Percebemos que as pessoas envolvidas em suas perturbações íntimas adotam costumeiramente duas possibilidades de entendimento para suas dificuldades. A primeira e prejudicial, é encarar seus problemas como uma injustiça do destino, obra a cargo da vontade de Deus. A segunda possibilidade é enfrentar seus medos de frente, se possível encarando-os como oportunidades de crescimento, e dividindo esse crescimento com aqueles que se encontram próximos de nós.
Uma das grandes dificuldades presente em todos nós é a dependência. Extremamente prejudicial a nossa tranqüilidade íntima.
Alguém que depende demasiadamente de outra pessoa, seja de ordem física ou moral (necessidade de aprovação), tende a abrir mão de sua personalidade para não se sentir desamparada. Crê-se incapaz de caminhar com as próprias pernas.
A sensação de solidão, o fato de sentirmo-nos ainda sozinhos no mundo, é uma característica inerente ao nosso atrasado estado evolutivo. Não conseguimos observar a obra de Deus que concorre para o nosso crescimento, nos amparando a cada instante, e por isso nos imaginamos fora do lugar onde acreditamos que deveríamos estar.
Jesus, o terapeuta maior, nos mostrou esta característica humana, quando teve também seu momento de incertezas (Pai porque me abandonastes?). Não que Jesus apresentasse está dúvida, mas ele na condição de espírito encarnado, demonstrava ali, naquela atitude, para todos que conseguissem perceber, sua proximidade com os demais seres humanos. Deixava claro, que estava ele na Terra sob a condição humana para demonstrar que tudo que vivenciava era também possível de ser alcançado por nós, espíritos mais atrasados. Alertando aos seres que a paz de espírito era também possível a todos, se seguíssemos seus exemplos, se iniciássemos a nossa busca pessoal e intransferível.
A solidão, que nos faz por vezes imaginarmo-nos abandonados, sem rumo, provoca-nos a insegurança. Tornando-nos demasiadamente dependentes. Essa insegurança nos acarreta sofrimentos atrozes. Por diversas vezes buscamos sufocar a nós mesmos, nossos ideais, nossas expectativas, nossas esperanças para o desenrolar da vida. Tudo para não nos sentirmos desprotegidos e desamparados daqueles em quem excessivamente nos escoramos.
Convencionemos para melhor exemplificação a imagem de um relacionamento, dividido por um individuo orgulhoso e egoísta de um lado, e de um indivíduo inseguro e dependente de outro lado.
Aquele que se sente inseguro e, portanto dependente da aprovação do outro na busca de uma sensação de conforto, insuflaria a vaidade e o egoísmo de seu companheiro por demonstrar-se muito apegado a sua pessoa. Já o indivíduo orgulhoso (vaidade é muito semelhante ao orgulho) tornar-se-ia, pela excessiva valorização por parte do companheiro, um indivíduo a cada dia mais egoísta, crendo-se possuidor de qualidades superiores que em realidade não possuiria. Ambos abasteceriam suas imperfeições mutuamente. Até o instante em que a convivência tornar-se-ia insuportável, e ruindo o relacionamento se lhes descortinaria um novo panorama.
Mesmo observando uma situação como a acima descrita, podemos perceber a inteligência divina atuando. Os dois companheiros exercitariam no convívio diário as desilusões e exigências de uma relação de dependência mútua. A cada dia teriam, nas novas situações, oportunidades para aprender com os próprios erros, os desenganos seriam as ferramentas que possibilitariam o descortinar de uma nova visão íntima na busca do equilíbrio existencial.
A dependência nos torna seres inseguros diante da vida. Apego demasiado a familiares e amigos, dogmas e situações, nos limitam a verdadeira compreensão da vida. Lidar com estes apegos é algo de extrema dificuldade, e ninguém imaginaria que pudesse ser diferente. Somente através de um processo natural de harmonização com a vida, processo este de descoberta interior, poderá o espírito compreender que todos possuem a mesma origem. Pertencemos todos a uma mesma família. Se a vida não finda com a morte do corpo, então certamente estaremos sempre ligados uns aos outros pelos estreitos laços de afeição ou ódio que cultivarmos.
Todos nós já desencarnamos e reencarnamos por diversas oportunidades, não recordamos na maioria das vezes é verdade, mas já o fizemos. Segundo esse pensamento já sentimos a perda de entes queridos em diversas outras ocasiões, assim como também já fizemos com que outros lastimassem a nossa passagem de plano. Nos encontramos, cada um de nós, em momentos muito particulares na escalada evolutiva. E isso faz com que por diversas vezes venhamos a necessitar seguir por caminhos diferentes dos daquelas pessoas aos quais nos afeiçoamos. Porém sem jamais estarmos distantes se a afeição que nos move for realmente sincera e ligada ao verdadeiro amor. Todos somos irmãos, se alguns momentaneamente distanciam-se de nossas vidas, outros se aproximam, porque nunca estamos totalmente sós. Somos seres de relação.
Admiramo-nos muito com a beleza da lei divina, que concorre para o perdão incondicional das dívidas do passado. Em grande parte das situações, aqueles seres por quem lastimamos hoje a partida, foram em existências recuadas um adversário a quem desejamos mal ou procuramos conduzir a ruína. Fatos como esses provam a nós todos, que o perdão é possível, que as dívidas podem ser resgatadas, e que o amor cobre a multidão dos pecados.
Mais uma vez a dependência, imperfeição do espírito que nos leva a insegurança e conseqüentemente ao sofrimento, surge esplendorosa como mais uma prova do amor de Deus por nós. É a lei harmoniosa da vida nos fornecendo recursos para o despertar de nossas consciências. Transformando os seres humanos em irmãos pelas vias solidárias da dor.
São Leopoldo, 28 de abril de 2004.
Josefina