terça-feira, 14 de abril de 2009

Espiritismo, a fé coordenada pela razão

Por sua falta de esclarecimento e de conhecimento dos aspectos morais e principalmente espirituais, o ser humano tende a dificultar a compreensão de qualquer idéia diferente das suas próprias convicções, sejam elas novas idéias ou simplesmente velhas idéias que estejam sendo analisadas sobre um enfoque diferente. E terminam por prejudicar a assimilação de novos conhecimentos no meio em que estão inseridos.
Com Kardec e a codificação espírita tivemos os problemas peculiares da falta de compreensão da maioria dos indivíduos em contato com o novo. Jesus passou por problema idêntico, em escala maior, ao divulgar a Boa Nova, culminando no fato de que a razão cedeu lugar à violência, ocasionando o sacrifício dos que pensassem diferentemente das concepções dominantes na época. A violência é o instrumento dos espíritos vencidos pela razão.
As pessoas temem tudo que lhes é desconhecido. Desejam ardentemente um mundo melhor, mas quando surge esta possibilidade através da renovação de idéias, rechaçam-nas sem dar chance alguma, com medo de serem ludibriadas. Quando as oportunidades aparecem e exigem alguma mudança, tende-se a uma atitude comodista de mínimo esforço, permanecendo-se estagnados.
Na Idade Média, os indivíduos considerados diferentes por suas idéias eram considerados hereges, e sem nenhum direito de defesa, eram queimados nas fogueiras para a salvação de suas almas, juntamente com suas idéias inovadoras. Este tipo de atitude que era comum antigamente está simbolicamente presente nos dias de hoje. Não condiz com as possibilidades culturais que estão à disposição dos espíritos encarnados em nosso tempo, mas ainda nos resta muito daquele velho e condenável hábito.
Quando surge uma nova idéia, primeiro analisamos o autor e seu currículo, julgando o livro pela capa. Depois, no caso do autor não ser aclamado, já o enxergamos com descrédito, algumas vezes ridicularizando-o. E daí por diante, fechamos nossos olhos e com eles a razão a qualquer fundamento lógico que aquela nova idéia pudesse ter.
Durante a Idade Média tínhamos a desculpa de que poderíamos ser enfeitiçados pelos hereges com suas idéias satânicas e dessa forma não escutávamos o que eles nos diziam. Mas e hoje? Que justificativa podemos utilizar? Nosso ceticismo científico não pode mais justificar suas intransigências por medo de bruxaria.
Nos dias atuais, os grandes pensadores da humanidade são fortemente subjugados pelo poder material. Universidades, centros tecnológicos, grandes corporações empresariais e governos comandam o mercado de patentes de novas teorias e inventos. A ciência (chamamos aqui ciência, tudo que diga respeito ao desenvolvimento de ideias) é por demais dirigida pelo poder econômico. Por este motivo, quaisquer novidades que venham a fugir dos interesses dominantes são rapidamente colocadas de lado. Os livres pensadores, que apresentam intimamente um senso social, são os maiores colaboradores do progresso humano.
A mesquinhez do ser humano engaveta projetos e mais projetos úteis à melhoria das condições de subsistência dos mais humildes por não enxergar neles o lucro almejado. Encontramos-nos ainda muito envolvidos pelo egoísmo, impedindo o progresso de toda a sociedade.
Analisando o surgimento de novas ideias sob um ponto de vista espírita, ressaltamos que o magnetismo daquele que expunha seus pensamentos muitas vezes motivava a adoção de suas convicções. Jesus era dotado de intenso magnetismo. Com sua elevada capacidade de magnetização, envolvia aqueles que lhe escutavam e que, de alguma forma, afinavam suas aspirações com as dele, driblando assim as barreiras impostas pelo preconceito. Observamos as idéias de Jesus sendo facilmente aceitas pelos mais humildes, que sintonizavam no mesmo ideal de vida futura.
Todos nós possuímos essa inclinação de aceitar antes as palavras proferidas por um do que por outro indivíduo, mesmo que ambos digam exatamente a mesma coisa. É a influência do magnetismo e de nossa afinidade espiritual, aquela empatia que algumas vezes nos envolve sem nos apercebermos.
Devemos nos despir de nossos preconceitos e lembrar que os grandes pensadores da humanidade não foram bem entendidos em seu tempo. Nosso maior exemplo é Jesus. Suas ideias ainda hoje custam a ser compreendidas. Aportamos em uma época em que não há sentido temer o que não compreendemos. Ninguém é portador da onisciência. Deus é uno. É necessário que sejamos mais humildes e venhamos a dar oportunidades para que as mudanças que almejamos aconteçam.
Que cada um de nós, antes de fechar a porta para algo que entre em choque com nossas convicções, dê oportunidade para essas novas idéias se desenvolverem. Se forem falsas, perecerão por seus próprios argumentos, e no caso de assumirem o status de realidade, então, nada que fizermos irá detê-las. E será muito mais fácil se não formos nós aqueles obstáculos a serem varridos por elas.
Espiritismo, a fé coordenada pela razão, e não a razão imposta pela fé.

John
(Rafael de Figueiredo / espírito John - publicado na revista Delfos: Ano IX, edição 01 - nº33)

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