Através dos estudos e observações tenho elaborado mentalmente o que até o momento tenho por um modelo ideal de centro espírita. Tenho presenciado tantos desvios, falta de orientação e misticismo que muitas vezes me pego entristecido por conseguir perceber que a história se repete, e o Espiritismo está tomando o rumo de uma religião instituída. E como toda religião instituída, tende ao engessamento e atraso com o passar do tempo. Não quero entrar na análise desses fatos, basta um pouco de observação para constatar o mesmo.
Do modo que entendo o centro espírita, ele deveria ser um núcleo de transformação moral, a instrução e a caridade seriam os instrumentos para essa transformação. Porém, não creio em Espiritismo sem falar de revolução a nível íntimo, mudança de comportamento. O Centro Espírita deveria manter o foco nessa questão e deixar de lado, fim dos tempos, crianças especiais e outras questões recorrentes que surgem com nova roupagem de tempos em tempos para a satisfação daqueles que exploram esses temas comercialmente, mas nada acrescentam no progresso individual. Não existe progresso sem trabalho.
O Centro Espírita deveria ser um local acolhedor, e para tanto, invariavelmente deveria ter proporções reduzidas, estimulando o intimismo e facilitando a relação entre os membros do grupo. É preciso empatia, a única forma de qualquer atividade social transcorrer com harmonia e alcançar resultados positivos com eficiência.
O primeiro aspecto na dinâmica de acolhimento dos frequentadores do centro deve ser uma explanação oral, sabemos que as pessoas não encontram espaço na sua vida atribulada para o estudo e a reflexão. A palestra, aula ou explanação, como queiram, deve esclarecer, fornecer subsídios para que o ouvinte sinta-se capaz de encontrar respostas em si mesmo. O Espiritismo deve sempre estimular a liberdade e jamais aguilhoar o frequentador a suas práticas e frequência obrigatória. A diferença de opinião é outra questão que precisa ser respeitada, pois se há aquele que pensa diferente é porque Deus assim o quis para que aprendêssemos uns com os outros, e, quando nosso companheiro estiver equivocado ter paciência e ser tolerante para com ele. Claro que tudo dentro do bom senso, não precisamos aceitar excentricidades e situações que sejam contrárias às questões mais básicas da Doutrina Espírita.
A palestra é o principal instrumento que temos para colocar todos os presentes em sintonia com os amigos espirituais, o simples fato do frequentador ter alguns minutos para a reflexão e a prece já age sobre ele como um bálsamo. E com isso fica desnecessário os procedimentos fluidoterápicos, vulgarmente reduzido ao “passe”. Atualmente as pessoas vão ao centro espírita para tomar um “passe”, mas não se dão conta que a palestra que os estimula ao bem é muito mais importante e que todos são atendidos naquele momento. Estranho que as pessoas consideram doentes aqueles que vão a farmácia e se automedicam mesmo sem doenças, são conhecidos como hipocondríacos, mas com relação ao tratamento fluidoterápico não pensam da mesma forma. É quase como a vitamina C, tomam, pois previne os problemas. Quando na verdade o que previne os problemas é a sanidade mental, a mudança de comportamento, substituindo vícios por hábitos mais saudáveis. Infelizmente continuamos com o velho conceito de mínimo esforço, supondo que os outros possam resolver nossos próprios problemas.
O que muitos centros chamam de desobssessão e praticado na presença do visitante poderia muito bem ser substituído por alguns minutos de leitura de textos específicos que estimulem a renovação moral, o perdão, a paciência ou a resignação, por exemplo. Tanto o frequentador em tratamento quanto o acompanhante espiritual estaria sendo preparado para um posterior diálogo com os orientadores espirituais, mas há quem prefira chamar a atenção com manifestações mediúnicas na frente de pessoas despreparadas ou adotar gestos que mais lembram os mágicos de outrora, alimentando uma falsa visão do Espiritismo com crenças supersticiosas e nada úteis.
Se uma pessoa chega no centro espírita exercitemos a caridade, emprestemos nosso ouvido, aconselhemos com responsabilidade se tivermos condições de fazê-lo. E se nos faltarem maiores possibilidades oremos por aqueles que chegam até nós pedindo ajuda. Precisamos aprender a assumir as responsabilidades de nossas palavras e orientações e não se esconder atrás da mediunidade. Óbvio que junto de nós haverá amigos desencarnados nos sustentando naquilo que tivermos necessidade, mas isso não nos exime do estudo e da dedicação, que se tem visto bastante distante no concernente a mediunidade. Não são poucos os “médiuns” que preferem fechar os olhos e dizer a primeira coisa que lhes veem a cabeça do que abrir um livro e refletir. O mais triste, é que as pessoas sem instrução veem isso como algo sobrenatural, capaz de lhes aliviar e como num passe de mágica mudar a vida de alguém. Nada na vida se consegue sem dedicação e trabalho.
Creio que os casos mais complexos podem ser levados a consulta mediúnica, efetuada com algum mecanismo de controle, afinal estamos tratando da vida das pessoas e não se pode ser leviano nessa questão. Se os espíritos indicarem tratamento fluidoterápico, através do emprego do magnetismo animal, que o façamos com propriedade. Estudemos o caso, sua patologia, a área orgânica que afeta, as reações que a enfermidade pode provocar, e tenhamos após o estudo um planejamento para atender ao tratamento do doente. Isso é Espiritismo, estudo, seriedade, dedicação e não simplesmente achismos e superstição.
É preciso libertar as pessoas da ignorância e como seremos capazes de fazer isso se continuamos nos portando nos centros espíritas como o fazíamos diante dos feiticeiros na idade média? São raros os lúcidos trabalhadores que compreendem que fazer parte do centro espírita não é ajudar os outros, mas uma oportunidade de aprendizado sem igual para nós mesmos. Os espíritos não estão preocupados com o atendimento dos desencarnados, somente nossa soberba para pensar que o que fazemos não possa ser substituído pelos espíritos com muito mais qualidade. O centro espírita é uma escola. A questão fundamental é se concentrar nos encarnados, naqueles que estão distantes de compreender que Deus existe dentro de cada um deles e que está lá, silencioso, porém ativo, aguardando o despertar da criatura humana para uma renovação de comportamento.
Provavelmente minhas ideias vão mudar com o tempo, eu vou aprender mais, me desenvolver e algumas das questões que aqui tratei ficarão, senão obsoletas, ao menos poderão ser substituídas por outras melhores. Entretanto, isso faz parte do processo de compreensão das diferenças que falávamos antes, é preciso dedicação, em tudo que façamos, para que não nos sintamos, mais tarde culpados, por ter realizado algo do modo mais simplório quando podíamos ter feito melhor.
L.
04/04/2012
Através deste artigo só venho reforçar minha impressão a respeito do teu trabalho. Seriedade pura. Parabéns Rafael. Que sempre possas contar com a proteção destes teus amigos e que eles te tragam sempre esta inspiração dando-te força a nunca abandonar os teus princípios. Abraço Jaqueline
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