quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Porque os livros espíritas andam tão ruins?

A literatura espírita tem feito despontar alguns questionamentos muito oportunos entre os companheiros espíritas mais lúcidos, que realmente aprofundam as reflexões sem a intenção de apenas criticar (destruir) algo. Um dos questionamentos mais frequentes é com relação a qualidade da escrita dos espíritos, e aqui começa a confusão.

Precisamos em primeiro lugar compreender que nem todo espírito é espírita, diriamos mais, apesar de desencarnados a minoria desses espíritos professa os conceitos e enunciados defendidos pela doutrina de Allan Kardec. Um número um pouco maior se alinha com os conceitos espiritualistas, que são mais amplos, mas a imensa maioria dos espíritos não é espírita, continuam seguindo as inclinações que possuiam enquanto encarnados. Desfeito esse primeiro equívoco, que visa estimular o leitor a reconhecer, ou procurar meios de fazê-lo, o livro espírito através de seu conteúdo, podemos dar continuidade a nossa reflexão.

Uma segunda questão, de análise um pouco mais complexa, é a questão da autoria espiritual. Como é possível que famosos escritores do passado tenham desaprendido a escrever? Porque a qualidade das narrativas, por vezes, tende a níveis pífios quanto a construção dos personagens, descrições de ambientes, estados psicológicos, etc? Será que esses autores espirituais desaprenderam a escrever? Essas indagações nos fazem refletir sobre outras questões, não menos complexas. Essa é a grande questão do Espiritismo, não afirmar verdade, mas provocar a reflexão, análisar o contexto dos fatos.

Um espírito, que quando encarnado fosse tido por um erudito no campo das letras é fácilmente reconhecido por seus fãs através da análise de suas características de escrita. Esse é um primeiro ponto que deve ser levado em conta. Temos evidências nesse sentido analisando a obra? O espírito desencarnado ele não iria desapreender a escrever, pode haver uma mudança de estilo, como acontece tantas vezes entre escritores e pintores, que passam por novas fases de inspiração e temas. Isso é perfeitamente aceitável, o seria em vida, porque não em morte, já que a vida prossegue seu curso do lado de lá? Porém, como explicar que espíritos conhecidos no meio espírita, escrevam com diferentes intermediários e não consigamos encontrar essas tais características literárias? E pior ainda, as vezes, os médiuns sabedores disso ainda justificam essa falta de talento pelo progresso que o espírito haveria alcançado no mundo espiritual. Aí um pouco de exagero e ingenuidade das partes, quando não houver completa cegueira dos envolvidos ao afirmar algo assim. Pois, nenhuma criatura que soube escrever com maestria, que dava vida aos seus personagens nos fazendo suspirar a cada página será fadado a completa falta de talento que vemos por aí desfilando nas páginas “psicografadas”. Outros questionamentos se impõem nessa situação.

Ao invés de expor-se dessa forma, seria prudente ao médium que se protegesse por detrás de um nome desconhecido. Qual a necessidade de se autoafirmar com uma assinatura conhecida no meio espírita? Antes de se enaltecer atrai para si críticas e desconfiança. O médium deve estar muito seguro do que faz nesse aspecto. Se a falta de talento não advém do escritor desencarnados que desaprendeu a escrever de onde provêm? Não devemos condenar o médium, pois sabemos que o processo de escrita mediunica é complexo e exige muito dos envolvidos e nem todos os participantes conseguem alcançar o nível que as mentes mais críticas considerariam adequado em uma avaliação literária. Cabe ao intermediário dos espíritos se preparar melhor, estudar, ler, aprender a escrever, pois psicografar não é apenas escolher uma dia e hora e sentar com um lápis na mão. É um estado constante de dedicação e aprimoramento. E em tempos onde impera a mediunidade intuitiva e inspirada, com a participação maior dos médiuns em fenômenos conscientes, cresce a responsabilidade no processo da escrita.

Podemos ainda levantar a questão econômica, pois o livro rotulado espírita é um interessante produto para o mercado editorial. A sanha por novas publicações faz crescer os equívocos. Livros não espíritas são vendidos com esse rótulo, autores que passam distante dos conceitos mais básicos da Doutrina dos Espíritos enchem de livros as bibliotecas dos centros espíritas. E onde está o responsável? É a editora, o médium, ou o espírito? É o leitor que não está capacitado para fazer uma analise mais profunda do material que tem em mãos, são os agrupamentos espíritas que não capacitam seus adeptos a uma visão reflexiva daquilo que escutam, é por último uma falência geral do Espiritismo em sua capacidade de esclarecer sendo mal explorada. As pessoas temem o questinamento, a dúvida. Ainda vivemos presos aos hábitos de aceitar toda opinião como verdade, sem reflexão, sem nos dar ao direito de pensar diferente. E o Espiritismo bem compreendido é exatamente isso, nunca se falou em Espiritismo que todos deveriamos pensar exatamente da mesma forma. Isso é um absurdo! Um retrocesso! Esses são alguns dos fatores responsáveis que podemos facilmente citar.

