Este texto foi publicado na Revista Delfos (nº29), mês de fevereiro/março de 2008. Autor: Rafael de Figueiredo / Frei Felipe
Os convencionalismos da sociedade
Na efervescência social que vive o planeta, estamos sendo continuamente bombardeados pelas mais diversas espécies de informações. Campanhas publicitárias, benéficas em sua maioria somente a quem as encomenda, tentam indicar quais as melhores maneiras de nos conduzirmos perante nossas próprias vidas, o que devemos ser, fazer, adquirir e valorizar.
Essas mesmas imposições mercadológicas e culturais, ao vigorarem por longo tempo, acabam tornando-se senso comum, verdades incontestáveis que precisariam ser seguidas no caminho da felicidade. Caso tenhamos a intenção de sermos felizes, necessitamos adquirir este ou aquele produto de última geração, se desejamos ser admirados, deveremos comprar nosso status.
De nada valem nossa educação respeitadora e a nossa moralidade, se as mesmas não estiverem acompanhadas de um fabuloso bem de consumo ou de um corpo comprado sob os moldes do padrão de beleza da atualidade.
As normas culturais de uma sociedade sempre fizeram com que aqueles que não atingissem seus níveis mínimos de conduta estabelecida se sentissem excluídos, humilhados e, por conseqüência, entristecidos. Quando estes mesmos não apresentam vigorosa confiança em seus próprios valores íntimos, deixam-se levar pelos excessos. Sexo, drogas e jogo transformam-se em mecanismos de fuga da realidade. Caminham por esta falsa estrada até encontrarem limites intransponíveis, culminando na maioria das oportunidades no repreensível ato do suicídio, direto ou indiretamente praticado.
Por essas convenções sociais viemos permitindo a troca interna dos ideais que carregamos e que, respeitados, legariam a nós certa satisfação íntima. Somos seres reencarnantes e habitamos o corpo biológico em muitas outras ocasiões, sendo que em cada uma delas exercitamos e aprendemos valores distintos, por vezes reincidindo no desenvolver desta ou daquela profissão ou área preferencial de estudo.
Ao adentrarmos novamente no mundo corporal, por ocasião de nova oportunidade de refazimento e aprendizado, trazemos em nossa bagagem íntima, de forma intuitiva, preferências e gostos. Ao permitirmos que normas convencionadamente adotadas pela sociedade dirijam nossas opções, estaremos concorrendo para nossa própria frustração interior e por conseqüentes sentimentos de infelicidade. Não estamos afirmando que não se aprende com os valores sociais: eles têm seus motivos de existir e representam os valores médios que atingiu a sociedade, mas existem caminhos que se respeitados nos permitem uma construção mais saudável de nosso “EU” interior.
Escolhemos nossas profissões, aquelas que executaremos durante toda uma existência, na maioria das vezes pela sua condição econômica e possíveis vantagens sociais. Arranjamos consórcios matrimoniais por posições de status que possam nos favorecer. Compreendem-se os problemas econômicos para se criar um filho. Mas o que é preferível: construir uma família abastada social e financeiramente, ou construir um lar onde os indivíduos, respeitando suas aspirações íntimas possam dizer-se felizes e realizados? Estamos esquecendo de perguntar a nós mesmos se estamos satisfeitos com nossas escolhas, se reprimimos nossos sonhos por não serem os mesmos condizentes com as imposições sociais.
Se buscamos a felicidade devemos aprender a respeitar nossas vocações, nossos gostos. Somente com o desenvolvimento moral poderemos compreender aquilo que surja de nosso íntimo precisando ser contido e renovado, pois nem todas as nossas aspirações são saudáveis. A moral desenvolvida nos propicia o bom senso aguçado para saber discernir sobre o certo e o errado, principalmente quanto àquilo que carregamos de forma inata em cada reencarnação.
Não será buscando dinheiro, fama ou prazeres temporais que encontraremos a felicidade. Todos estes recursos nos embriagam os valores espirituais que são os verdadeiros canais da conquista íntima. Somente poderemos ser felizes se conquistarmos a nós mesmos, respeitar nossa individualidade, nossos valores já adquiridos, respeitando nosso crescimento interior.
Devemos gostar de nossas escolhas. O professor deve amar sua vocação, compreender que não ensina o aluno, mas que compartilha de uma oportunidade de aprendizado em conjunto, onde se dividem valores já conquistados. Da mesma forma, amando o que faz, o médico conseguirá entender que não possui o dom de curar, mas que pode auxiliar o doente a encontrar o equilíbrio íntimo, ao mesmo tempo em que ambos recolhem da vida novas lições.
Respeitando nossas aquisições passadas aprenderemos a amar nossas vocações e poderemos então caminhar nesta direção, objetivando experimentar um pouco da felicidade relativa, possível de se vivenciada no planeta em que residimos.
Frei Felipe
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