Olá Rafael,
    Já tive oportunidade de assistir uma palestra sua e também já li seus livros. Sou amiga da Dona Cledi, que você conhece.
    Parabéns pelo blog, está muito bom.
    Segue meu blog para você conhecer: http://cmespirito.blogspot.com

    Luz e Paz,

    Eliane.

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