E porque existem obras fantásticas melhor construídas do que livros espíritas que deveriam refletir fatos reais do passado?

Tudo é uma questão de gosto, um autor não muda simplesmente por ter desencarnado. Já devem ter lido J. W. Rochester com a medium russa Wera K., pois bem, ao mesmo tempo em que obras ganharam prêmio pela excelência em retratar o contexto de sociedade antigas, inclusive obras condecoradas em academias de ciências, ele dedicou várias obras ao ocultismo e história fantásticas. Se tratava do mesmo médium e o do mesmo espírito, é possível perceber caracteristicas de sua literatura nas obras de ambos estilos. Qual a resposta para isso? Ele simplesmente gostava de escrever sobre esse tipo de tema. É um retrocesso? Não, longe disso. Rochester, através de Wera Krijanoviskaia é uma das melhores representações do fenômenos mediúnico que já tivemos, seus romances são muito bem construídos na questão do envolvimento do leitor com a história. São todas as suas obras espíritas? Não, mas não significa que sejam de má qualidade. Ou estamos aqui fazendo proselitismo e afirmando que apenas o Espiritismo salva o espírito humano?

A mesma coisa deve ocorrer com o autor de histórias fantásticas, eles são bons no que fazem, e a prática leva a perfeição em qualquer campo de atividades humanas, desencarnados certamente vão buscar seus afins para seguir inspirando outros a fazer o que gostam. Eles reencarnam, seguem na literatura, mudam um pouco de estilo, convivem em outras sociedade com novos valores, demoram a encontrar aquilo onde realmente se sentem confortáveis, onde tem talento, mas tendem a manter a essência de seus gostos. As mudanças na personalidade humana são muito mais lentas do que supomos, e salvo raros choques emocionais, tendemos a ter nossas experiências não muito distantes de nossa identificação mais íntima.


Deixemos as histórias fantasticas de lado, citemos, por exemplo, o marquês de Sade, e suas histórias eróticas, a riqueza de detalhes desse genero de autores, por vezes, pode ser classifica como fantástica, a descrição da sanha sexual de seus personagens nos descrevem seres que parecem se materializar diante de nós através da força do pensamento do leitor. Como se os personagens ganhassem vida antes nossos olhos. Não deixam de ter talento pelo fato de se dedicarem a uma literatura menos nobre. Agora imagine que esses autores, vão desencarnar e reencarnar inumeras vezes, vão amadurecer aos poucos, bem lentamente mesmo, inspirando uns aos outros durante todo esse processo. Chegará um dia em que fatigados mudarão de tema, terão saturado suas próprias forças e necessitarão, sentirão um anseio incontrolável por uma mudança de ares. Talvez fiquem algumas existências encarnando entre analfabetos, impondo uma limitação a si mesmos, com medo de recair em velhos erros. Até que mais seguros de suas próprias vontades, poderão, quem sabe, se dedicar ao uma forma mais elevada de literatura, talvez a literatura fantástica, ou seja o que for. Podemos inspirar o bem de muitas formas, mesmo através dos contos de fada, e na situação que abordamos seria um enorme progresso para o espírito em questão. Esses espíritos trarão consigo todo o talento lapidado ao longo do tempo, mais maduro e equilibrado, pois ao ser humano só resta progredir.

Aos médiuns das más obras de hoje em dia só resta melhorar, pois é isso que o futuro nos lega, nesse aspecto não temos alternativas. De tanto praticar o escritor medíocre de hoje será o mestre de amanhã, com suas prórias características e estilos. Ainda lembro quando comecei a escrever a obra “ Do século das Luzes” em que ouvia ao meu lado um paciente professor que me pedia para desenvolver melhor os personagens e tentar viver o ambiente que descrevia para dar vida a narrativa. Estamos todos aprendendo.

Leiam, sem dúvida uma de nossas melhores alternativas.

Um comentário:

  1. Não sei se estão ruins. Em verdade há anos que li o meu primeiro livro espírita e tive a s:orte de ter começado com André Luis por Chico Xavier. E hoje lendo Infância e Mediunidade de um autor que lançou seu primeiro livro há pouco tempo (Rafael de Figueiredo) e no entanto estou fascinada com o conteúdo. Me surpreendi com o tanto que aprendi com este livro. Abordagem prática sobre muitos temas que vivenciamos na atualidade.
    Muito instrutivo.Adorando. Estou satisfeita com os autores de livros que tenho encontrado.

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