Especial – Rafael de Figueiredo / Frei Felipe
Publicado na Revista Delfos (ANO III – edição 2 – nº30)
Convulsões sociais
Acompanhando as noticias corrupção daqueles que se fazem representantes do povo, tomando conhecimento da situação das vítimas da burocracia e do descaso governamental, ou ainda diante do horror da criminalidade e da miséria, nossa sensibilidade sofre com violentos choques. A sensação de impotência diante das atrocidades observadas; a revolta contra o sistema predador que nos rege socialmente; as vítimas indefesas que clamam por socorro humano e não vislumbram serem escutadas, tudo isto acumulado fomenta a amargura e a descrença das pessoas. Vitimados pelo resultado da construção social que concretizamos após séculos de formatação política, alguns indivíduos, saturados das injustiças sociais e com suficiente motivação para alterar concepções, engajam-se na tarefa de mudança nem sempre sabendo canalizar seus ímpetos.
Pela falta de fé, revoltados socialmente, desligados das assertivas evangélicas de amor, entregam-se à sublevação mesclando boas intenções executadas por meios tão tirânicos e cruéis quanto a conduta social que criticavam.
A revolução social russa surgiu com a utopia de garantir direitos equivalentes a todos os filhos da Gigante Gelada; Marx e Engels sonhavam com um mundo mais justo e igualitário e idealizaram uma sociedade onde os mais fracos não seriam renegados à margem. O objetivo era contribuir para uma nova formatação sócio-política da humanidade, aliando o desenvolvimento econômico ao desenvolvimento social. Mas os ímpetos revolucionários contra os Czares fomentaram a sociedade, condicionada a valores despóticos, a tornarem-se tão cruel quanto àqueles que abominava, ou até mais. Os ideais eram elevados, mas faltava aos mesmos o direcionamento moral para colocar em prática as decorrentes aspirações. Alimentavam uma revolta que os consumia, esquecendo da condição de onde saíam e que os infelicitava para, uma vez na “direção social”, comandarem com mão de ferro.
Por esta mesma falta de orientação moral ou religiosa, como também podemos nos expressar, vemos surgirem os movimentos separatistas, as guerrilhas e milícias armadas, que na revolta deixam-se transformar em tiranos equiparáveis aos alvos de suas lutas.
Em nossa impotência diante do caos social nos questionamos como podemos fazer a diferença. Muitos se revoltam contra Deus, deixam de acreditar em sua existência, pois não compreendem como permitiria Ele tamanhas injustiças que, apreciadas sob nosso limitado ponto de vista, não abrangem as nossas recuadas existências e nossa parcela de contribuição social para o caos vigente. Deus não governa por decreto. Ele homologou no evo leis magnânimas que dirigem o desenvolvimento de suas criações e que têm a função de nos fazer andar segundo os caminhos que nós mesmos escolhemos.
Se ao invés de revolta, houvéssemos atentado para o cultivo de valores morais elevados independentes de diretriz religiosa, pois todas as religiões desejam o bem estar de seus adeptos, teríamos encontrado um caminho não de descrença, mas de trabalho e renovação. Se em nossas mentes, através de conceitos e principalmente exemplos, houvéssemos sido orientados para o bem comum, ao invés de nos digladiarmos em tendências políticas, aprenderíamos a trabalhar em silêncio pelo bem estar do próximo.
Somos pequenos demais para mudar o mundo, mas nossas idéias quando vinculadas aos mais elevados sentimentos de integração, encontram ressonância na vontade divina e ganham potência, viajando pela atmosfera a sensibilizar outros tantos para que em uma corrente de solidariedade nos unamos todos em propósitos nobres. Contagiados por elevados ideais não questionaremos a valia de nossos pequenos atos de gentileza e candura; deixaremos de questionar o que nosso comportamento alterou na situação social, pois teremos a nossa frente, ajoelhado aos nossos pés, os beneficiados por nossas ações que se não mudaram o mundo, fizeram diferença para aqueles que nos banharão com suas lágrimas de gratidão.
Assim como o deserto é composto de grão em grão e o oceano, pela união de várias gotas, nossos esforços no bem tendem a arregimentar uma avalanche de transformação moral para implantação do amor como doutrina mundial.
É pelo importante papel de nossas famílias, professores, de nossos exemplares condutores no geral, que nos faremos contagiar nessa corrente de mudanças. É nos pequenos atos e elevados conceitos, que não respondem por esta ou aquela religião, mas que trazem como regimento único o “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, que culminaremos na sociedade do “não façais ao próximo aquilo que não gostaria que fizessem a vós”.
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