sábado, 4 de abril de 2009

A morte não é um Adeus


A crença religiosa que remete ao medo das punições eternas toda criatura que não se tornar um "Homem Santo" causam mais aflição do que consolo no momento da perda de um ser querido.
A razão, por mais acanhada, consegue constatar que a perfeição como a concebemos é inatingível sobre a Terra, mesmo aqueles que a pregam não a possuem.
Assim sendo, por efeito de vulgar raciocínio lógico, estaríamos todos após a morte condenados as aflições do sofrimento eterno. Porém, Deus não parece exigir tamanha perfeição por parte da criatura humana, seria cruel de sua parte exigir de nós algo que não estamos em condições de alcançar. Ele que sonda nossa intimidade sabe o móvel de todas as nossas ações. Não nos julga com a intolerância e a prepotência dos homens, que renegam suas próprias imperfeições ao esquecimento, mas não deixam de apontar as falhas alheias. Ouve nossos lamentos, nossas frustrações e anseios, tudo atenuando, confiando que nos dando repetidas oportunidades aprenderemos e poderemos ser pessoas melhores.
Não há condenação. Com a morte, a liberdade. A recapitulação dos erros cometidos, o planejamento de novas oportunidades de recomeço, o reencontro com afetos que até então considerávamos perdidos para sempre.
Eis que libertos movimentam-se conforme as possibilidades particulares de cada um, e, ao invés do enfraquecimento do afeto que sentem por aqueles que ficam, multiplicam esforços por nos fazer ter esperança em um novo reencontro. A morte não é um adeus. Não condena ninguém definitivamente. É o retorno a verdadeira vida, onde muitas de nossas mais atrozes dúvidas são esclarecidas. Apenas o corpo cansado tomba, o espírito recebe sua alforria.
Tenha certeza de que mesmo que não desconfie amigos invisíveis velam por ti e se fazem mais assíduos justamente nos momentos de maior dúvida e aflição. Elevai vosso pensamento em prece e confiai que Deus não desampara nenhum de seus filhos.


Rabelais

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