Um relato de Allan Kardec, constando na Revista Espírita de 1865:
O Sr. Delanne, que muitos de nossos leitores já conhecem, tem um filho com a idade de oito anos. Esse menino que ouve a cada instante falar de Espiritismo em sua família, e que freqüentemente assiste às reuniões dirigidas por seu pai e sua mãe, assim se achou
iniciado em boa hora na Doutrina, e, às vezes surpreende com a justeza com a qual raciocina os princípios. Isto nada tem de surpreendente, uma vez que é o eco das idéias nas quais foi embalado, também não é o objetivo desse artigo; o que o trouxe na matéria do fato que vamos reportar, é que tem seu propósito nas circunstâncias atuais.
As reuniões do Sr. Delanne são graves, sérias e mantidas com uma ordem perfeita, como devem ser todas aquelas às quais se quer fazer tirar frutos. Se bem que as comunicações escritas ali tenham o primeiro lugar, ocupa-se também acessoriamente, e a título de instrução complementar, de manifestações físicas e tiptológicas, mas como ensinamento, e jamais como objeto de curiosidade. Dirigidas com método e recolhimento, e sempre apoiadas em algumas explicações teóricas, estão nas condições desejadas para levar a convicção pela impressão que elas produzem. É em tais condições que as manifestações físicas são realmente úteis; elas falam ao Espírito e impõem silêncio à zombaria; sente-se em presença de um fenômeno do qual se entrevê a profundeza, e que
se afasta até da idéia do gracejo. Se essas espécies de manifestações, das quais se tem tanto abusado, tivessem sempre se apresentado dessa maneira, em lugar de ser como divertimento e pretexto de questões fúteis, a crítica não as teria taxado de malabarismos; infelizmente, freqüentemente, não se tem senão lhe dado ensejo.
O filho do Sr. Dalanne se associa freqüentemente a essas manifestações, e influenciado pelo bom exemplo, as considera como coisa séria.
Um dia se achava na casa de uma pessoa de seu conhecimento, jogavam no pátio da casa com sua pequena prima, com idade de cinco anos, dois pequemos garotos, um de sete anos outro de quatro. Uma senhora moradora no térreo, convidou-os a entrar em sua casa, e lhes deu bombons. As crianças, como delas se pensa bem, não se fizeram de rogadas.
Essa senhora disse ao filho do Sr. Delanne:
Como te chamas, meu filho?
- Resp. Eu me chamo Gabriel, senhora.
- Que faz teu pai?
- R. Senhora, meu pai é Espírita.
-Eu não conheço essa profissão.
- R. Mas, senhora, isso não é uma profissão; meu pai não é pago por isso; ele o faz com desinteresse e para fazer o bem aos homens.
- Meu homenzinho, não sei o que quereis dizer.
- R. Como! jamais ouvistes falar das mesas girantes?
– Pois bem, meu amigo, eu muito gostaria que teu pai viesse aqui para fazê-las girar.
- R. É inútil, senhora, tenho a força de fazê-las girar eu mesmo.
- Então, queres tentar, e me fazer ver como se procede?
- R. De bom grado, senhora.
Dito isto, sentou-se junto de uma mesinha de salão, e fez colocar seus três pequenos companheiros, e hei-los todos os quatro pousando seriamente suas mãos em cima. Gabriel fez uma evocação de um tom muito sério e com recolhimento; apenas terminou-a, com a grande estupefação da senhora e das crianças, a mesa se levantou e bateu com força.
- Perguntai, senhora, disse Gabriel, quem vem responder pela mesa.
- A vizinha interroga, e a mesa soletra as palavras: teu pai.
- Essa senhora torna-se pálida de emoção. Ela continua: Pois bem! meu pai, quereis me dizer se devo enviar a carta que acabo de escrever?
- A mesa respondeu: Sim, sem falta.
- Para me provar que és bem tu, meu bom pai, quem está aqui, gostaria que me dissésseis há quantos anos morrestes?
- A mesa bateu logo oito golpes bem acentuados. Era justo o número de anos.
- Gostarias de me dizer teu nome e o da cidade onde morreste?
- A mesa soletrou esses dois nomes.
As lágrimas jorraram dos olhos dessa senhora que não pôde continuar, tanto foi alterada por essa revelação e dominada pela emoção.
Seguramente, este fato desafia toda suspeição de preparação do instrumento, de idéia preconcebida, e de charlatanismo. Não se pode mais colocar os dois nomes soletrados à conta do acaso. Duvidamos muito que essa senhora teria recebido uma tal impressão numa das sessões dos Srs. Davenport, ou qualquer outro do mesmo gênero.
De resto, não é a primeira vez que a mediunidade se revela nas crianças, na intimidade das famílias. Não é isso o cumprimento desta palavra profética: Vossos filhos e vossas filhas profetizarão. (Atos dos Apóstolos, cap. II, v. 17.)
ALLAN KARDEC
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