Algumas pessoas ainda fazem questionamentos sobre essa idéia que apareceu no Movimento Espírita sem apresentar nenhum argumento racional que fosse. Deixo para os leitores um texto escrito por Richard Simonetti, que leu a obra original, e respondeu as principais dúvidas que ainda persistem sobre a questão. Esta entrevista foi publicada na Revista Internacional de Espiritismo em junho de 2007.
Abaixo o artigo:
Crianças índigo
Richard Simonetti
1 – Fala-se muito, na atualidade, das crianças índigo. Quem são?
Segundo a norte-americana Nancy Ann Tappe, que se diz dotada de visão mediúnica, constituem uma geração de Espíritos enviados por Deus para grandiosa missão em favor da renovação da Humanidade. Afirma que essas crianças têm uma aura azul. A partir daí formaram-se grupos de pessoas que, aderindo à idéia, identificam esses “missionários” por um padrão de comportamento.
2 – Constituiriam a nova geração, de que fala Allan Kardec, em A Gênese?
Pode ser uma nova geração, mas longe do idealizado por Kardec. Diria uma geração de Espíritos perturbados, dotados de razoável desenvolvimento intelectual, mas um subdesenvolvimento moral, comprometidos com graves desvios de existências anteriores.
3 – O que o leva a essa conclusão?
Sua índole está longe do que se espera de Espíritos mais evoluídos.
Segundo Lee Carroll e Jan Tober, escritores americanos, autores do livro Crianças Índigo, elas se sentem e agem como nobres, experimentam dificuldade para lidar com a autoridade, têm graves problemas de relacionamento, tendem ao isolamento, detestam a disciplina e assumem posturas que contrariam elementares princípios de civilidade.
4 – Esse padrão de comportamento aproxima-se do sul-coreano que matou 32 pessoas numa escola, nos Estados Unidos. Teria sido uma criança índigo?
Com a palavra a própria Nancy, em entrevista transcrita no livro: todas as crianças que mataram colegas da escola, ou os próprios pais com as quais pude ter contato, eram índigo. E acrescenta: Trata-se de um novo conceito de sobrevivência. Todos nós possuíamos esse mesmo tipo de pensamento macabro, quando crianças, mas tínhamos medo de colocá-lo em prática. Já os índigos não têm esse tipo de medo. Espantoso e assustador que se credite a esses Espíritos a missão de renovar a Humanidade!
5 – E sob o ponto de vista médico, como são encarados os índigos?
As conclusões de psicólogos não são nada favoráveis. Quase todos os índigos sofrem de TDAH, Transtorno de Deficiência de Atenção com Hiperatividade. Sintomas: são desorganizados, comportamento indisciplinado; têm dificuldade para fixar atenção na escola; são extremamente inquietos; não se dão bem no casamento, incapazes de um relacionamento estável.
6 – Há relatos sobre crianças índigo no livro?
Vários. Num deles a experiência de uma senhora que surpreendentemente se diz orgulhosa do filho índigo que, dentre outras façanhas, não ia bem na escola, brigava com professores e colegas, saiu de casa para morar sozinho aos quinze anos, roubou o carro do pai de um amigo e uma imagem numa igreja. Esteve preso por um ano. Depois foi novamente preso por dirigir perigosamente, provocar acidente, não pagar multas.
7 – Há muitos índigos entre nós?
Segundo Nancy, noventa por cento das crianças com menos de 10 anos, na atualidade, são índigo, o que explicaria a conturbação no Mundo, a dificuldade de relacionamento no lar, a indisciplina, os vícios, os crimes, o descalabro da sociedade.
8 – Como justificar o sucesso do livro e a formação de uma corrente de opinião, no meio espírita, situando essas crianças como autênticos missionários?
Tenho a impressão de que esses confrades não se deram ao trabalho de ler o livro, aderindo a uma fantasia, a começar pela maneira como seriam identificados esses “missionários”. A aura azul é própria de Espíritos pacificados e pacificadores, bem longe do comportamento inquieto e conturbador dos desajustados índigos.
FONTE
*Revista Internacional de Espiritismo. Junho 2007
*Texto publicado posteriormente na Folha Espírita – Órgão de divulgação da Associação Médico Espírita.
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